Guia de Usados: Ford Courier
A picapinha está defasada, mas ainda é ótima opção para quem busca um utilitário bom de carga e volante
Quando um fabricante apresenta um automóvel que se torna a referência do segmento, ele não dificulta apenas o trabalho da concorrência, mas também a própria sucessão do modelo. Há casos em que o produto é tão bom que nem deixa sucessor: é exemplo da Courier, a picapinha da Ford que saiu de linha em julho.
Ela nasceu em 1997, para encarar a picape Corsa e as defasadas Fiorino e Saveiro. De lá para cá, a Saveiro atravessou quatro gerações e Corsa e Fiorino foram substituídas por Montana e Strada. O tempo passou, mas a Courier continuou a mesma, sofrendo poucas alterações estéticas e mecânicas em 16 anos.
No começo havia duas opções de motor, separadas por um abismo tecnológico: a básica vinha com o antiquado Endura 1.3 (com parcos 60 cv e capacidade para 600 kg de carga), enquanto a CLX e a SI traziam o avançado Zetec 1.4, de alumínio, com duplo comando e 16 válvulas (89 cv para 700 kg de carga).
Sua única reestilização ocorreu em 2000 e trouxe suspensão traseira recalibrada e o motor Zetec Rocam 1.6 (com 95 cv e excelente torque em baixas rotações). Mais gostosa de dirigir, tinha agora as versões L (básica), XL e RS (esportiva). Todas traziam o protetor de caçamba como item de série. No ano seguinte, a RS cedia lugar à Sport, com suas rodas de liga, grade cromada e rack no teto. Outra novidade, apenas em 2006, com a versão Van: fez pouco sucesso, pois era só um baú de fibra sobre a caçamba, sem o prático acesso pela cabine – que há na Fiorino.
Sem mudanças por anos, atendeu a um público que fazia questão da caçamba mais extensa da categoria (1,81 metro). Outra virtude é o longo entre-eixos (2,83 metros), um dos responsáveis pelo rodar macio e estável, até hoje superior ao das rivais. Sem exagero: a Courier faz curvas como poucos. A flex veio em 2007 (107/96 cv), com calibração sempre privilegiando o torque em baixa, como convém a um utilitário, que vinha só em branco, preto, vermelho e prata. Na prática, ela cumpria tabela para atender à demanda de seu público. Com a chegada do New Fiesta, a Ford se viu obrigada a encerrar a produção da Courier em favor do hatch, mais rentável.
FUJA DA ROUBADA
A Courier nunca ofereceu ABS, portanto, evite-a se você faz questão desse equipamento. E prefira a versão XL, que já traz airbags, além de um pacote com direção, ar e grade protetora do vidro traseiro.
NÓS DISSEMOS Novembro de 2003
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“Há alguns pontos em que a picape é difícil de ser superada. Como no bom acerto de direção e suspensão. (…) Na versão L, a Courier vem sem direção hidráulica de série, mas nem por isso o mecanismo demanda força. pelo contrário, é leve e agrada pela rapidez nas respostas. E, em conjunto com a suspensão tipo Mcpherson na dianteira e lâmina de mola parabólica na traseira, proporciona curvas mais rápidas que as rivais. um handling que faz jus à tradição do irmão Fiesta. (…) Na versão L, a picape vem pelada. de série, mesmo, só a grade protetora do vidro traseiro, os vidros verdes, o protetor de caçamba e o brake-light.”
PREÇO DOS USADOS (EM MÉDIA) L
2005: 15 700
2006: 16 952
2007: 17 463
2008: 18 492
2009: 19 064
2010: 21 024
XL 2005: 18 682
2006: 19 319
2007: 20 839
2008: 21 987
2009: 24 103
2010: 24 891
PREÇO DAS PEÇAS Para-choque dianteiro Original: 430Paralelo: 270
Farol completo (cada um) Original: 265
Paralelo: 170
Disco de freio (par) Original: 390
Paralelo: 190
Retrovisor (cada um) Original: 343
Paralelo: 120
Pastilhas de freio (par) Original: 76
Paralelo: 98
PENSE TAMBÉM EM UMA… Fiat Strada
Se você busca menos capacidade de carga e mais versatilidade, a Strada é seu número. É a vedete do mercado porque soube como ninguém oferecer opções para todos os usos: três tipos de cabine (simples, estendida e dupla) e várias versões, quem agradam do frotista ao casal sem filhos. A mais simples é a Fire 1.4, dedicada a quem procura apenas um veículo de trabalho. A Trekking 1.4 vinha com mais equipamentos e a opção do motor 1.8, compartilhado ainda com a top Adventure, de visual off-road. Apesar das virtudes (como ABS e airbags do pacote High Safety Drive), não oferece a mesma estabilidade e conforto da Courier.
ONDE O BICHO PEGA
Suspensão traseira: A Courier é boa de carga, mas há quem abuse. Verifique altura da suspensão (as molas não devem estar cansadas), carga dos amortecedores e desalinhamento do eixo traseiro, que pode resultar em desgaste irregular dos pneus.
Válvula IAC: Nos motores Endura, é ela que controla a marcha lenta – daí seu nome (idle air control). Com o tempo, ocorre contaminação por óleo que vem do respiro do cárter e o motor não consegue sustentar a marcha lenta, morrendo sempre. A troca custa cerca de 500 reais.
Válvula antichama: É ela que apresenta o problema de retenção de óleo, que causa a contaminação da válvula IAC. Custa em média 20 reais e pode ser trocada em casa.
Embreagem: Toda Courier tem embreagem com acionamento hidráulico: dirija a picape e sinta os engates do câmbio, que devem ser suaves. Se houver resistência, o sistema hidráulico está contaminado com óleo ou com bolhas de ar, exigindo sangria. Se persistir, o cilindro mestre deverá ser trocado, ao custo médio de 500 reais.
Compressão dos cilindros: Fique atento à compressão dos cilindros do motor Zetec 1.4 16V. Por ser construído de alumínio, a Ford optou por fornecer o motor parcialmente montado para troca no caso do fim da vida útil. Há mecânicos que fazem a retífica, mas é difícil encontrar peças.
A VOZ DO DONO
“Ela suporta qualquer carga, no trabalho e no lazer: sacos de cimento, tijolos, areia e até motos. Pode carregar a caçamba que a suspensão não arria e o motor Rocam dá conta de puxar tudo. Excelente estabilidade aliada a um mínimo de comodidade: não dá dor de cabeça, é pau pra toda obra. Se a cabine fosse tão espaçosa quanto a caçamba, seria imbatível.”
Igor Patrão, 38 anos, empresário, São Bernardo do Campo (SP) O QUE EU ADORO
“O que mais agrada é o custo operacional. É boa para qualquer atividade profissional, com baixo consumo, manutenção fácil e conforto para quem passa o dia inteiro dirigindo.”
Diego Peixoto da Silva, 31 anos, empresário, Rio de Janeiro (RJ) O QUE EU ODEIO
“Não gosto do motor Endura: fraco e inadequado para uma picape com uma caçamba tão grande. A cabine é um tanto apertada, mesmo para quem não é tão alto.”
Alexandre Pacheco, 34 anos, diretor de competições, São Paulo (SP)