Hoje em dia, quase todos os desafios da indústria automotiva envolvem as baterias. Antes mesmo desses componentes nascerem, há questões relacionadas à disponibilidade de matéria-prima e aos danos sociais da mineração. Quando os carros elétricos começarem a envelhecer, o destino de acumuladores descartados será mais um problema (nada fácil) a ser resolvido.
No Brasil, já existem iniciativas de ponta em busca da solução. Uma delas é a Energy Source, startup do interior de São Paulo que, junto a universidades públicas, vem desenvolvendo métodos de reúso e reciclagem das baterias dos automóveis.
Por sorte, veículos mais antigos como o Bolt, de 2017, vêm mostrando aos engenheiros que são mais duráveis do que o imaginado. Desse modo, as células (cada uma das centenas de “pilhas” que formam uma bateria automotiva) poderão ser reutilizadas em outros veículos e produtos.
A Renault (parceira da Energy Source) é uma das mais avançadas nesse assunto: desde 2017, repassa seus acumuladores usados a marcas de eletrodomésticos, por exemplo.
Com o avanço das energias solar e eólica, precisaremos de baterias para estocar eletricidade em momentos críticos de oferta. A fabricante francesa quer resolver isso (e lucrar) com a unidade de negócio Mobilize – que, entre outros assuntos, investe em contêineres feitos de antigas baterias de carros e que podem atender até bairros inteiros.
Para descobrir o que pode ser reaproveitado, a Energy Source criou um algoritmo personalizado, que consegue indicar não apenas o que tem utilidade, mas também para qual fim a célula que seria descartada pode servir. O que não tiver solução é triturado e forma a “black mass”.
A startup também patenteou um método próprio de separar esses metais, utilizando técnicas da complexa hidrometalurgia. Caso tenha sucesso, a empresa permitirá que os carros elétricos diminuam significativamente seu impacto ambiental.
1º TRIAGEM
As baterias dos carros chegam à usina de processamento, onde são separadas de acordo com a química das células, seu tipo (cilíndrica, laminar, prismática ou bursiforme) e outros detalhes que possam influenciar no reúso.
2º DESMONTAGEM
No caso da Energy Source, um algoritmo determina quais células podem ser reaproveitadas em itens que vão de carregadores veiculares a eletrodomésticos. A Volkswagen (fotos) tem processo semelhante de separação.
3º PROCESSAMENTO
As células que não podem ser recuperadas vão para a etapa de processamento – um nome elegante para o triturador que “engole” o resto de baterias. O processo varia de acordo com a usina, mas, em geral, envolve o uso de ímãs e outros métodos mecânicos que separam plásticos de metais, partes leves das pesadas etc.
É uma etapa delicada, pois há alto risco de incêndio. Parceira da General Motors, a canadense Li-Cycle utiliza um triturador em câmera anaeróbica: sem oxigênio, não há fogo.
Além disso, um líquido (também patenteado) facilita a coleta de pedacinhos flutuantes. Muitos materiais coletados nessa etapa também possuem valor comercial, amenizando o
custo de produção dos EVs.
4º EXPEDIÇÃO
Disso tudo sobra a “black mass” – um problemão para quem quer descartá-la sem prejudicar o meio ambiente. A Energy Source é uma das empresas ao redor do mundo que desenvolveram formas de separar os valiosos metais que compõem essas migalhas que sobram das baterias.
Como não faria sentido que esse processo fosse poluidor, a startup brasileira fez questão de recorrer à hidrometalurgia, que não utiliza fogo na separação dos produtos finais.