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Longa Duração: o desmonte do Toyota Etios

Desmontado após 60.000 km, Etios mostra que é robusto e confiável. Mas há espaço para evoluir

Por Péricles Malheiros Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 17 Maio 2018, 15h54 - Publicado em 14 jul 2014, 16h23
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  • Desmonte do Etios modelo 2013 da Toyota, após o teste de Longa Duração (Pedro Rubens/Quatro Rodas)

    *Reportagem originalmente publicada em junho de 2014

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    Gente de concessionária e da própria Toyota pede sigilo do nome, mas o que sai da conversa com cada um é um discurso uníssono: faltou humildade à marca, que decidiu adotar sua boa fama como a maior ferramenta de venda do Etios – uma prática legítima e justificável, mas não a ponto de se sobrepor à pobreza de estilo e equipamentos do produto.

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    Hoje, nos corredores da Toyota, só se fala numa reformulação geral e urgente no Etios. Quando ele foi lançado, em 2012, a marca queria brigar com os sedutores Chevrolet Onix e Hyundai HB20.

    Passados menos de dois anos, os números mostram que o Etios ficou no patamar de pares mais humildes, como Uno, Gol e Celta.

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    Em dezembro de 2012, o Longa Duração tirou um Etios XS 1.3 para dançar. Valsamos juntos por 60.000 km e dá para dizer: apesar de ficar no básico dois pra lá, dois pra cá, ele não tropeça nem pisa no pé. É um carro simples, mas eficiente, gostoso de dirigir e atendido por uma boa rede.

    Como explicar o baixo volume de vendas, então? Visual simplório (por dentro e por fora) e conteúdo dissonante com o novo perfil do consumidor.

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    Hoje, carros de entrada têm sistema multimídia, sensor de estacionamento e o mais importante: visual caprichado.

    Quando encomendamos nosso carro, já havíamos decidido que o motor seria um 1.3. A opção pela versão XS (de R$ 38.790) se deu pela melhor relação custo-benefício.

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    No momento do desmonte, em junho de 2014, um Etios com configuração equivalente ao de Longa sai por R$ 36.790. Na simulação de venda no mercado de usados, mostrada na edição anterior, a melhor oferta foi de R$ 26.000.

    Jogo da conquista

    Antes de falar do desmonte, vale lembrar como o Etios se relacionou com a gente e também com a rede Toyota. Acostumada a controlar a subjetividade, a equipe de QUATRO RODAS direcionou suas críticas iniciais muito mais à falta de equipamentos a bordo do que ao design, no mínimo, controverso.

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    Etios em uma das viagens durante os 60.000 km no teste de Longa Duração (Reprodução/Quatro Rodas)

    Capô com a face interna com pintura parcial, chave longa e sem acionamento das travas a distância, ausência de alerta de esquecimento de luzes acesas, indicador do nível de combustível minúsculo, painel central com visualização imprecisa do velocímetro e falta de ajuste de altura dos cintos e coluna de direção: a lista de observações negativas era extensa.

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    Mas também é verdade que, uma vez superada a frustração inicial, os elogios começaram a aparecer: “É um carro surpreendentemente bom de dirigir, muito ágil nas arrancadas e seguro nas frenagens e curvas”, disse o redator-chefe Zeca Chaves.

    Sobre a direção com assistência elétrica, o editor responsável pelo Longa Duração, Péricles Malheiros, disse: “A calibração do sistema é boa. Leve com o carro parado, sem flutuar em velocidade. Também gosto do reduzido diâmetro de giro, o que facilita as manobras. Mas, nessa mesma situação, o volante dá quase quatro voltas de um batente a outro, o que tira agilidade”.

    Ao lado da Honda, a Toyota tem fama de possuir um pós-venda imbatível. Pergunte para quem tem um modelo dessas marcas.

    Etios na simulação de venda pela rede Toyota (Reprodução/Quatro Rodas)

    Provavelmente, esse consumidor falará primeiro do atendimento cordial, pontual, eficiente e com preço justo antes mesmo de falar do próprio carro.

    A trajetória do Etios confirmou a fama, mas mostrou que ainda há espaço para evolução. Com paradas a cada 10.000 km, visitamos na rede em cinco ocasiões, todas em São Paulo.

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    Em nenhumas delas houve tentativa de cobrança acima do valor sugerido pela fábrica. Pelo contrário, concederam até pequenos descontos.

    Cabem aqui duas sugestões à Toyota: deixar a planilha de preços menos escondida em seu site e informar também o conteúdo de cada revisão.

