Como em qualquer grande indústria, as montadoras se reúnem em associações que utilizam do poder econômico para influenciar opinião pública e políticos — o famoso lobby. Um dos maiores exemplos desse lobby, entretanto, está mais fraco, já que a Volvo anunciou sua saída da Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis (ACEA).
Segundo a agência Reuters, a Volvo anunciou na sexta-feira (8) sua saída da ACEA, alegando divergências graves em relação ao fim de carros a combustão. A montadora está comprometida a vender apenas elétricos a partir de 2030; já a Associação critica o prazo geral da União Europeia, que quer vender apenas elétricos de 2035 em diante.
Em resposta à Reuters, a Volvo citou a falta de alinhamento como algo inviável. “O que nós fazemos (…) será vital para decidir se poderemos ou não contornar as mudanças climáticas”, acrescentou a nota oficial.
Vale notar que a ACEA é categórica ao tratar a eletrificação automotiva como algo necessário para controlar o aquecimento global. O grupo, entretanto, acredita que cravar datas é uma decisão política que mais atrapalha do que ajuda.
A mesma coisa pensa o CEO da Stellantis, Carlos Tavares. Mesmo assim, Tavares também anunciou a saída da ACEA. “Nunca esqueçamos que a escolha pela eletrificação não é industrial: ela é política. Eu respeito as lideranças. Elas decidem, eu obedeço”, comentou o CEO do conglomerado à época.
Conflito de interesses?
Ainda que a Volvo tenha explicado suas razões, houve quem apontasse motivos mais sutis por trás da decisão. Formada em 1991, a ACEA reúne gigantes como a Renault, Daimler e o Grupo Volkswagen. Também há estrangeiras que fabricam na Europa, como Toyota, Honda e Ford.
O que não há, porém, são membros chineses. Estes, inclusive, são vistos com resistência por políticos da União Europeia, que enxergam a disparada da China no segmento como ameaça às concorrentes locais.
Apesar de fortemente ligada à Suécia, a Volvo é de propriedade chinesa desde 2010, quando foi adquirida pela Geely. Desde então, a liderança asiática serviu para reestruturar a marca, que se tornou lucrativa e bateu recorde de vendas, ao mesmo tempo que estreitou um intercâmbio tecnológico e comercial entre Suécia e China.
Tudo isso ocorre sem que a Volvo perca certa autonomia, ainda que seu presidente, Li Shufu, seja um influente bilionário chinês. Em 2020, a Geely tentou encerrar a autonomia e controlar absolutamente a Volvo — o que não ocorreu mas é visto como questão de tempo. Com objetivos tão distintos da ACEA, há quem aposte que a saída da organização de lobby tenha a ver com a defesa de interesses não tão europeus assim.