O Renault Captur frequenta os textos da Quatro Rodas desde 2011, quando a marca apresentou o Captur Concept, no Salão de Genebra. Em 2013, a Renault lançou a versão que hoje é reconhecida como francesa. E em 2016 foi a vez da russa, que se chama Kaptur, com K, para manter a sonoridade do nome, porque C tem som de S, em russo (ficaria “saptur”).
Com C ou com K, Captur não tem significado algum – a pronúncia correta é “cáptur”, de acordo com a fábrica. Agora é hora de conhecer a versão nacional, que a Renault identifica como americana, uma vez que será produzida no Brasil e exportada para oito países da América Latina (México, Colômbia, Equador, Peru, Paraguai, Chile, Argentina e Uruguai).
Apesar do nome com C, o nosso usa a plataforma do russo, que é a do Duster, enquanto o francês compartilha a base do Clio da quarta geração (o Clio nacional que saiu de linha no final de 2016 era da segunda geração).
A Renault optou pela plataforma do Duster – SUV que estreou em 2009, derivado do Logan, que é de 2004 – por questão de custo. Para ter a base do Clio (de 2012) seria necessário um investimento bem maior para adequar a plataforma às condições de uso locais e também em mudanças na fábrica do Paraná, o que implicaria em encarecer o produto.
Na troca, porém, o Captur brasileiro perdeu alguns recursos. No francês, por exemplo, os bancos traseiros ficam em posição mais alta, em relação aos dianteiros, e correm em um trilho longitudinal de 16 cm, permitindo variar o espaço para pessoas e bagagem. Dessa forma, a capacidade do porta-malas vai de 377 a 455 litros.
No modelo nacional, o espaço para pessoas é igualmente interessante, uma vez que a distância entre-eixos do Duster (267 cm) é maior que a do Clio (261 cm). Mas o espaço é fixo e nosso porta-malas fica em 437 litros.
Recolhendo elogios
Apesar de o estilo geral ser o mesmo na versão russa (que é igual à brasileira) e na francesa, eles só compartilham três peças entre si: faróis, portas dianteiras e tampa do porta-malas – afinal, a base mecânica delas é bem diferente.
Olhando é difícil notar. A dupla russa/brasileira teve retoques no capô (com ressaltos mais acentuados) e no para-choque dianteiro (ganhou luzes de posição com leds, na forma de parênteses) – alterações, aliás, que foram feitas pelos designers da Renault do Brasil.
O visual é o ponto forte do Captur, com suas superfícies onduladas e a grade dianteira que expressa a nova identidade da marca. No tempo em que estivemos com o carro, ouvimos diversos elogios por onde rodamos.
A grande altura em relação ao solo não passou despercebida, porém. Visto de lateral, o vão livre prejudica a harmonia do conjunto – além de dificultar o acesso à cabine na traseira, já que atrás a altura é maior do que na frente (a fábrica informa que o vão livre no ponto mais baixo é de 21 cm, mas usando a base da soleira das portas como referência, medimos 25 à frente e 31 atrás).
Esse vão livre alto tem uma vantagem, porém, que é a habilidade de ignorar buracos e quebra-molas.
Por dentro, o projeto é bem executado, com a boa ergonomia e o design do painel que se estende às laterais das portas. Mas aqui também há aspectos negativos.
O plástico das peças do painel é pobre visualmente e duro ao toque (o contato é necessário em partes como os botões de abertura da ventilação). E o mesmo ocorre com o revestimento do volante: o material que imita couro é áspero.
O Captur estreia em duas versões: Zen 1.6 manual e Intense 2.0 automático, ao preço de R$ 78.900 e R$ 88.490, respectivamente. Em junho, a Renault vai apresentar a opção do câmbio automático CVT, que virá com o motor 1.6, na versão de acabamento de entrada Zen e preço intermediário.
A 1.6 usa o mesmo motor SCe flex do Sandero com 120/118cv, acompanhado de câmbio manual de cinco marchas. A 2.0 traz o motor do Duster com 145/143 cv e câmbio automático de quatro marchas.
