Você pode até não acreditar em horóscopo, mas Carlo Abarth, austríaco naturalizado italiano, acreditava tanto que seu signo astrológico, Escorpião, estampa o escudo de sua preparadora desde a fundação, em 1949. Não é a constelação, mas o aracnídeo de ferroada dolorosa (e eventualmente mortal) que se tornou sinônimo de Abarth, assim como os esportivos com motores pequenos, desempenho respeitável e roncos marcantes.
O Fiat Pulse Abarth tem seu motor 1.3 turbo e seu escape exclusivo gera um ronco que merece ser ouvido, mas rompe alguns paradigmas: é o primeiro Abarth desenvolvido fora da Itália e também o primeiro SUV da preparadora.
As previsões são boas. Por seu lançamento oficial ser em 17 de novembro, ele é um autêntico escorpiano. Inclusive, Carlo fazia aniversário dois dias antes.
Se astrólogos definem quem nasce com o sol no signo Escorpião como pessoas intensas, passionais, generosas e com poder transformador, a fama é de temperamento difícil. Não há problema algum de ter essas características em um esportivo, certo?
Carlo vendeu sua empresa para a Fiat em 1971 e retornou para a Áustria, onde morreu, em 1979, aos 70 anos. No seu tempo, o desempenho extra vinha de aumento da cilindrada, de otimizações no fluxo de ar dos cabeçotes e coletores, nos comandos e nos carburadores. Um motor moderno como o 1.3 GSE Turbo, porém, já nasce com quase tudo isso otimizado. O verdadeiro preparador de motores, hoje, é um programador.
Tecnicamente o motor do Pulse Abarth é como da Fiat Toro ou do Jeep Renegade. Tem os mesmos 185 cv e 27,5 kgfm quando abastecido com etanol e, em condições normais, suas respostas são semelhantes às do Fiat Fastback Limited 1.3 turbo. Ainda é o primeiro Pulse com o câmbio automático de seis marchas, em vez do CVT com simulação de sete velocidades.
Temperamento explosivo
A magia acontece quando se aperta o botão vermelho no volante, onde está escrito “Poison” (veneno). Pode soar cafona, mas é ele que envenena o motor com linhas de programação que interferem em quase tudo do carro. É muito mais que o modo “Sport” dos outros Fiat, de fato.
A caixa de direção, que tem relação mais direta que a das outras versões, exige mais força. A resposta do acelerador fica mais rápida e em alguns momentos nem sequer tem filtro. O câmbio muda seu comportamento para fazer trocas mais rápidas e reduzir mais cedo, a ponto de aceitar redução à primeira marcha aos 40 km/h.
O comando de válvulas MultiAir, que por meio do controle eletrônico do tempo e do levante das válvulas, assume outro comportamento e passa até a ter pequenas aberturas nas reduções de rotação só para fazer estouros no escapamento.
O escape também mexe com o lado sensorial. A Abarth fez sucesso vendendo seus silenciadores revestidos com lã de vidro para aumentar o desempenho e emitir um rugido inconfundível, que hoje são peças de colecionador. No Pulse Abarth o segredo do sucesso foi conseguir isolar parte do ronco grave que ecoa do lado de fora sem eliminar totalmente, sem acabar com a graça. O que se escuta é um ronco natural, instigante e que não incomoda com o tempo.
Nosso primeiro contato com o Fiat Pulse Abarth foi no Autódromo de Tarumã, em Viamão (RS), um dos circuitos mais rápidos do Brasil. A sequência de curvas de alta velocidade permitiram colocar o SUV esportivo e seus programadores à prova.
Um dos efeitos do botão “Poison” que não revelei é a interferência nos controles de tração e estabilidade. Com ele desativado, os sistemas agem para manter a trajetória em curvas sem sustos e sem exageros.
Com o mapa “envenenado”, porém, permite um contorno em velocidade mais alta e até deixa a traseira escapar levemente para apontar o carro perfeitamente na saída da curva. Como os controles permitem isso, pode-se pisar à vontade que ele não vai escapar, muito menos sair de dianteira como carros de tração dianteira costumam fazer. É só deixar os pneus gritarem, abrir o sorriso e se sentir piloto.
Claro, o Pulse Abarth é muito mais que um Pulse com motor de 185 cv bem programado. A receita da diversão também contempla barra estabilizadora dianteira mais grossa e eixo traseiro (15% mais rígido) do Fastback 1.3 turbo, além das rodas aro 17 mais leves e largas (tala 7”, que aumenta o diâmetro de giro de 10,5 para 10,9 m) com pneus Dunlop 11% mais aderentes e amortecedores e molas que enrijecem o conjunto em 13% na frente e 12% atrás.
