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Jeremy Clarkson: sem motorzão V8, Mercedes Classe G perde o sentido

A Mercedes atualizou o Classe G para mantê-lo em produção. Mas não precisava trocar o motor V8 por um seis-cilindros diesel

Por Jeremy Clarkson
2 jun 2020, 07h00
Mercedes-Benz@Hochgurgl 2018Mercedes-Benz@Hochgurgl 2018
A aerodinâmica é ruim, mas a posição de dirigir é muito boa (Divulgação/Mercedes-Benz)

O enorme órgão Henry Willis do Royal Albert Hall, em Londres, tem 147 paradas e um espantoso conjunto de 9.999 tubos.

É um colosso. Uma explosão de decibéis. Imagine, então, todos os rostos decepcionados no teatro se alguém decidisse trocá-lo por um simpático piano vertical.

Bom, foi isso que a Mercedes fez com o G-wagen. Tirou o acelerador de partículas que ele tinha sob o capô e colocou uma flautinha no lugar.

Foi um ato de coragem da Mercedes não apenas manter o G-wagen em produção, mas também decidir, ao longo dos anos, que ele deveria ser suavemente atualizado e equipado com todo tipo de novidade que as versões anteriores não tinham – como direção.

O que eu quero dizer é: por que você insistiria com um carro que simplesmente não tem lugar em um mundo cada vez mais ecológico?

E por que, tendo feito essa opção, decidiria que o único motor que iria oferecer seria um V8 biturbo com torque e potência suficientes para mover placas tectônicas?

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É difícil pensar em uma única coisa que esteja mais fora de sintonia com o pensamento atual. Mas eu acho que sei por que a Mercedes fez isso. Porque há clientes suficientes ao redor do mundo que sempre vão querer um veículo off-road bem grande e bem chamativo.

Essas pessoas compravam Humvees e, antes disso, Jeep Wranglers com águias pintadas no capô.

Eu acho que o Mercedes-AMG G 63 V8 biturbo é um carro maravilhoso e hilariante, e disse isso quando o testei no ano passado. Mas eu não acho que ele seria maravilhoso ou hilariante se você removesse sua razão de existir – aquele motor colossal – e o trocasse por uma unidade a diesel miserável.

Para que fazer isso? A única razão para se comprar um G-wagen é sua exuberância, e você não consegue isso de um diesel. O que você está dizendo sobre si mesmo? Que se importa com o planeta? Sério?

Então você comprou um tanque de 2,5 toneladas que funciona com um combustível que mata velhinhas em suas camas? Você poderia tentar ganhar corações e mentes do mesmo jeito promovendo um concurso mundial de estrangulamento de tartarugas.

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Não existe razão no mundo para a Mercedes ter equipado seu leviatã com um motor a diesel. Mas ela fez isso. E fica pior, porque é o mesmo motor seis-cilindros de 3 litros que você encontra nos modelos Classe E e Classe S.

Mercedes-Benz@Hochgurgl 2018Mercedes-Benz@Hochgurgl 2018
O painel de instrumentos é uma alegria para os olhos (Divulgação/Mercedes-Benz)

Exceto que, por razões não esclarecidas, ele foi “destunado” no G-wagen, e por isso é ainda menos potente. Em teoria, é claro, um motor “destunado” será mais econômico do que um que tenha sido levado ao limite.

Dito isso, o G 350 a diesel só consegue fazer 11 km/l, o que não é muito melhor do que o consumo do monstro AMG V8. Mas eu deixei o maior problema para o final. Ele custa – melhor você se sentar – mais de 96.000 libras.

Fiquei intrigado. Por isso decidi pedir um emprestado, para ver se conseguia descobrir o que parecia estar faltando no papel.

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Talvez ele tivesse o tipo de raio de giro que proprietários de um Triumph Herald jamais sonhariam. Mas não. Ele foi deixado estacionado de frente na entrada da minha garagem e eu tive de executar umas 6.000 manobras para girá-lo 180 graus.

