Evite a empurroterapia e não seja enrolado na revisão
Ela é obrigatória para não perder a garantia, mas a visita à concessionária não precisa se transformar em um momento de tensão e incertezas
O receio de ser enrolado por profissionais nem tão profissionais paira sob todos os donos de carros – inclusive mecânicos.
Receber orçamentos com serviços “extras” e uma conta salgada na visita à concessionária chega a dar calafrios. Mas dá para evitar alguns sustos.
Procuramos os consultores Amos Lee Harris Junior, da Universidade Automotiva (UniAuto), Murilo Moreno, da Sequoia Estratégia, e Paulo Roberto Garbossa, da ADK Automotive, para reunir algumas dicas de como evitar (ou amenizar) os efeitos da famosa empurroterapia.
Informe-se bem
O manual do proprietário informa tudo que tem de ser feito nas revisões – a checagem de rotina.
Está bem – sabemos que o índice de leitura desse livreto é baixo, mas se você preferir, basta acessar o site da montadora e ir na parte “Serviços”.
A maioria das marcas informa ali sobre as revisões até 60.000 km, a relação dos serviços e peças que têm de ser trocadas, além do custo fixo, agendamento e prazo médio para entrega do carro.
Além disso, para quem mora em cidades grandes, com mais revendas da mesma marca, há a opção de pesquisa em páginas de defesa do consumidor, como Reclame Aqui e Proteste. Veja lá como é a reputação das lojas da marca do seu automóvel.
Bote banca
Não se faça de desentendido quando o assunto é seu carro. Pesquise antes sobre o que deve ser feito e demonstre conhecimento ao consultor ou mecânico.
Comente sobre as peças e até o óleo que será substituído. O técnico perceberá que você não é desinteressado, dará atenção extra e pensará duas vezes antes de tentar qualquer estratégia de vender algo a mais.
“Normalmente as pessoas que são lesadas são as que não entendem nada do contexto automóvel. Quando o cliente se revela completamente leigo, o atendente vai tentar empurrar uma série de serviços absolutamente desnecessários”, alerta Amos Lee.
Serviços extras
A autorizada não está proibida de oferecer outros serviços, além da revisão. Alinhamento é um deles, recomendado a cada 10.000 km. Mas você mesmo pode verificar se ele é necessário ou se é balela.
Pneus com desgaste maior na lateral superior ou mais acentuado entre um e outro, direção que vibra muito ou puxa para um lado e trepidação nas rodas da frente são alguns sinais. Há também a higienização do ar-condicionado, a cada 20.000 km ou 30.000 km – custa de R$ 80 a R$ 150.
Esse pode ser feito em casa: basta aplicar um spray bactericida dentro das saídas de ar, no modo recirculação, com vidros fechados e na temperatura mais baixa. Demora 30 minutos e o produto custa de R$ 30 a R$ 50.
Nunca é demais avisar que se deve fugir da famosa limpeza dos bicos injetores. E lembre-se de que você não é obrigado a contratar os serviços não previstos na revisão. Inclusive, desconfie de orçamentos longos.
Se ficar insatisfeito com a ordem de serviço apresentada, procure outra autorizada. Na dúvida, diga que quer só a revisão básica. Sempre funciona.
Fique em cima
Se possível, tire parte do dia para acompanhar a revisão, já que muitas são feitas em até duas horas. As lojas costumam, já na recepção, levantar o carro no elevador para o funcionário mostrar o que deve ser feito.
Várias marcas (como Chevrolet, Honda e Toyota) permitem que o cliente acompanhe tudo dentro da oficina. É o que o mercado chama de “recepção direta”.
Se a autorizada ou fabricante não disponibilizar esse sistema, peça ao recepcionista para ver o serviço – mas muitas empresas não permitem a visita por questões de segurança.
“Perguntar para acompanhar o serviço é positivo e faz parte. É mais ou menos como visitar a cozinha do restaurante”, defende Murilo Moreno. Caso contrário, opte por lojas que tenham sala de espera com parede de vidro que permita ver a oficina.
Na tela do celular
Há empresas que usam a tecnologia para que o consumidor tenha acesso remoto ao que está sendo feito. A Citroën e lojas de outras marcas, por exemplo, têm um sistema onde o mecânico filma a peça que precisa ser trocada e envia ao cliente.
Em outras, pode-se acompanhar a revisão pela internet em tempo real, por câmeras dentro da oficina.
Escolha de componentes
Algumas peças em geral têm mais de um fornecedor. Por isso, o cliente pode escolher se quer uma marca específica, como pastilhas de freio ou lâmpadas.
“Nesses casos, o consumidor pode verificar que marcas existem disponíveis na revenda e optar por uma preferida. São equipamentos de reposição homologados pelo fabricante”, explica Paulo Roberto Garbossa.
Peça as peças
É obrigação das revendas entregarem aos clientes não só a nota fiscal, mas também as peças usadas que foram trocadas.
Aproveite e solicite as embalagens de todos os componentes novos colocados no carro, inclusive as embalagens vazias de lubrificantes. “Ao fazer isso, o cliente sinaliza que pode pegar essas peças e levar a outro lugar. Isso é fundamental para a pessoa que não entende muito do assunto. E é lógico que o consultor vai tomar mais cuidado”, acredita Amos Lee.
Marque o rodízio
O rodízio de pneus é polêmico, pois cada marca tem seu padrão. De olho no manual do proprietário, cheque o serviço mesmo se for feito na autorizada.
Até mesmo no Longa Duração da QUATRO RODAS já tivemos casos de pneus que não mudaram de posição e até de pneus errados, que não faziam parte do conjunto.
A dica é marcar antes com caneta especial a posição de cada pneu (com números e letras). Depois, verifique se a oficina obedeceu o rodízio.
Transparência
Tenha em mente que você não é obrigado a fazer os serviços fora da revisão para manter a garantia. E, se houver problema no reparo, volte e peça que seja refeito ou o dinheiro seja devolvido.
Pode-se ainda acionar órgãos de defesa do consumidor (como o Procon) ou o SAC da marca. “Antigamente tinha muita empurroterapia, mas hoje há monitoramento constante das empresas para não ter problemas na revisão, pois isso afeta a reputação da marca”, garante Garbossa