Teste: Fiat Argo CVT é automático mais barato do Brasil, mas vale a pena?
Com preço competitivo e condução confortável, Fiat Argo CVT poderia alçar voos maiores se não deixasse a desejar na segurança e qualidade do acabamento
Uma má notícia para os mais tradicionais: o câmbio automático venceu. Ainda que tardiamente, a transmissão manual finalmente está saindo de cena no Brasil e, segundo um prognóstico da consultoria Bright Consulting, os modelos automáticos corresponderão a cerca de 90% das vendas de zero-km até o fim da década no país.
As conversas diárias com leitores de QUATRO RODAS reforçam essa tendência e, cada vez mais, quem usa o carro apenas como meio de transporte prefere a praticidade da automação sobretudo.
Está cada vez mais difícil encontrar modelos que sequer ofertam câmbio AT; são basicamente subcompactos 1.0 (ex: Fiat Mobi e Renault Kwid) ou modelos que, preteridos pelas fabricantes, caminham para a aposentadoria, como a VW Saveiro. Em qual desses casos o Argo se encaixava?
Nenhum deles: um dos best sellers da Fiat passou cerca de um ano e meio sem transmissão automática por puro acaso, resultado da aposentadoria do beberrão motor 1.8, que equipava as versões mais caras. Mas a lacuna está fechada, e o Argo CVT, em duas versões, estreia com o importante título de carro automático mais barato do Brasil.
Essa é a honra do Argo Drive 1.3 AT (R$ 90.990). O Argo Trekking testado por QUATRO RODAS custa R$ 6.000 a mais, e a diferença vale a pena: adiciona-se faróis de neblina, ar-condicionado digital, câmera de ré, retrovisores elétricos, ar-condicionado digital, bancos em material que imita couro, chave presencial, rodas de liga leve e, coroando o pacote aventureiro, 2 cm a mais de vão livre (18,2 cm no total) que fazem diferença.
CARRO DE VIDEOGAME A experiência da Fiat com o motor 1.3 Firefly e o câmbio CVT da Aisin é extensa — eles já são usados em Strada, Pulse e Cronos — por isso é natural que a engenharia de Betim (MG) tenha encontrado, após muito aperfeiçoamento, as melhores relações de marcha para o conjunto.
As trocas são competentes, e as sete velocidades simuladas não dão margem para buracos. O computador quase sempre acerta o desejo do motorista médio por um carro mais obediente ou mais relaxado, a fim de balancear performance e consumo. Não é à toa que o Argo CVT beba praticamente o mesmo que o manual: com gasolina, são 12,5 km/l na cidade e 16,4 km/l na estrada (a versão MT anteriormente testada cravou 13,0 km/l e 16,6 km/l, respectivamente).
Mas não existe milagre com 107 cv e 13,7 kgfm (98 cv e 13,2 kgfm, com gasolina). Uma retomada mais exigente exibe as limitações de um carro que, para ir de 0 a 100 km/h, levou 14,7 s. A potência tem seu pico acima de 6.000 rpm e, na estrada, quase sempre é necessário subir bem o giro — consequentemente, o nível de ruído a 120 km/h desagradou.
Mas é improvável que um caçador de aventura busque sua dose de emoção no Argo; por isso, faz sentido que tudo no compacto seja o mais dócil possível. Volante e pedais chamam atenção por serem bem leves. A direção é surpreendentemente precisa e o acelerador, por exemplo, não tem o tranco ao primeiro toque típico de outros Fiat.
O conjunto de suspensão também está mais uma vez bem calibrado e coloca o Argo Trekking em posição interessante. Por ser um pouco mais o alto que outras versões, há maior capacidade de superar as ruas brasileiras, com obstáculos de sempre. Ao mesmo tempo, mais baixo que o Pulse, o modelo tem menor rolagem que o SUV compacto.
DESATENÇÃO AOS DETALHES Com o bom pacote de equipamentos da versão aventureira e condução agradável, o modelo testado não deveria nada a concorrentes mais vendidos, como o Hyundai HB20 e Chevrolet Onix. Um fator, todavia, no qual a Fiat vem devendo é a segurança, com seu hatch ofertando apenas dois airbags enquanto os modelos de entrada das rivais já trazem meia dúzia de série.
Outro aspecto que chamou atenção na unidade testada, entretanto, foi o acabamento. A cabine é praticamente toda revestida em plástico e, dado o segmento, até aí tudo bem. O que não se espera é encontrar peças mal encaixadas e com rebarbas, estofamento dos bancos já apresentando marcas de desgaste e borrachas soltas na porta.
O cliente que der o benefício da dúvida à Fiat, caso seja feliz na escolha, poderá curtir outras virtudes do carro, como o bom espaço interno traseiro, que acomoda pessoas maiores que 1,80 m com relativo conforto. Mas também não há milagre aí, e o porta-malas tem enxutos 300 litros.
Lembre-se: você está comprando um dos carros mais automáticos mais baratos do Brasil. O Pulse de entrada, manual e com o mesmo motor, custa apenas R$ 2.000 a mais e pode ser a opção ideal caso o “antiquado” ato de passar a marcha ainda seja importante.
Teste do Fiat Argo Trekking CVT 2023
- Aceleração
0 a 100 km/h: 14,7 s
0 a 1.000 m: 36,25 s – 144,1 km/h
- Velocidade Máxima: 173 km/h*
- Retomada
40 a 80 km/h: 6,2 s
60 a 100 km/h: 8,2 s
80 a 120 km/h: 11,5 s
- Frenagens
60/80/120 km/h – 0 m: 14,7/26,4/61,7 m
- Consumo
Urbano: 12,5 km/l
Rodoviário: 16,4 km/l
Ficha técnica do Fiat Argo Trekking CVT 2023
Preço: R$ 96.990
Motor: flex., diant., trans., 4 cil. em linha, 8V, 1.332 cm³; 107 cv a 6.250 rpm, 13,7 kgfm a 3.500 rpm
Câmbio: CVT, 7 marchas, tração dianteira
Suspensão: independente, McPherson/eixo de torção (diant./tras.)
Freios: disco ventilado (diant.)/ tambor (tras.)
Direção: elétrica, 10,4 m (diâm. giro)
Rodas e pneus: liga-leve, 205/60 R15 tipo todo terreno (ATR)
Dimensões: comprimento, 403,1 cm; largura, 198,0 cm; altura, 156,8 cm; entre-eixos, 252,1 cm; vão livre do solo, 18,2 cm; porta-malas, 300l; peso, 1.104 kg; tanque: 47 l