Chevrolet S10 2025 muda (muito), mas é suficiente para desbancar a Ford Ranger?
A S10 chega renovada à linha 2025. Mas, como sempre, a rival Ranger finca pé para não ceder um centímetro de seu território. Veja como foi este confronto
Enquanto a Toyota Hilux segue com folga à frente no segmento das picapes médias, outras duas rivais históricas travam uma apertada disputa pela vice-liderança. De janeiro a junho de 2024, foram 12.360 unidades emplacadas da Chevrolet S10, contra 12.766 da Ford Ranger, segundo a Fenabrave.
É por isso que alinhamos as duas aqui: será que a picape da GM ganha fôlego suficiente para desbancar de vez a da Ford, tida como atual referência do segmento?
Para o comparativo, convocamos as versões topo de linha das picapes. De um lado, a renovada S10 na configuração mais completa High Country, que custa R$ 307.990. Do outro, a Ranger Limited, a partir de R$ 326.990. A Ford que aparece nas fotos estava equipada com itens opcionais, que elevam seu preço a R$ 349.990. Mas esse conteúdo extra foi desconsiderado para efeito de comparação com a S10.
Agradecemos à concessionária Ford Andreta Jundiaí, que gentilmente cedeu a unidade para fotos. A Ford não dispunha da picape em sua frota, comprometida em tarefas de ajuda humanitária aos afetados pelas enchentes no Rio Grande do Sul.
As diferenças entre S10 e Ranger começam no visual, que segue escolas diferentes. A S10, que passa a se inspirar nas americanas Colorado e Silverado, aposta em traços mais robustos, com poucos vincos e faróis mais altos. A Ranger segue o estilo da F-150, tem uma aparência mais refinada, com volumes e vincos pronunciados, e faróis de formatos irregulares.
Na S10, apesar das mudanças que parecem se tratar de uma nova geração, alguns pontos, como laterais e traseira, denunciam que é o mesmo modelo de 2012. Em ambas, faróis e lanternas têm leds e as rodas são de 18 polegadas – mas com pneus urbanos na S10 e de uso misto na Ranger.
Assim como por fora, o interior da S10 passou por uma evolução digna de nova geração. O desenho também se inspira na Silverado, com traços e elementos mais horizontais, além de um acabamento melhorado, com variedades de materiais e texturas. A parte central, que repete o tom de bege dos bancos, tem revestimento e é macia.
Outros pontos, no entanto, mostram a idade e a simplicidade da picape da Chevrolet, como a alavanca do câmbio e seu entorno, o freio de estacionamento comum, as portas com plástico rígido nas partes superiores e os antiquados comandos do ar-condicionado, que é automático e digital, mas de apenas uma zona. O quadro de instrumentos tem 8” e a multimídia, 11”.
Na Ranger, a qualidade percebida é maior, com arremates mais bem feitos, materiais mais refinados e botões de toque suave. Há porções macias no topo do painel e das portas dianteiras, além de freio de estacionamento eletrônico, alavanca de câmbio mais moderna (que volta sozinha para a posição P ao desligar o veículo), ar digital bizona e uma tela vertical para a multimídia, com 12”.
O quadro de instrumentos tem as mesmas 8” da rival – nas fotos, a tela maior, de 12,4”, faz parte do tal pacote de itens opcionais mencionado antes.
Ainda entre os equipamentos, as picapes revelam altos e baixos. As duas têm Android Auto e Apple CarPlay sem fio, assistente de permanência em faixa, piloto automático (convencional), faróis com facho alto automático, coluna de direção com ajustes de altura e profundidade (pela primeira vez na S10), sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, frenagem automática de emergência e câmera de ré.
A S10 traz ainda alertas de pontos cegos e de tráfego cruzado traseiro, mas fica devendo, em relação à Ranger, um airbag (são seis, contra sete na rival), leitura de placas de velocidade e modos de condução, que são em número de seis na Ranger (Normal, Eco, Rebocar/Transp., Escorregadio, Lama/Terra e Areia).
A Ford se dá melhor também no espaço. No banco traseiro, ela supera a GM, apesar de ter um túnel central mais elevado. Outra vantagem está na presença de saídas de ar-condicionado traseiras, inexistentes na S10. Ao menos as portas USB (uma do tipo A e uma do tipo C) se repetem nas duas picapes.
Já no espaço para bagagens, é preciso atenção para alguns pontos: são 1.250 litros na caçamba da Ranger, contra 1.329 litros na da S10. O volume considerado para a picape da GM, no entanto, é sem o protetor de caçamba, que não é de série – ao contrário da concorrente. Não há divulgação sobre o número com o protetor plástico, mas esse item deve colocar o compartimento em pé de igualdade com o da rival. A capacidade de carga é pouco melhor na S10: 1.044 kg, contra 1.023 da Ranger: 21 kg apenas.
A S10 2025 também passou por evoluções mecânicas. O motor 2.8 turbo diesel agora rende 207 cv de potência e 52 kgfm de torque (ganhou 7 cv e 1 kgfm) e passa a ser acompanhado por um câmbio automático de oito marchas (antes, eram seis), emprestado da Colorado.
O sistema tem marchas bem escalonadas e realiza as trocas com agilidade. A Ranger, por sua vez, vem com motor V6 3.0 turbo diesel de 250 cv e 61,2 kgfm e câmbio de dez marchas, com trocas ainda mais ágeis que na concorrente. Ambas têm tração 4×4 com opção de reduzida, mas apenas a Ranger tem opção de tração automática nas quatro rodas.