    Mas voltemos à rede. Felizmente, as concessionárias Toyota não têm o péssimo hábito de empurrar serviços desnecessários. Tudo o que elas sugeriram extra à revisão precisava, de fato, ser substituído.

    O caso mais comum foi o filtro de cabine, trocado ao custo médio de R$ 46 em quase todas as paradas (a única exceção foi a revisão dos 10.000 km). Eis outra sugestão: incluir o item no plano de manutenção.

    Agora os deslizes. Na revisão dos 30.000 km, a Tsusho assumiu ter causado um pequeno dano na carroceria, durante uma manobra.

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    Mais tarde, aos 40.000 km, a Caltabiano se descuidou e deu um banho de fluido no sistema de freio. Ambas assumiram seus vacilos antes que nós os descobríssemos.

    A Tsusho fez o reparo de funilaria e a Caltabiano informou ter trocado a pinça de freio do lado direito. No desmonte, porém, notamos que a Caltabiano substituiu também as pastilhas (de ambos os lados), sem nossa autorização. Mas foi a Tsusho que resolveu um leve e intermitente engasgo do motor em curvas.

    “O filtro de sucção da bomba de combustível tem substituição prevista a cada 60 000 km, mas antecipei a troca porque ele estava obstruído”, disse o técnico à época. Ele ainda fez uma revelação surpreendente: “Havia uma sacola plástica na boca do tubo que leva ao sistema de admissão, dentro da caixa do filtro de ar do motor. Provavelmente alguma autorizada a colocou ali para aplicar um jato de ar e se esqueceu de removê-­la”.

    A calmaria que foi o teste se repetiu no desmonte. Câmbio, embreagem, direção, acabamento e sistema elétrico chegaram aos 60.000 km em perfeito estado.

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    “O interior, apesar de simples, não tinha plásticos deformados ou zonas de fixação esbranquiçadas, o que indicaria movimentação excessiva e, consequentemente, barulho”, elogia Fabio Fukuda, nosso consultor técnico e responsável pelo desmonte dos carros de Longa Duração.

    Entrada proibida

    O motor também passou com louvor, mas foi vítima de um mau funcionamento do sistema de partida a frio – coincidentemente, uma quase repetição do que vimos no desmonte do Hyundai HB20, na edição de novembro de 2013.

    “As válvulas de admissão estavam com severo acúmulo de material carbonizado brilhante e flexível. Acontece que essas são características de excesso de gasolina, não de etanol. Como os carros flex do Longa são abastecidos com etanol do início ao fim do teste, o sistema de partida a frio virou o suspeito número 1”, diz Fukuda.

    Painel pequeno e centralizado também rendeu críticas (Silvio Gioia/Quatro Rodas)

    O que ocorreu em nosso Etios foi uma má vedação do injetor que posiciona a entrada de gasolina em cada um dos quatro dutos do coletor de admissão.

    “O fluxo de ar da atmosfera em direção ao motor gera vácuo no coletor. Nessa situação, a gasolina que fica entre o bico e o dispositivo é sugada. Encontrei traços evidentes de gotejamento de gasolina nas galerias do coletor e no cabeçote, antes das válvulas”, diz Fukuda.

    No mais, o motor do Etios saiu de cena vendendo saúde. Comando de válvulas, virabrequim, bronzinas e volante do motor estavam com todas as medidas dentro da faixa de tolerância da Toyota, assim como os cilindros, pistões e respectivos anéis.

    A aferição da pressão de compressão dos cilindros confirma o pique de zero-quilômetro do motor 1.3.

    “Obtivemos os mesmos 250 psi nos quatro cilindros e nas três rodadas de medição que o teste-padrão exige. Isso é raríssimo de acontecer e denota alta qualidade de projeto, construção e materiais do motor”, diz Fukuda.

    Vocação urbana: Etios rodou 23.103 km (38,2 do teste) na cidade (Silvio Gioia/Quatro Rodas)

    De acordo com o material técnico fornecido pela Toyota, esse motor, quando novo, deve gerar 261 psi. Rodado, são esperados 196 psi, desde que não haja diferença superior a 14,5 psi entre os cilindros.

    Sai um, entra outro

    Após 60.000 km, o Etios e sua rede de assistência foram analisados e revelaram bem mais virtudes que defeitos. Ambos saem aprovados, mas há espaço para melhorias.

    O hatch se despede da frota, mas seguiremos de olho nas concessionárias Toyota. Afinal, o teste do Corolla no Longa Duração está só começando.

