Como anda (e voa) a Ford Ranger Raptor, picape de 397 cv e R$ 448.600
Picape esportiva tem motor V6 biturbo com 397 cv e suspensão preparada para encarar as trilhas de off-road extremo, mas preço é de picape grande V8
A Ford Ranger decidiu encerrar bem o ano de 2023. Depois da estreia da sua nova geração – que inclusive conquistou o prêmio Melhor Compra 2023 como a melhor picape média do mercado -, se tornou a picape média mais moderna à venda no país. Agora também passa a ser a picape média mais potente, com o lançamento da Ranger Raptor, que é mais do que uma picape esportiva.
Parece exagero, mas a Ford Ranger Raptor inaugura um subsegmento de picapes focadas no alto desempenho e que vai além da adoção de suspensão mais parruda. O sobrenome Raptor, que se tornou conhecido pela F-150 Raptor, agora leva características únicas para a Ranger.
Picape sem rivais
A primeira combinação inédita está na mecânica. Nada de motor turbodiesel ou V8 aspirado: a Ranger Raptor se rende ao motor V6 3.0 biturbo com injeção direta a gasolina, que gera 397 cv e 59,45 kgfm. O câmbio é automático de dez marchas – neste caso, o mesmo que equipa o Mustang Mach 1.
Some a isso o chassi amplamente modificado. com foco no desempenho. A inspiração para o acerto são os carros da corrida de 1000 Milhas de Baja, no deserto mexicano. O carro precisa suportar saltos, fortes ondulações e manter a estabilidade. A Ford é suspeita para falar, mas julga que a Ranger Raptor tem o melhor conjunto já produzido pela Ford Performance. Coube a nós colocar isso à prova na terra, em alta velocidade.
Como anda a Ranger Raptor?
QUATRO RODAS foi até o campo de provas da Ford em Tatuí, no interior de São Paulo, para finalmente poder andar na Ranger Raptor em um tipo de ambiente que não é o usual para uma picape 4×4. A marca preparou uma série de experiências dinâmicas, onde pude testá-la primeiramente na terra. Confesso que foi assustador, mas no bom sentido.
O primeiro “susto” foi chegar a 100 km/h em pista terra batida com alguns buracos sem ao menos balançar no assento, tendo conforto e estabilidade de asfalto. Não me contive e soltei um “Inacreditável!” para o funcionário da marca que me acompanhava no carona e, segundo ele, eu não era única a ficar incrédula com o comportamento da carroceria nessa condição.
Resolvi entrar em uma curva mais fechada em uma velocidade maior e nada da carroceria rolar e a aderência dos pneus com diâmetro de 33” (que calçam rodas de 17 polegadas) também se tornou notável.
A resposta rápida do motor V6 também contribui para essa sensação de segurança. Um sistema que tenta eliminar o lag dos dois turbocompressores, fazendo com que estes girem por até três segundos após o motorista tirar o pé do acelerador, ajuda. O motor responde imediatamente à próxima pisada e ainda ajusta seus parâmetros a cada uma das dez marchas do câmbio automático.
Mas, essa experiência “assustadora” na terra a bordo da Raptor só é possível graças ao conjunto de suspensão: do tipo duplo A na dianteira, com braços de liga de alumínio e eixo rígido na traseira com molas helicoidais. É um conjunto completamente diferente das outras Ranger, que nascem em outra fábrica: as civis vêm da Argentina e a Raptor vem da Tailândia.
O sistema com estrutura reforçada ainda permite um curso de suspensão maior e isso contribui para que a Raptor possa ultrapassar obstáculos severos com segurança sem perder a estabilidade. São 25,6 cm de curso no eixo dianteiro (32% maior que na linha Ranger) e 29 cm na traseira (18% maior).
Para controlar o movimento, escalaram amortecedores de competição Fox Live Valve Shocks 2.5, com funcionamento ativo que se adapta às condições do terreno. Seu controle utiliza um acelerômetro e sensores em cada canto da carroceria para medir múltiplas variáveis, 500 vezes por segundo, e ajustar individualmente o amortecimento de cada pistão, por meio de câmaras de compensação com controle eletrônico.
Outra característica exclusiva para o fora de estrada é o diferencial traseiro e dianteiro blocante, que pode ser acionado tanto por um botão físico no console como pelo navegador off-road, na tela da central multimídia. Ele forma um eixo rígido para que as rodas girem ao mesmo tempo, evitando que a picape patine ou atole.
E para aguentar as trilhas e proteger os sistemas vitais do carro, há protetores na parte inferior da carroceria feitos com chapas de aço de 2,3 mm. É para não ter problemas com direção, cárter, transmissão e tanque de combustível.