Desde a versão básica Zen, o Captur vem com quatro airbags (dois frontais e dois laterais), ESP, ar-condicionado, rodas de liga leve aro 17, vidros elétricos nas quatro portas, piloto automático e luzes de posição de led, entre outros itens de série. A central multimídia e a pintura do teto (em preto ou marfim) são opcionais.
A Intense acrescenta à lista ar-condicionado automático, câmera de ré, central multimídia, sensor de chuva, sensor crepuscular, faróis de neblina direcionais e rodas de liga leve diamantadas. Seus opcionais são a pintura do teto e os bancos com revestimento que imita couro.
Pisando fundo
A unidade mostrada aqui é a Intense 2.0. No dia a dia, o modelo agrada pela ampla área envidraçada, que favorece a visibilidade, e a eficiência do isolamento acústico, tanto da parte mecânica (ruídos de motor e câmbio) quanto aerodinâmica (vedação de portas).
Mas faltou indicação de marchas, quando se usa o câmbio no modo manual (na alavanca), e também ajuste telescópico no volante (só existe ajuste de altura).
Na pista de testes, como esperado, seu rendimento ficou no patamar do Duster 2.0 automático. Equipados com os mesmos motor e câmbio, os dois têm pesos aproximados. O Captur pesa 1.352 kg e o Duster, 1.294 kg.
Nas acelerações de 0 a 100 km/h, smpre com gasolina, enquanto o Captur fez o tempo de 13,2 segundos, o Duster ficou com 12,7 segundos. E nas retomadas de velocidade, de 60 a 100 km/h em Drive, o Captur conseguiu a marca de 7,7 segundos, contra 7,2 segundos do Duster.
O Duster foi ligeiramente melhor, mas, de fato, os dois são lentos frente à concorrência (até mesmo o Nissan Kicks, criticado pelo motor 1.6, é quase dois segundos mais rápido no 0 a 100 km/h). Na prática, o motorista precisa pisar fundo para fazer uma ultrapassagem e, dependendo da situação, esperar o câmbio reduzir uma ou duas marchas antes de o carro arrancar.
O câmbio automático de quatro marchas é suave e não compromete no dia a dia, mas está um passo atrás dos rivais em rapidez e eficiência, e tem influência direta no desempenho e consumo inferiores aos dos rivais.
Nas medições de consumo com gasolina, o Captur obteve as médias de 9,2 km/l na cidade e 12,3 km/l na estrada, diante de 8,7 km/l e 11,2 km/l do Duster, respectivamente. Mas esses números são compatíveis com os do segmento de SUVs médios – entre os compactos, o Honda HR-V 1.8 faz 10,4 km/l e 13,1 km/l.
Dinamicamente, o Captur também tem características que podem não agradar a todos. Sua suspensão dura transmite as imperfeições da via para a cabine. Assim como a direção firme, que não filtra as interações dos pneus com o piso. Além de exigir esforço acima da média para ser movimentada.
Isso não compromete a segurança, pelo contrário: garante estabilidade para um veículo que possui o centro de gravidade elevado como um SUV, mas o motorista leva algum tempo para reconhecer esse comportamento e ganhar confiança no veículo.
Quando o Captur Concept foi apresentado, em 2011, o segmento de SUVs era bem menor no Brasil. As ofertas se resumiam a modelos com propostas muito diferentes entre si como Ford Ecosport, Chevrolet Blazer e Pajero TR4. Naquele tempo, um SUV como o Captur seria um modelo revolucionário, mas hoje ele entra em um segmento já congestionado de opções atualizadas.
De frente para os rivais
A Renault aposta alto no design e, de fato, o Captur tem qualidades nesse terreno. Ele é bonito, moderno e sofisticado. Não por acaso seu slogan é “Design à primeira vista”. Mas o Captur não está sozinho nesse cenário. Entre os SUVs compactos, há opções para todos os gostos, do futurista HR-V ao descolado Renegade.