Apesar de mais potente, a Ranger empatou com a S10 nas provas de aceleração de 0 a 100 km/h. Ela fez o tempo de 9,4 segundos, enquanto a S10 gastou 9,3 segundos. Porém, a força do motor maior apareceu nas retomadas de velocidade. De 40 a 80 km/h, a Ford cravou 3,7 segundos, ante 4,4 segundos da Chevrolet.
A S10 brilhou no consumo, com as médias de 10 km/l na cidade e 12,6 km/l na estrada, contra 7,6 km/l e 10,7 km/l, respectivamente. Em mais um contrabalanço, a Ford mostrou-se consideravelmente mais silenciosa no dia a dia, mesmo que a GM use pneus urbanos (menos barulhentos).
O nível de ruído é outro sinal de que a S10 tem um projeto mais antigo. Isso aparece na dirigibilidade, mais bruta. Há quem goste e, em alguns momentos, é realmente divertido. Mas, para uso diário, a suspensão com mais balanço, que faz com que todos os ocupantes (especialmente os traseiros) pulem a todo tempo, acaba por incomodar. Em velocidades mais altas, há boa estabilidade, mas a carroceria rola nas curvas. Não dá para ignorar, porém, a evolução da suspensão e da direção em relação ao modelo anterior.
A Ranger, por sua vez, tem comportamento dinâmico que se aproxima mais ao de um automóvel de passeio na dirigibilidade, com suspensão confortável, mas mais firme para rodar com menos saltos e sacolejos por qualquer que seja o terreno.
Até há balanços, naturais de toda picape média, mas bastante reduzidos em relação à concorrente. Isso torna a convivência mais amigável e menos cansativa no dia a dia, especialmente considerando um uso majoritariamente urbano e em asfaltos ruins. Estabilidade e controle direcional da Ford também são superiores.
A S10 2025 evoluiu a ponto de ser confundida com uma nova geração. Ela deverá seguir à frente da Ranger em vendas, até por ter maior variedade de versões, como cabine simples e chassis, mas não rouba o posto de referência do segmento da rival.
A Ranger ganha o comparativo por ter um projeto mais moderno, melhor acabamento, mais tecnologia e uma dirigibilidade mais amigável, fazendo valer os 6,16% a mais de investimento na hora da compra.
Veredicto
A Ranger Limited ganha por ser mais moderna, bem acabada e tecnológica, apesar de beber demais. Mas é preciso reconhecer a evolução da nova S10.
Ficha técnica
Ranger – Motor: diesel, dianteiro, long., 6 cil. em V, 2.999 cm³, 24V, 250 cv a 3.250 rpm, 61,2 kgfm a 1.750 rpm Câmbio: automático, 10 marchas, tração 4×4 Direção: elétrica Suspensão: McPherson (diant.), eixo rígido com molas semielípticas (tras.) Freios: disco ventilado Pneus: 265/55 R20 Peso: 2.357 kg Dimensões: comprimento, 537 cm; largura, 220,8 cm; altura, 188,4 cm; entre-eixos, 327 cm; tanque de comb., 80 l; caçamba, 1.250 l; carga útil, 1.023 kg; capac. imersão, 800 mm
S10 – Motor: diesel, dianteiro, longitudinal, 4 cil., 2.776 cm³, 16V, 207 cv a 3.400 rpm, 52 kgfm a 2.000 rpm Câmbio: automático, 8 marchas, tração 4×4 Direção: elétrica Suspensão: McPherson (diant.), eixo rígido com molas semielípticas (tras.) Freios: disco ventilado (diant.) e tambor (tras.) Pneus: 265/60 R18 Peso: 2.106 kg Dimensões: comprimento 536,1 cm; largura, 213,2 cm; altura, 183,1 cm; entre-eixos, 309,6 cm; tanque de comb., 76 l; caçamba, 1.329 l; carga útil, 1.044 kg
Teste comparativo Quatro Rodas
Aceleração | Ranger | S10 |
0 a 100 km/h | 9,4 s | 9,3 s |
0 a 1.000 m | 30,7 s – 172,9 km/h | 30,7 s – 168 km/h |
Velocidade máxima | n/d | n/d |
Retomadas | ||
D 40 a 80 km/h | 3,7 s | 4,4 s |
D 60 a 100 km/h | 4,7 s | 5,1 s |
D 80 a 120 km/h | 6,2 s | 6,8 s |
Frenagens | ||
60/80/120 km/h a 0 | 16,9/30,4/67,9 m | 15,3/27/61,1 m |
Consumo | ||
Urbano | 7,6 km/l | 10 km/l |
Rodoviário | 10,7 km/l | 12,6 km/l |
Ruído interno | ||
Neutro/RPM máx. | 39,8/66,9 dBA | 43,1/77,7 dBA |
80/120 km/h | 59,4/67,4 dBA | 61,9/73,7 dBA |
Aferição | ||
Velocidade real a 100 km/h | 95 km/h | 96 km/h |
Rotação do motor a 100 km/h em D | 1.500 rpm | 1.500 rpm |
Volante | 2,7 voltas | 3 voltas |
SEU Bolso | ||
Preço | R$326.990 | R$307.990 |
Concessionárias | 115 | 553 |
Garantia | 5 anos | 5 anos |
Condições de teste (Ranger/S10): alt. 660 m; temp., 24/27 °C; umid. relat.., 54/52,5%; press., 765/767 mmHg