Experimentamos a tela 8K e os luxos do BMW i7, elétrico de R$ 1,3 milhão
BMW i7 é o modelo mais caro da marca no Brasil e, antes de testá-lo, decidimos viajar atrás, onde seus compradores costumam ir
De tão luxuoso, o novo BMW i7 é um daqueles carros em que o dono costuma viajar no banco de trás. Dessa forma, QUATRO RODAS separou o teste do BMW mais caro do Brasil em duas partes. Nesse texto, avaliamos a vida de que viaja na segunda fileira. Mais adiante faremos o teste convencional do sedã elétrico, pondo à prova seus dois motores elétricos que totalizam 544 cv e 76,0 kgfm e a bateria que promete autonomia de 479 km.
Um teste diferente
Mais do que ter estagiários dedicados à função de ghost writers do seu LinkedIn, um sinal de absoluto sucesso na carreira profissional é ver um BMW i7, com motorista particular incluído, te esperando na porta de casa. A versão elétrica do Série 7 é o que há de mais luxuoso na marca alemã e, por tanto, seu preço bate R$ 1,3 milhão — é para pouquíssimos.
Quem adquire essa espécie de limusine costuma ter semanas atoladas de reuniões e compromissos, sem tempo (nem vontade) para assumir o volante. Isso fica para os dias de folga, quando o CEO tira seus esportivos de coleção da garagem. É o típico carro onde o dono vai atrás, e mesmo os funcionários da BMW admitem que, ao verem-no pela primeira vez, esqueceram do volante e foram conferir os recursos da segunda fila. Dito isso, viajar como passageiro no i7 é um teste à parte.
Novo luxo
QUATRO RODAS inverteu os papéis, com o repórter esperando o carro em casa e rumando a um complexo gastronômico em São Roque (SP), onde também é possível chegar de helicóptero. Isso é um detalhe importante, pois a marca diz que um dos deslocamentos mais comuns feitos com seu novo elétrico é, justamente, para helipontos.
A pintura cinza do sedã não chama muita atenção, mas detalhes como os 5,4 m de comprimento e DRLs compostas por cristais Swarovski são sinais claros de luxo. A real noção disso, entretanto, só começa quando se aperta um discreto botão e a porta do passageiro se abre por completo, automaticamente.
Só há dois assentos, uma vez que é inadmissível que o “patrão” tenha que raspar os ombros com algum ocupante no meio. Onde ficaria o quinto lugar, há um carregador de celular por indução embutido no porta-objetos e porta-copos retrátil. O entre-eixos de 3,2 m (tamanho de um carro subcompacto) foi definido muito com base no consumidor chinês, que adora sedãs gigantescos e estimulou a fabricante a vender globalmente o BMW i7 em tamanho generoso.
Todo o revestimento é feito com couro de carneiros da raça Merino, originados no sul de Portugal. Até a tosa dos animais é calculada, a fim de que a lã não cresça demais e seu peso cause estresse ao ovino. Em troca, tem-se um couro marrom que dispensa tintura: sem qualquer tratamento químico, ele é excepcionalmente sensível ao toque; também por isso, demanda manutenção frequente.
A lã dos Merino também é das melhores, mas a fabricante optou em estofar os bancos com pelos de cabra cashmere, criada em regiões montanhosas da Ásia Central. Através do seu terno de alfaiataria, é provável que o CEO nem perceba a diferença, mas aqui o storytelling importa.
Por detalhes assim, um estudo da universidade de Metropolia, na Finlândia, chegou a destacar o i7 como um estranho no ninho: apesar de ser um BMW, tudo nele está mais próximo da Rolls-Royce, a “prima rica” do grupo automotivo. Nesse universo, o processo de venda também é próprio, e a ideia de um freguês chegar à concessionária para conhecer o carro beira o absurdo.
Quem compra a evolução elétrica do Série 7 provavelmente é cliente da BMW há anos, e conhece os detalhes do i7 desde que ele foi anunciado. É questão de pegar o telefone e chamar o assessor de confiança da marca, que iniciará os trâmites para a venda.