Preparada para o modo “pular”
Tive a oportunidade de acompanhar a pilotagem de um piloto de testes da Ford para que eu pudesse vivenciar todas as manobras que a Raptor é capaz em uma pista de terra batida. O “passeio” de 10 minutos teve direito a derrapagem em curvas ao desligar a tração 4×4 (fica só com a tração traseira), chegar a quase 200 km/h e no fim dar um salto digno de filme assim como o que vê na foto abaixo.
E se você também quiser fazer igual, existe até um modo de amortecedor chamado “Jump Mode”, que enche e enrijece os pistões para absorver o impacto. O modo pode ser acionado por meio de um botão no volante e ainda permite o modo “Pedal Down” para aceleração máxima, no qual os pistões dos amortecedores ficam enrijecidos para dar mais estabilidade.
Há 7 modos de condução, sendo 3 deles inéditos no Brasil. Os já conhecidos são: Normal, Lama/Terra, Escorregadio e Areia. Agora, a picape também terá o Rock Crawl, focado para controle em baixas velocidades, o Esportivo, que o nome já o define, e o Baja, que é um modo exclusivo focado em performance.
Apesar de não ser a mais potente, a nova Ranger esportiva pode ir de 0 a 100 km/h em apenas 5,8 segundos, de acordo com a Ford. É mais rápida que os 6,4 s declarados para a 1500 Rebel e os 6,9 s declarados para a Rampage.
Design agressivo
Na frente é possível observar uma grade de aço preta com a escrita “Ford” bem grande de um lado ao outro. Ainda faróis em LED matriciais duplos (indisponíveis nas demais versões vendidas no Brasil), capô com vincos mais fortes e um protetor dianteiro na cor prata.
As laterais têm para-lamas mais encorpados, que dão ar de robustez ao carro, e as rodas de liga leve de 17 polegadas na cor preta. Adesivos exclusivos completam a decoração da Ranger Raptor.
A traseira não tem muitas novidades, apenas lanternas em LED com máscara preta e duas grandes saídas de escapamento. A caçamba tem protetor Flexbed, tomadas de 120 V e 12 V, pontos de ancoragem e tampas para instalação de acessórios nas laterais.
Por dentro, a versão esportiva tem detalhes na cor laranja, borboletas para troca de marcha, além de botões para ajustes na direção, do escapamento, dos amortecedores e do modo de condução do veículo.
O painel tem duas grandes telas, sendo uma de instrumento digital e outra de infoentretenimento, ambas de 12,4 polegadas. Os bancos também são esportivos e em forma de concha, revestidos em couro e suede com inspiração em aviões de combate. Além disso, eles ainda são equipados com 10 ajustes elétricos.
Caso em nosso teste, que será feito em breve, se confirme o 0 a 100 km/h em 5,8 segundos, a Raptor pode ser considerada a picape mais rápida do Brasil. E esse desempenho somado a sua ímpar capacidade off-road e o preço de picape full-size fazem com que a Ranger Raptor inaugure um novo segmento: picapes esportivas fora de estrada.
Porém, ela pode ganhar em breve a companhia da Toyota Hilux mais potente da história, que pode ser equipada com motor V6 3.5 de 415 cv. Um embate que vale qualquer espera para ser visto, não é mesmo?
Quanto custa a Ford Ranger Raptor?
Sem rivais diretos, a Ford Ranger Raptor tem preços na faixa das picapes grandes V8: custa R$ 448.600. Na prática, é R$ 75.710 mais cara que a Toyota Hilux GR-Sport (R$ 372.890), também com preparação off-road, mas com motor 2.8 turbodiesel com 224 cv e 56 kgfm – quase a metade da potência da Raptor. Nesse caso, a GR-Sport não pode ser considerada uma concorrente direta nem pelo preço e nem pelo conjunto mecânico.
A Ram 1500 Rebel, por exemplo, traz motor V8 aspirado que chega aos 400 cv e custa R$ 469.990 – uma diferença mais aceitável para Raptor: pouco mais de R$ 21.000. A questão aqui é que a Ram é muito maior em todas as dimensões, oferece um espaço interno ainda mais generoso e não tem a mesma preparação e vocação fora de estrada que a Raptor – também não pode ser encaixada como uma rival.
Ficha técnica – Ford Ranger Raptor
Motor: gasolina, dianteiro, longitudinal, 6 cil. em V, 2.995 cm³, 24V, 397 cv a 3.500 rpm, 59,45 kgfm a 2.000 rpm
Câmbio: automático, 10 marchas, tração 4×4 sob demanda
Direção: elétrica
Suspensão: Duplo A (diant.), eixo rígido com helicoidais (tras.)
Freios: disco ventilado nas quatro rodas
Pneus: 285/70 R17
Dimensões: comprimento 538 cm; largura, 220,8 cm; altura, 192,2 cm; entre-eixos, 327 cm; peso, 2.415 kg; tanque de combustível, 82 l; caçamba, 1.250 l; carga útil, 715 kg