Por fim, a suspensão foi rebaixada em 0,8 cm, menos de um dedo. A atitude em uma sequência de curvas passa a ser mais de hatch do que de SUV, inclinando menos a carroceria nas curvas. Mas o Pulse Abarth não é aquele tipo de carro que compromete o conforto em nome da esportividade, o que é bom na maior parte do tempo.
Mesmo freando forte nas várias chicanes colocadas na pista e por voltas e voltas, os freios não tiveram fadiga. Vale lembrar que o sistema traseiro é a tambor, como no Fastback 1.3 turbo; só muda a reação, mais rápida. A Fiat está preparada para ouvir pedidos por discos traseiros, mas neste momento precisava de volume para justificar o desenvolvimento do freio de estacionamento eletrônico associado aos tambores: o Abarth é o único Pulse com o sistema.
O desempenho foi posto à prova em nossa pista de testes. Começando pela frenagem, seus números são melhores que os do Fastback e 1 m maiores que os do Pulse 1.0T de 60 a 0 km/h: 14,3 metros. De 120 a 0 km/h, os 57,4 m são quase 4 m a mais na comparação com o Pulse.
Em termos de aceleração, é imbatível entre todos os SUVs compactos à venda no Brasil: precisou de 8,2 s, na média de quatro passagens, para chegar aos 100 km/h; o melhor tempo foi 7,9 s.
Deixou para trás os 8,3 s do Citroën C4 Cactus 1.6 THP, uma questão de honra dentro da Stellantis. E é 2 segundos mais rápido que o Pulse Impetus 1.0T, ou que o Renault Sandero R.S. quando com gasolina. O Polo GTS, por sua vez, cravou 8,9 s em seu último teste.
Poder transformador
Como Carlo Abarth deixava o visual em segundo plano em suas criações, não estranhe entrar no assunto só agora. E o que se vê no Pulse Abarth é menos Pulse e mais Fastback, que emprestou para-choque dianteiro com tomadas de ar laterais, faróis full-led e o painel, com console mais elevado, porém com detalhes vermelhos.
A grade com tomadas inferiores maiores, a barra acima dela com textura de fibra de carbono e o para-choque traseiro com extratores são exclusivos, assim como a dupla saída de escape cromada. E só no Pulse Abarth o quadro de instrumentos digital de 7” mostra pressão do turbo, aceleração lateral e potência gerada em tempo real.
Galeria – Fotos do Fiat Pulse Abarth
O fato de ser um Pulse com itens do Fastback não muda um aspecto: a segurança. Não tem mais que os quatro airbags (frontais e laterais) disponíveis de série para os irmãos. Também se limita a assistentes como frenagem autônoma de emergência e assistente de permanência em faixa. sem oferecer piloto automático adaptativo – virá futuramente.
Não é italiano, nem um carro baixo. Mas é um pequeno esportivo de respeito que honra a tradição – e os escorpianos. O preço da diversão? R$ 149.990, ou R$ 22.600 mais caro que o Pulse Impetus 1.0 Turbo.
Os Abarth terão, pelo menos, áreas dedicadas nas concessionárias Fiat. Serão entre 25 e 50 concessionárias em todo Brasil. Elas terão uma identidade visual exclusiva, com o clássico logo com o escorpião estampando (que substituiu todos os logos da Fiat no Pulse Abarth) e com vendedores que passarão por um treinamento especializado.
Teste Quatro Rodas – Fiat Pulse Abarth T270
Aceleração
0 a 100 km/h: 8,2 s
0 a 1.000 m: 28,2 s – 178,6 km/h
Velocidade máxima: 215 km/h
Retomadas
D 40 a 80 km/h: 3,6 s
D 60 a 100 km/h: 4,8 s
D 80 a 120 km/h: 5,8 s
Frenagens
60/80/120 km/h a 0: 14,3/25,4/57,4 m
Consumo
Urbano: 11,3 km/l
Rodoviário: 15,1 km/l
Ruído interno
Neutro/RPM máx.: 47/65,8 dBA
80/120 km/h: 63,8/71,6 dBA
Aferição
Velocidade real a 100 km/h: 98 km/h
Rotação do motor a 100 km/h: 2.000 rpm
Volante: 2,4 voltas
Seu Bolso
Preço básico:
Garantia: 3 anos
Ficha Técnica – Fiat Pulse Abarth T270
Motor: flex, dianteiro, transversal, 4 cil., 16V, 1.332 cm³, 185/180 cv a 5.750 rpm, 27,5 kgfm a 1.750 rpm
Câmbio: automático, 6 marchas, tração dianteira
Suspensão: McPherson (diant.), eixo de torção (tras.)
Direção: elétrica, 10,9 m (diâmetro de giro)
Freios: disco ventilado (diant.); tambor (tras.)
Pneus: 215/50 R17
Dimensões: comprimento, 411,5 cm; largura, 177,7 cm; altura, 154,4 cm; entre-eixos, 253,2 cm; porta-malas, 370 l, tanque, 47 l; peso, 1.281 kg