Dias antes do passeio, a marca também levou o modelo a um evento jornalístico que premiava grandes empresas: altos executivos e seus cônjuges estariam presentes e aproveitariam para ter um contato físico com a limusine antes de fechar negócio.
Por isso, você não verá propaganda do BMW i7 em quase nenhum lugar: sua grande ação promocional foi no festival de Cannes, onde a TV embutida (já falaremos dela) exibiu filmes inéditos. O alcance foi pequeno, mas calculado estrategicamente para mostrar que o carro é um objeto que pertence ao mundo do máximo glamour.
A caminho
Com a porta fechada automaticamente pelo botão interno, o passageiro passa o operar uma tela de 5,5” onde ficaria a maçaneta. Por ela, foi possível subir cortinas em todas as janelas, dando mais privacidade. Também deu para ativar a função Executive Package (de série no Brasil, mas opcional na Europa pelo equivalente a R$ 23.122).
Em segundos, o banco dianteiro esquerdo se recolheu rumo ao para-brisa e o assento de trás se transformou em uma espreguiçadeira com diferentes níveis de inclinação. Pela telinha, o ocupante ainda pode escolher a temperatura do banco, configurar sua zona de ar-condicionado (são quatro ao todo) e escolher entre oito tipos de massagem diferentes.
Mas nada se compara a pressionar um ícone na tela para que uma televisão touchscreen de 31” e resolução 8K surja do teto, criando um cinema particular. O veículo tem conexão 5G com 20 Gb de dados mensais, que servem para acessar serviços de streaming.
No caminho, deu para assistir vídeos de QUATRO RODAS no YouTube, conferir lançamentos cinematográficos na Netflix e na Amazon Prime e, caso estivéssemos em fim de semana de corrida, poderíamos assistir à Fórmula 1 ao vivo, através do app da F1 TV. Também é possível conectar laptops à tela via HDMI e reproduzir o som apenas nos fones de ouvido, via Bluetooth.
A sugestão, todavia, é usar a TV para baixar o app Tidal, que reproduz músicas em qualidade muito superior ao Spotify e semelhantes. É assim que se extrai o máximo do sistema de 36 alto-falantes com 1.965 W e subwoofer embutido no banco traseiro. É certamente o melhor som automotivo já experimentado pelo repórter, e permite descobrir detalhes inéditos em hits clássicos.
É claro que o isolamento acústico excelente ajuda. A BMW submeteu o i7 a dinamômetros de rolo com diferentes superfícies, gradualmente eliminando todo tipo de ruído irritante que surgia.
Isso ajudou a definir a posição do par de motores elétricos, que também foram encapsulados acusticamente. As colunas do sedã ganharam espuma isolante, assim como bancos, teto e a parte de dentro dos pneus (tratamento equivalente foi dado aos vidros do habitáculo).
Os engenheiros obsessivos até incluíram revestimento em lã nas soleiras e caixas de rodas. E tudo isso funcionou: mesmo com o rádio em volume normal, o assessor de imprensa da BMW, que dirigia o i7, fazia sua explicação técnica em tom calmo, e era ouvido com total clareza por quem estava atrás.
O fim do passeio foi ao pôr-do-sol, permitindo explorar o jogo de luzes que inclui até fitas de led inseridas no vidro do teto solar. Também foi a hora de se dar conta que, apesar do péssimo asfalto brasileiro, a rigidez torcional elevada da carroceria e a suspensão adaptativa deram estabilidade digna de rodovias europeias, sem derramar uma gota da água no porta-copos.
Os próprios executivos da marca ressaltam que, no caso do BMW i7, questões de conforto e comodidade importam mais ao comprador do que aspectos mecânicos. Considerando que em momento nenhum esse texto citou itens como os 545 cv, tração integral, aceleração de 0 a 100 km/h em 4,7 s ou sequer um detalhe da primeira fileira, dá para dizer que eles têm razão.