No caso do Renegade, a Jeep foi tão ou mais meticulosa que a Renault ao elaborar seu projeto, com um diferencial: o padrão de acabamento interno. O Renegade é referência nessa área, enquanto o Captur decepciona.
Outro ponto a favor do modelos da Renault é o custo-benefício. Custando R$ 88.490, na opção 2.0 Intense, ele é mais barato que as versões intermediárias ou completas de muitos dos rivais. Exemplos: o Kicks 1.6 SL sai por R$ 91.900 e o Creta Pulse 2.0 é vendido a R$ 92.490. Há, porém, diferenças de conteúdo.
O Captur 2.0 Intense até que não é mal equipado, trazendo central multimídia com GPS e câmera de ré, quatro airbags e ESP. Mas não chega a superar rivais como o Kicks, que traz a mais câmera 360, bancos de couro e seis airbags. O Tracker só tem dois airbags e não traz oESP, mas oferece start-stop, OnStar, bancos elétricos, alerta de pontos cegos e câmbio automático de seis marchas (no Captur, o câmbio tem quatro).
Pelotão de trás
No espaço interno, o Renault também faz boa figura. Ele tem 2,67 metros na distância entre-eixos, enquanto o HR-V mede 2,61 e o Tracker, 2,55. E em seu porta- malas cabem 437 litros, capacidade igualada pelo HR-V (que soma 431 litros do porta-malas com 6 litros de um compartimento sob o assoalho).
Até aqui, pode-se dizer que o Captur se defende com valentia, nos diferentes aspectos analisados. No entanto, na média de desempenho, o Renault é derrotado por todos os concorrentes. Com o tempo de 13,3 segundos, nas provas de 0 a 100 km/h (com gasolina), ele só não foi mais lento que o reconhecidamente vagaroso Renegade (14,4 segundos). Além disso, o Captur também fica devendo um comportamento dinâmico melhor.
O segmento de SUVs está se igualando ao dos sedãs, onde há anos três modelos se revezam na liderança e um grupo briga pelo quarto lugar. Pelo que se vê nesta comparação, o Captur ficou para trás do quinteto porque perde na maioria dos quesitos, destacando-se apenas em design (mas rivaliza com o Jeep) e preço de compra (ganha de todos, porém é menos equipado).
Teste de pista (com gasolina) – Renault Captur Intense 2.0 AT
- Aceleração de 0 a 100 km/h: 13,3 s
- Aceleração de 0 a 1.000 m: 34,7 s – 151,2 km/h
- Velocidade máxima: n/d
- Retomada de 40 a 80 km/h (em D): 5,7 s
- Retomada de 60 a 100 km/h (em D): 7,7 s
- Retomada de 80 a 120 km/h (em D): 9,5 s
- Frenagens de 60 / 80 / 120 km/h a 0: 16,2 / 29 / 66,6 m
- Consumo urbano: 9,2 km/l
- Consumo rodoviário: 12,3 km/l
- RPM a 100 km/h (em D): 2.500 rpm
- Aferição do velocímetro a 100 km/h: 96,7 km/h
Ficha técnica – Renault Captur Intense 2.0 AT
- Preço: R$ 88.490
- Motor: flex, diant., transversal, 4 cil., 1.998 cm3, 16 V, 148/143 cv a 5.750 rpm, 20,9 mkgf a 4.000 rpm
Câmbio: automático, 4 marchas, tração dianteira - Suspensão: McPherson(diant.)/ eixo de torção (tras.)
- Freios: disco ventilado (diant.) / tambor (tras.).
- Direção: elétrica
- Rodas e pneus: 215/60 R17
- Dimensões: comp., 432,9 cm; largura, 181,3 cm; altura, 161,9 cm; entre-eixos, 267,3 cm; peso, 1.352 kg; tanque, 50 l; porta-malas, 437 l
- Equipamentos de série: 4 airbags, ESP, ar-condicionado digital e leds de posição