    PRESSÃO TOTAL

    (Pedro Rubens/Quatro Rodas)

    Depois de empurrar o Etios por 60 000 km, o 1.3 mostrou nível de pressão de compressão dos cilindros de 250 psi. Esse valor é próximo do que se vê num motor zero-quilômetro (261,1 psi) e muito longe do limite mínimo (195,8 psi).

    Outra prova da excelente vedação da câmara de combustão está no fato de a cabeça dos quatro pistões estar limpa, quase isenta de material carbonizado.

    0 A 100

    (Pedro Rubens/Quatro Rodas)

    Velas de irídio são mais caras que as comuns, mas duram muito mais. No Etios, o plano de manutenção prevê a troca somente aos 100 000 km.

    No entanto, é comum ouvir a informação de que elas se dão melhor em motores a gasolina, pois elementos contidos na água aplicada no etanol hidratado atacaria o metal.

    Não vimos, porém, qualquer sinal de deterioração nas velas do nosso Etios. E olha que foram 60.000 km de utilização exclusiva de etanol.

    NADA A DECLARAR

    (Pedro Rubens/Quatro Rodas)

    A ausência de partículas metálicas no óleo do câmbio antecipou o perfeito estado do conjunto. Engrenagens, rolamentos e sincronizadores estavam sem qualquer indício de funcionamento irregular, assim como garfos, retentores e luvas de engate.

    O disco de embreagem encerrou o teste com material de atrito com 1,2 mm de espessura, longe do 0,3 mm adotado como medida mínima tolerada pela Toyota.

    MUITO TRABALHO E NADA DE FOLGA

    (Pedro Rubens/Quatro Rodas)

    O Etios venceu os buracos de nossas ruas e estradas: as molas não tinham sinais de batida de elo e os amortecedores não mostraram sinais de vazamento. A ausência de áreas ressecadas ou folga nas buchas e pivôs aprovam as bandejas de suspensão.

    ALTOS E BAIXOS

    (Pedro Rubens/Quatro Rodas)

    De modo geral, o nível de ruído na cabine se elevou no decorrer do teste, mas água e pó ficaram do lado certo: o de fora.

    O desmonte ainda revelou plugues com boa pressão e estabilidade de conexão e chicotes adequadamente envolvidos por espuma. A mesma ausência de pintura notada na face interna do capô foi detectada em outros pontos da carroceria.

    CAIXA FORTE

    (Pedro Rubens/Quatro Rodas)

    Assim como a suspensão, a caixa de direção suportou bem o péssimo asfalto brasileiro. Aos 60 000 km, se mostrou sem folga nos braços axiais ou terminais.

    A leveza do volante nas manobras, proporcionada pela assistência elétrica da direção, foi positivamente lembrada do início ao fim do teste.

    AVISO PRÉVIO

    (Pedro Rubens/Quatro Rodas)

    Na revisão de 40 000 km, a autorizada derramou fluido sobre o sistema de freio. Ela assumiu o erro e disse que, por causa disso, trocou uma das pinças.

    No desmonte, porém, descobrimos que ela também substituiu – sem nossa autorização – as pastilhas.

    CAUSA E CONSEQUÊNCIA

    (Pedro Rubens/Quatro Rodas)

    Ao permitir a passagem desnecessária de gasolina para o motor, o sistema de partida a frio foi o ponto fraco do Etios. Cabeçote e válvulas de admissão foram atingidos pela invasão de gasolina.

    Consultada, a Toyota informou não ter registro de casos semelhantes e que precisaria analisar o nosso caso específico para se posicionar oficialmente.

    FORA DOS PLANOS

    (Pedro Rubens/Quatro Rodas)

    A troca do filtro do ar-condicionado foi (corretamente) sugerida em quase todas as revisões. Ponto positivo para as concessionárias e negativo para a fábrica, que deveria incluir o item no plano de manutenção.

    PEGANDO NO BATENTE

    (Pedro Rubens/Quatro Rodas)

    A suspensão do Etios foi bem no teste, mas o batente superior dos amortecedores começava a apresentar sinais de desgaste. Em pouco tempo, seriam responsáveis por trancos secos quando molas e amortecedores fossem comprimidos ao máximo.

    (Reprodução/Quatro Rodas)
    (Reprodução/Quatro Rodas)

    VEREDICTO

    Íntegro, confiável e honesto: o Etios faz jus à boa fama dos japoneses. A questão é que a concorrência colocou todas essas qualidades numa embalagem bonita.

    Beleza é algo subjetivo, mas é inegável: o Etios não chama a atenção de quem prioriza estilo. Ele não encanta os olhos, mas conquista quem aceita conhecê-lo.

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