E, quando seu GPS diz para fazer uma conversão em “U”, você vai precisar de um estacionamento deserto. E então eu peguei a estrada e, sim, o novo G-wagen é muito mais comportado do que os antigos, mas ainda tem um chassi tipo escada. E isso faz com que a suspensão trabalhe muito. Ele não desliza; joga como um barco.

Velocidade? É melhor do que eu esperava, levando em conta o motor e a dianteira com as propriedades aerodinâmicas da Biblioteca Britânica. Ele não é um carro rápido. E isso talvez seja bom, porque ele é alto, e provavelmente tombaria se você fizesse uma curva rápida.

E daí tem o porta-malas. A tampa abre para o lado, o que significa que no centro da cidade simplesmente você não vai conseguir abri-la.

Eu sei que a Mercedes não poderia ter colocado as dobradiças na parte de cima – ninguém seria alto o suficiente para fechá-la – mas por que não colocaram um sistema dividido dobrável, como no Range Rover? Não é um design patenteado.

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Fora da estrada? Bom, agora tem um monte de botões novos que podem ser apertados para ativar vários bloqueios de diferencial, e isso é excelente. Mas, quando experimentei o carro nos meus campos, tinha chovido sem parar por 11 semanas e o solo estava encharcado.

Em tais condições você pode ter quantos bloqueios de diferencial e reduzidas quiser que não irá a lugar algum, a não ser que tenha pneus de inverno adequados. E o G-wagen não tinha.

Mas, em sua defesa, meu Range Rover também deu vexame. Na verdade, agora que pensei nisso, ele já está atolado faz uma semana. Eu realmente deveria tentar tirá-lo de lá.

Agora vamos às coisas boas. O interior é muito bem trabalhado. Há um acabamento de madeira que realmente funciona e todo tipo de iluminação de discoteca para você se divertir quando estiver em um engarrafamento.

Além disso, o painel de instrumentos é uma alegria para os olhos e maravilhoso de usar. Ele pode não ser um carro de mais de 96.000 libras em qualquer outro aspecto, mas quando você está dentro, ele passa a sensação de que seu preço pode até ser justificável.

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Eu adorei a posição de dirigir. Sou alto quando estou a pé, e me parece justo e apropriado que eu fique alto quando estou na estrada também. Se você for baixinho, vai adorar. Vai poder até mesmo ver seus piscas.

Eu estou tentando ser justo aqui. Estou tentando encontrar os pontos positivos de um carro que, na verdade, não faz muito sentido. Tudo bem, um grande Range Rover também não faz muito sentido. Mas, sei lá, ele parece muito menos desnecessário que esse grande Benz. E também balança bem menos.

Eu estou feliz que a Mercedes tenha fabricado o Classe G. Estou feliz que ela pense que existem pessoas que irão à concessionária para comprar um e, no último momento, tenham uma crise de confiança e terminem por escolher a opção a diesel para que se sintam mais… o quê? Ecológicas?

Mas não acho que essas pessoas existam de verdade. Acho que, se está pensando em um carro desse tipo, você vai querer a trilha sonora completa e um pedal de acelerador que lhe permita pisar fundo.

Você vai querer a versão Henry Willis-AMG. E, se não for isso, vai querer algo completamente diferente.

Clarksômetro Mercedes G 350 d AMG Line
Motor: 2.925 cc, 6 cil., turbodiesel, 282 cv a 3.400 rpm, 61,1 kgfm a 1.200 rpm
Câmbio: automático, 9 marchas, tração 4×4
Peso: 2.453 kg
Desempenho: 0 a 100 km/h em 7,9 s; veloc. máx., 219 km/h
Preço: 96.180 libras (R$ 555.920)
Nota: 3 estrelas

Jeremy Clarkson: É jornalista, apresentador do programa The Grand Tour e celebridade amada pelos fãs e odiada por algumas marcas.

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