Compramos um BYD Dolphin para rodar 100.000 km, mas foi cansativo
Compramos um BYD Dolphin para ser o primeiro carro elétrico em 50 anos do Longa Duração. Quantas recargas precisaremos fazer em 100.000 km?
Após 50 anos de Longa Duração, estamos passando dos motores a combustão para os elétricos. O BYD Dolphin estreia em nosso teste de 100.000 km no momento em que o hatch vem sendo responsável por deixar os carros elétricos mais comuns nas ruas brasileiras.
Lançado no final de julho, foi um sucesso instantâneo. Em outubro seus emplacamentos já representavam mais que a soma de todos os outros carros elétricos vendidos no Brasil e fechou 2023 como o mais vendido.
Agora podemos falar que considerávamos a compra de um carro elétrico havia pelo menos três anos, mas nenhum dos candidatos anteriores vingou no mercado brasileiro. Agora, aparentemente, participaremos ativamente do momento em que os EVs estão deixando de ser carros de nicho no Brasil.
Até havia um receio de não conseguirmos comprar o carro ainda em 2023, por conta de relatos em redes sociais de clientes que encomendaram o Dolphin e ainda aguardam por seu carro. Mas, buscando em classificados, não tivemos dificuldade para encontrar o Dolphin a pronta entrega em São Paulo.
Primeiro chegamos à Osten, que sinalizou ter uma unidade na cor cinza disponível (rosa, amarelo e preto demorariam de 15 a 45 dias), de um cliente que não estava conseguindo aprovar o financiamento. Deve ter conseguido, pois, mesmo que tenhamos demonstrado interesse, nunca mais retornaram nossas mensagens.
Buscamos outro carro. Curioso foi ligar para o número do anúncio e ser atendido em uma revenda Mercedes–Benz: a McLarty Maia vem aproveitando a loja Mercedes enquanto sua concessionária BYD não fica pronta. Até ficamos animados, esperando um atendimento premium. Deixamos o telefone e logo o vendedor responsável por BYD retornou nosso contato.
Podíamos escolher a cor do carro – havia todas a pronta entrega. Por unanimidade, ficamos com o cinza, sempre acompanhado do interior com tons de bege e cinza. O amarelo, que parece cor de maionese, não nos agradou, o rosa parece mais adequado a marcas de cosméticos e evitamos a cor preta devido aos reflexos nas fotos.
O processo de compra foi cansativo. Nossa intenção seria dar um carro da editora como entrada e pagar o resto à vista. Levamos o carro e pagamos R$ 320 pelo laudo pericial, que deveria sair em 24h. Mas passamos duas semanas cobrando um parecer, até que disseram que não aceitariam o carro.
A continuação também foi letárgica e sem transparência: não deram um passo a passo ou informaram as condições e demandas de documentação, tudo era pedido aos poucos, atrasando o processo. Até nosso departamento financeiro ficou com uma má impressão, mas não havia mais tempo para desistir e buscar outro carro em outra loja. Foi um processo de 11 dias até recebermos o carro, exatamente, um mês depois do primeiro contato.
Pagamos os R$ 149.800 de tabela, cobrados desde o lançamento. Mas não aceitamos pagar R$ 2.908 de documentação – ainda mais considerando que o IPVA 2023 corresponderia a menos de duas semanas. Usamos nosso despachante.
Pela demora, chegamos a correr o risco de perder benefícios que vinham sendo prometidos desde a Black Friday aos clientes BYD: 5 anos (ou 100.000 km) de revisões grátis, carregador de parede e um ano de seguro grátis.
Nossa sorte é que o benefício foi estendido várias vezes ao longo de novembro e dezembro. Mas o vendedor não parecia ter vontade de agilizar o processo para garantirmos isso. Tanto que perguntamos sobre o seguro grátis muitas vezes e só na véspera da entrega soubemos que nosso perfil não teria direito ao seguro por não ter condutor principal – no site da BYD, só excluíam do benefício motoristas de aplicativo e quem exerce atividade remunerada.
Tivemos que correr para resolvermos o seguro por nossa conta. O custo da apólice não foi tão alto: R$ 1.570. Pedimos algum acessório, como uma película nos vidros, já que não teriam esse custo. Em vão. Só na entrega do carro disseram que, para darem algum brinde, isso deveria ter sido pedido antes do faturamento do carro. “Mas vocês têm cinco revisões grátis, é isso que eu consigo”, nos disse o vendedor na entrega.
Só que esse benefício é direito de todos os compradores para o fim de 2023, assim como o Wallbox, que veio no porta-malas do carro. Se tivéssemos respostas sobre o seguro antes do faturamento, certamente pediríamos algo antes. Vale frisar que o BYD Dolphin não vem com carregador doméstico, que conecta em tomadas de 110 V e 220 V.
Enfim, a entrega do nosso BYD Dolphin
Chegamos à concessionária no horário agendado e a entrega não teve muita cerimônia. O vendedor se limitou a explicar a programação de horário de recarga e algumas funções confusas na central multimídia, como o “ESC OFF”, que, quando desligado, significa que o controle de estabilidade está ativo.
Também existe uma tela “Porta e janela”, que permite habilitar funções como o fechamento global dos vidros e de botões nas maçanetas para travamento e destravamento das portas, mesmo que o Dolphin não tenha essas funções. De acordo com o vendedor, “o certo seria que essa tela não existisse, mas está aqui porque o sistema é o mesmo das versões acima”, no caso, o Dolphin Plus. Em seguida apresentou os modos de condução, que aparecem na tela e nos botões no console.
“Eu não vou explicar todas as informações da central multimídia porque você não vai lembrar de tudo. Então eu sugiro que leia o manual, vá utilizando para aprender e veja as avaliações desse carro na internet”, disse o vendedor durante a entrega. Sem ele saber, jogou essa responsabilidade para nós.
Quando nossa repórter já estava se preparando para sair, ele voltou: “Putz, eu esqueci de te mostrar como funciona o câmbio”. Só então ele disse que é necessário esperar um pouco para entrar no Neutro e que ao apertar o botão Parking o freio de estacionamento é ativado.
Se a compra demorou, a entrega apressada não levou mais de 20 minutos e isso é, no mínimo, curioso. O BYD Dolphin é e será o primeiro carro elétrico de muita gente. Então valeria explicar que seu motor elétrico tem 95 cv e 18,4 kgfm, que a bateria tem 44,9 kWh e que sua potência máxima de recarga é de 6,6 kW em corrente alternada (o carregador que acompanhou o carro é de 7,5 kW) e 60 kW em corrente contínua (recarga rápida), sendo suficiente para sair de 30 a 80% em 30 min. Poderiam explicar sobre o aplicativo para ter acesso remoto ao carro – que ainda não conseguimos usar.
Em 2015, tivemos um elétrico na frota. Foi um Nissan Leaf. Na ocasião, o carro cedido pela fábrica, em comodato por um ano, rodou 10.000 km conosco. Nosso convívio ficou limitado pela parca autonomia e pelos poucos carregadores que existiam na época, uma situação que vem melhorando dia após dia. Mas estamos nos preparando psicologicamente para programarmos melhor nossas viagens, para lidar com carregadores com defeito e filas de espera, e também para entender o processo de instalação de carregadores domésticos.
Em nossos testes, a autonomia projetada do Dolphin foi de 356 km. Se assim for, precisaremos fazer 281 recargas até o final do teste. Será uma longa jornada e você está convidado a acompanhar isso conosco aqui, na revista e em nosso canal no YouTube.