Luca de Meo deixa Renault e assume comando da dona da Gucci
Plano de recuperação iniciado em 2020 virou referência na indústria e mudou a estratégia e a situação financeira da Renault

Luca de Meo, CEO da Renault desde 2020, pediu demissão e anunciou que assumirá o comando do grupo de luxo Kering, donos de marcas como Gucci, Balenciaga e Saint Laurent, a partir de setembro.

A saída acontece em meio a um momento de reestruturação profunda da montadora francesa, com impactos diretos em sua linha de produtos, estrutura financeira e posicionamento global. Sob o comando de De Meo, a Renault deixou para trás anos de resultados financeiros negativos e iniciou uma virada que hoje é considerada referência no setor, sendo acompanhada de perto por outras fabricantes europeias que enfrentam desafios semelhantes.
Quando assumiu o cargo, em julho de 2020, De Meo buscou por um plano de recuperação que atualmente é uma referência no setor. Foi responsável por colocar fim à era de busca cega por volume de vendas, herdada da gestão Carlos Ghosn, que priorizava crescimento a qualquer custo, mesmo com margens cada vez mais apertadas.
A resposta de De Meo foi rápida e cirúrgica: ele implementou o plano estratégico, que mudou o foco de quantidade para qualidade. Em vez de buscar liderança em participação de mercado a qualquer custo, a montadora passou a privilegiar margens melhores por veículo, redução de custos fixos e maior equilíbrio entre produção e demanda real, além de reforçar o desenvolvimento de produtos mais alinhados às novas demandas de eletrificação.
Isto ainda está sendo aplicado no Brasil. Durante a sua gestão, a Renault cancelou os planos de uma nova geração de Sandero e Logan, que já estavam em desenvolvimento, para apostar em um novo modelo com um padrão próximo da Europa, o Kardian. O segundo carro desta estratégia será o Boreal, que será lançado em julho. Na época, De Meo afirmou que todos os mercados onde a Renault estava mereciam um carro com a qualidade vista no mercado europeu.

Além disso, ele promoveu um reposicionamento das principais submarcas do grupo. A Alpine foi destinada a uma divisão esportiva que tem como foco a eletrificação nos veículos de alta performance. Durante sua gestão, ele também criou a Ampere, uma unidade independente que está dedicada exclusivamente ao desenvolvimento e produção de veículos elétricos e softwares automotivos, com direito a uma abertura de capital na bolsa de valores.
Ele também conseguiu aliviar a tensão histórica que existia com a Nissan. Os dois grupos renegociaram os termos da parceria, diluindo as participações acionárias cruzadas e abrindo caminho para uma governança mais equilibrada e menos dependente de pressões políticas e corporativas.