Feito entre o Brasil e a Índia, o novo Citroën C3 ainda não chegou ao mercado nacional (seu lançamento foi adiado para agosto), ao passo que já é vendido no país asiático. Há quem diga se tratar de razões de segurança: o modelo brasileiro vem sendo completamente redesenhado para oferecer maior proteção aos ocupantes; uma demanda regional que inclusive gerou atritos nos grupos oriundos de FCA e PSA.
No que os olhos veem, entretanto, não há tanta diferença assim. Ainda que ajustes sejam feitos para o gosto do consumidor brasileiro e indiano, observar o que o C3 da Índia oferece pode servir como um spoiler do que o consumidor brasileiro terá à disposição quando o modelo finalmente chegar às concessionárias.
Estilo do Citroën C3
Como QUATRO RODAS já adiantou, o Citroën C3 chegará ao Brasil em três versões: Live (básica), Feel e First Edition, de lançamento. A Índia tem à venda as duas primeiras, mas com motores três-cilindros 1.2 que anulam a comparação de performance do carro.
O que não deve mudar, porém, é o estilo bem chamativo do C3, que aposta em cores fortes e marcas registradas da montadora, como a dianteira e os degraus na porta da frente, a fim de se diferenciar da Peugeot e outras marcas da Stellantis.
A imprensa indiana é unânime ao reparar, de modo positivo, a semelhança entre o C3 e seu primo rico C5 Aircross. Assim como o SUV europeu, que foi responsável pela estreia da Citroën na Índia, o C3 tem DRLs em leds angulados, mas os faróis são sempre halógenos. Também há os chevrons da marca unidos à grade frontal.
Outro ponto de elogios comuns foi a combinação de cores, que podem chegar à três ao redor da carroceria. O conjunto de preto, laranja e branco — cor de lançamento na Índia — tem apelo jovial, que condiz com a proposta, no Brasil, de ser um dos carros mais baratos do mercado. Obviamente, aponta a imprensa oriental, isso vem com sacrifícios que comprometem a estética, como a oferta exclusiva de rodas com calotas.
Espaço interno do Citroën C3
Segundo dados oficiais, o Citroën C3 tem 2,54 m de entre-eixos, e o mesmo deve valer para o Brasil. É mais distância entre os eixos do que, por exemplo, o Fiat Pulse, e os periodistas indianos destacaram não apenas o espaço dos ocupantes como os 315 litros de porta-malas; mais do que o Hyundai HB20 oferece.
Confirmando a impressão das primeiras imagens oficiais, o C3 tem acabamento completamente plástico. De um lado, a opção do painel em tons de laranja, com central multimídia de 10’’ e acabamentos em laranja, reforça a proposta descolada do veículo, mas a qualidade deixa a desejar.
O Autocar até se surpreendeu com a qualidade dos materais, mas destacou partes “mal construídas” no interior. O Times Of India teve opiniões mais mistas e disse que a qualidade do plástico não apenas é inconsistente, como deixa visível o corte de custos no projeto. O Team-BHP já é mais pessimista, e afirma que a economia é, na verdade, “bem evidente”.
Dois pontos, entretanto, que foram unanimamente criticados pela imprensa indiana envolvem a segunda fileira: os vidros elétricos são comandados por botões que ficam no console central e não é possível ajustar os encostos de cabeça traseiros. O C3 brasileiro terá ajuste dos encostos, revelaram flagras.
Condução
Ainda que desconsideremos aspectos ligados ao propulsor do C3, é possível aproveitar aspectos da dinâmica veicular, ainda que o carro nacional tenha seu próprio acerto. Vários avaliadores destacaram que o “feijão com arroz” de McPherson (dianteira) e eixo de torção (traseira) se saiu melhor do que a média, aproveitando a expertise da Citroën no assunto.
Com 18 cm de vão livre, o compacto superou estradas que em nada devem ao Brasil. A rolagem da carroceria, entretanto, dividiu opiniões: houve quem elogiasse a estabilidade do modelo ao mesmo tempo que Sirish Chandran, editor do Evo India, criticou pesadamente esse aspecto.
“Na primeira vez que virei uma esquina com o C3, liguei para o assessor da marca a fim de conferir com a engenharia se o carro tem barras estabilizadoras”, escreveu na crítica. De fato ele tem tal recurso, mas a foto de uma curva em velocidade razoável, aponta Chandran, embasa sua opinião.
Independentemente dessas falhas, o público indiano parece ter adotado o Citroën C3 como uma oferta atraente, e já aposta em relativo sucesso do modelo no mercado local. Resta, a nós brasileiros, saber o que muda em relação ao outro lado do mundo (a existência de um mero par de airbags é uma das apostas) e, principalmente, contra quem o novo compacto concorrerá.
Lá fora, a briga é contra o Tata Punch, Nissan Magnite e o Renault Kiger. Aqui, versões de entrada lutarão contra o Renault Kwid (variante subcompacta do Kiger) e as mais caras podem ameaçar hatches consagrados do mercado, abrindo mão de espaço e performance em troca de estilo.