Teste: Ford Mustang Black Shadow é um V8 GT com um pouco mais de sombra
Com seu V8 5.0 de 466 cv de potência, ele continua o mesmo bad boy de sempre e aposenta a GT Premium, vendida até agora
Pode não parecer, mas o Mustang é um carro muito importante para a Ford no Brasil.
“A procura está sempre em alta e, por se tratar de um carro icônico, a margem de lucro é muito boa tanto para a fábrica quanto para as concessionárias”, diz uma fonte ligada à marca que pediu para não ser identificada.
Então, era de se esperar que tudo seguisse o rumo normal, já que o Mustang é líder absoluto do segmento e com larga vantagem em relação ao arquirrival Camaro.
Ainda assim, o ano começa com uma novidade: a Ford vai promover uma mudança na comercialização do Mustang, substituindo a versão V8 GT Premium pela Black Shadow, a novidade que você começa a conhecer a partir de agora.
Não espere uma revolução: só detalhes diferenciam o Black Shadow do GT V8 Premium, que deixa de ser vendido.
Por fora, os itens que mais justificam o nome Black: logotipo Mustang da grade, teto, rodas com desenho diferenciado e aerofólio sobre a tampa do porta-malas na cor preta.
Sobre o capô e nas laterais, faixas decorativas. Mas, ao contrário do que o nome pode sugerir, a carroceria está disponível em dez cores.
Na cabine, mudanças ainda mais discretas: bancos com faixas de Alcantara – um refinado tecido sintético com textura muito similar à do lado avesso do couro – e faixa superior do painel revestida com fibra de carbono e uma plaqueta alusiva aos 55 anos do Mustang, comemorados em 2019.
Ou seja, é apostando na força do aniversário do carro que a Ford decidiu dar uma aura de edição especial a uma versão que, na prática, apenas incorporou um discreto pacote estético.
A marca aproveitou também para fazer um ajuste na tabela de preços, com o Black Shadow chegando por R$ 328.900 – R$ 15.000 a mais do que o aposentado GT Premium.
Mas dizer que o Mustang pouco mudou pode (e deve) ser interpretado como elogio, afinal ele nunca esteve tão bom. Duvida?
O motor, claro, é o grande destaque.
Herói da resistência diante da necessidade de diminuição da quantidade de cilindros e do deslocamento volumétrico e da apĺicação cada vez mais massiva de turbocompressores, o Mustang conta com um veoitão 5.0 aspirado de 466 cv de terceira geração da família Coyote.
Aqui, tradição nada tem a ver com falta de modernidade: são dois comandos de válvulas variáveis por bancada (um para as de escape e outro para as de admissão) e duplo sistema de injeção de gasolina (direta e indireta).
Tecnologias tão impensáveis pouco tempo atrás quanto a parceria estabelecida entre as arquirrivais Ford e GM que levou à criação do supercâmbio automático de nada menos do que dez marchas.
Isso aí: a caixa que equipa o Mustang é a mesma do Camaro, mudando apenas a calibração de cada uma.
A suspensão também é merecedora de elogios. Esqueça o comportamento arisco de outrora: hoje, com direito a suspensão traseira multilink e um arsenal de sistemas eletrônicos de controle, o Mustang está menos indócil.
Com o auxílio dos amortecedores adaptativos MagneRide com variação de rigidez, o piloto tem à sua disposição um dos modelos de comportamento mais versáteis do mercado.
No modo mais confortável, a direção é leve, a suspensão macia, o escape silencioso e as trocas ocorrem pouco acima das 1.000 rpm.
Porém, ao ativar os modos mais esportivos, prepare-se: as saídas em baixa rotação embaralham como se fosse um carro de competição, o volante pesa, os pedais ficam ultrassensíveis e a suspensão enrijece como se o óleo tivesse petrificado dentro dos amortecedores.
E aí o Mustang deixa de se parecer com um Fusion anabolizado e passa a justificar a boa fama de puro-sangue que acumulou ao longo de seus 55 anos.
Tocado esportivamente, ele obedece instantaneamente aos inputs de volante e pedais, mas cuidado: há sempre uma cascata de torque e potência querendo chegar às rodas e qualquer exagero na dose é letal, sobretudo nas saídas de curva.
Em nosso campo de provas, em Limeira, cravou 4,8 segundos na aceleração de 0 a 100 km/h.
Há muita tecnologia também. O painel digital exibe layouts mais convencionais nos modos mais pacatos ou com prioridade nos monitores de performance (temperatura de câmbio e conta-giros, por exemplo) nos modos esportivos.
O sistema de som Bang & Olufsen, composto por 12 alto-falantes, incluindo um subwoofer de 12 polegadas, é uma ótima opção para os momentos que o piloto decidir ouvir uma trilha sonora diferente da sinfonia dos oito cilindros.
As vendas do Black Shadow começam em janeiro de 2020, mas, como era esperado, as encomendas iniciaram quase dois meses antes, com colecionadores e fãs ávidos para colocar uma unidade na garagem antes de todo mundo. E olha que nem é uma série tão especial assim.
Ficha técnica – Mustang Black Shadow V8 5.0
- Preço: R$ 328.900
- Motor: gasolina, dianteiro, longitudinal, V8, 5.038 cm³, 32V, 466 cv a 7.000 rpm, 56,7 mkgf
a 4.600 rpm - Câmbio: automático, 10 marchas, tração traseira
- Suspensão: McPherson (dianteira), Multilink (traseira)
- Freios: disco ventilado (dianteira e traseira)
- Direção: elétrica
- Rodas e pneus: liga leve, 255/40 R19 (dianteira), 275/40 R19 (traseira)
- Dimensões: comprimento, 478,9 cm; largura 195,7 cm; altura, 138,2 cm; entre-eixos, 272 cm; peso, 1.783 kg; tanque, 60,5 litros; porta-malas, 382 litros
Teste – Mustang Black Shadow V8 5.0
Aceleração
0 a 100 km/h: 4,8 s
0 a 1.000 m: 23,2 s – 232,8 km/h
Velocidade máxima
250 km/h (limitada eletronicamente)
Retomada (em D)
40 a 80 km/h: 2,4 s
60 a 100 km/h: 2,8 s
80 a 120 km/h: 2,9 s
Frenagens
60/80/120 km/h – 0 m: 12,6/22,4/50,8 m
Consumo
Urbano: 7 km/l
Rodoviário: 11,5 km/l