Grandes Brasileiros: VW Gol (2ª geração)
Na segunda geração, o Gol mostrou que reunia muitas virtudes e poucos defeitos para se manter líder de mercado
Poucos automóveis causaram tanto alvoroço no Brasil quanto o Chevrolet Corsa, no início de 1994. Filas de espera se formaram, disparando a cobrança do ágio.
O vice-presidente da GM, André Beer, apareceu em rede nacional pedindo calma: a produção do carrinho arredondado logo atenderia à demanda de um mercado saturado de linhas retas.
A GM não escondia seu alvo: lançado em 1980, o VW Gol beirava 1,4 milhão de unidades em 14 anos, ocupando a liderança por sete anos seguidos.
Sozinho, respondia por 60% das vendas da marca, já com deficiências de projeto e uma carroceria de estilo quadrado dos anos 80.
Para não perder essa supremacia, a VW investiu US$ 400 milhões na segunda geração do Gol, denominada AB9. Ele não seria atualizado só como produto: robôs passaram a ser adotados na fábrica de Taubaté (SP), o que permitiu diminuir as variações das medidas do novo carro.
Os primeiros protótipos foram vistos em 1992. Mesmo camuflados, já era possível prever a aerodinâmica testada no túnel de vento da matriz, com coeficiente de 0,34 graças às linhas arredondadas, frente em cunha e supressão dos quebra-ventos e calhas no teto.
Em meados de 1994, foi lançada a versão final. Era nítida a inspiração do Golf de terceira geração, como maçanetas, lanternas e faróis ovalados.
Também era perceptível o ganho em comprimento, largura e altura. Apelidado de Papa Corsa, o Gol renascia das cinzas.
A gênese do projeto foi uma pesquisa com os donos: todos apreciavam o desempenho, a robustez e a confiabilidade, mas criticavam o para-brisa muito próximo dos ocupantes, o banco traseiro apertado e o pequeno porta-malas, prejudicado pelo estepe na vertical. Finalizado em tempo recorde, o projeto levou 36 meses do modelo de argila ao carro final.
Conhecido como Bolinha, o novo Gol estreou como modelo 1995. A versão básica era a 1000i, com motor de 1 litro e comando de válvulas no bloco de origem Ford, fruto da joint venture Autolatina.
Acima, havia a CLi e a GLi com os tradicionais motores AP de 1,6 e 1,8 litro. Todos permaneciam na posição longitudinal e recebiam injeção eletrônica. O topo de linha era a GTi, com o mesmo AP 2.0 da primeira geração.
Os 11 cm a mais no entre-eixos resultaram em melhor espaço interno, mas o painel envolvente tipo cockpit não mascarava a rigidez dos plásticos e o volante deslocado à direita, herança do projeto original.
Para melhorar a segurança, o tanque de combustível estava à frente do eixo traseiro e o porta-malas saltava de 146 para 269 litros, graças ao estepe horizontal embutido no assoalho.
Mecanicamente, o Gol mostrava a garra de sempre: o câmbio mantinha engates curtos, precisos e macios, enquanto ganhava direção hidráulica como opcional.
A estabilidade melhorava com o novo eixo traseiro autoestabilizante: fazia curvas com segurança mesmo apoiado em três rodas. Faltou apenas o freio a disco ventilado, exclusivo do GTi.
Com apenas 50 000 km rodados, o GLi 1996 das fotos pertence ao advogado Fernando Marques. “Por ter sido fabricado em 1995, é possível ver o logotipo da Autolatina e da Ford nos vidros e em algumas peças”, diz.
Integrado à frota de Longa Duração, o Gol se mostrou rápido e confiável, mas o acabamento e a rede autorizada deixavam a desejar.
Ao fim do teste, a dificuldade de revenda derrubou o mito da liquidez no mercado, mas ainda assim a fábrica não atendia à demanda.
Ele chegou a ser importado da Argentina em 1998, quando a versão de quatro portas chegou ao mercado. Atualizado, o projeto AB9 também serviu de base para as gerações III (1999) e IV (2004).
Teste QUATRO RODAS – novembro de 1994
VW Gol GLi 1.8 (álcool) | |
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Aceleração de 0 a 100 km/h | 11,5 s |
Velocidade máxima | 178,9 km/h |
Consumo médio | 11,06 km/l |
Preço (outubro de 1994) | R$ 14.659 |
Preço (atualizado IPC-A / IBGE) | R$ 76.149 |
Ficha técnica
Motor | longitudinal, 4 cilindros em linha |
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Cilindrada | 1.781 cm³, 2 válvulas por cilindro, comando de válvulas simples no cabeçote, injeção eletrônica monoponto |
Potência | 90,6 cv a 5.500 rpm |
Torque | 14,3 mkgf a 3.500 rpm |
Câmbio | manual de 5 marchas, tração dianteira |
Dimensões | comprimento, 380 cm; largura, 159 cm; altura, 150 cm; entre-eixos, 247 cm |
Peso | 974 kg |
Pneus | 175/70 SR 13 radiais |