Eis um BMW que deveria ser o extrato de arrojo da marca, mas aparece como uma releitura diluída de uma fórmula exótica. Passaram-se oito anos até que a BMW respondesse ao então ousado Mercedes CLS. Sem acrescentar inovação à receita, o 640i é repleto de encantos, mas carece de uma virtude que o destaque da pecha de ser um CLS da BMW.
Em 2003, a Mercedes inventou uma opção que abria mão de parte da praticidade dos sedãs por uma aparência atrevida. O negócio frutificou, dando origem a A7 Sportback, VW CC e Porsche Panamera. O Gran Coupé revela uma presença protocolar nessa festa, mas a questão é: não é tarde demais? No ano passado, o CLS chegou à segunda geração e 147 unidades foram vendidas no Brasil. Ao mês, é menos da metade das vendas do Classe E.
Nenhum dos cupezões é o mais atraente, o mais esportivo, o mais luxuoso ou o mais confortável entre o leque de cada empresa. No caso do BMW, talvez seja o mais instigante – o que não basta.
Quase todo BMW é construído para agradar o piloto, e não é diferente com ele. A posição de guiar tem ingredientes nobres: volante vertical, assento rebaixado e ajustes precisos no banco e na coluna de direção. O competente isolamento acústico repete o esmero ergonômico,
separando o motorista do exterior. O problema é que o silêncio se estende ao volante, emudecido por filtros que eliminam quase todo o feedback do piso – incomum à direção falante dos BMW.
A boa ergonomia não se estende ao restante da cabine. Pegar um objeto no porta-luvas exige um salto sobre o console central. O seletor do iDrive está mais próximo do passageiro, assim como boa parte dos controles do som.
Grandalhão, o 640i sofreu contenções de peso e consumo. A carroceria tem peças de alumínio, o start-stop desliga o motor em paradas e o freio regenerativo recupera parte da energia desperdiçada durante as frenagens. O trunfo bávaro está na mecânica. Tem oito marchas e motor menor e mais forte que o do CLS 350, com 306 cv.