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Clássicos: Karmann-Ghia Dacon, uma lenda do automobilismo brasileiro

Cupê envenenado protagonizou um dos períodos mais românticos do automobilismo brasileiro e foi pilotado pelos irmãos Wilson e Emerson Fittipaldi

Por Felipe Bitu Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
12 mar 2021, 23h17
Karmann-Ghia Dacon 1966
Este é um dos quatro Karmann-Ghia/Porsche que integraram a Equipe Dacon. (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Fundada em 1960, a Dacon (Distribuidora de Automóveis, Caminhões e Ônibus Nacionais) teve sua origem na Comercial Lara Campos, antiga concessionária DKW.

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Tornou-se célebre sob o comando do engenheiro Paulo de Aguiar Goulart, o gênio por trás de um dos carros mais reverenciados do automobilismo nacional: Karmann-Ghia Dacon.

Apresentado em 1962, o Karmann-Ghia foi o terceiro modelo lançado pela VW no Brasil e sua produção só se tornou viável devido a um esforço pessoal do presidente Friedrich Schultz-Wenk. Foi o executivo alemão que convenceu a Wilhelm Karmann GmbH a erguer sua primeira unidade fora da Alemanha, a apenas 2 km da VW, em São Bernardo do Campo (SP).

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Karmann-Ghia Dacon 1966 traseira.
Bitola traseira mais larga suavizava o acréscimo de torque e potência. (Fernando Pires/Quatro Rodas)

O cupê foi uma das maiores atrações da 3a edição do Salão do Automóvel de São Paulo em razão do estilo italiano da Carrozzeria Ghia e da qualidade de construção alemã da Karmann.

Sua carroceria era artesanalmente armada por técnicos brasileiros, treinados na Alemanha para suavizar as emendas dos painéis metálicos através da modelagem a quente de estanho.

O resultado era primoroso, mas esbarrava num detalhe: cerca de 70 kg a mais que o Fusca, com quem compartilhava a mesma plataforma e mecânica.

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Os 30 cv do pequeno motor de quatro cilindros opostos e 1,2 litro sofriam para embalar seus 815 kg: o Karmann-Ghia levava mais de meio minuto para chegar aos 100 km/h e sua máxima estancava em 118 km/h.

Karmann-Ghia Dacon 1966 lateral e rodas
As rodas Kronprinz vinham do Porsche 904. (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Era um desempenho muito inferior comparado ao do Willys Interlagos e uma enorme decepção para quem investia em um dos automóveis mais caros do país, equivalente ao valor de prestigiosos sedãs como o Simca Chambord e o Aero-Willys. Mas foi a oportunidade que faltava para a engenhosidade de Paulo Goulart.

Goulart era amigo pessoal de Christian “Bino” Heinz, paulistano de ascendência alemã que já havia disputado provas na Europa pilotando um Porsche 356. A influência do amigo (morto enquanto disputava as 24 Horas de Le Mans de 1963) foi decisiva para que no ano seguinte Goulart iniciasse a importação de motores Porsche de 1,6 litro e 95 cv.

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Os motores eram trazidos pela Rampson S.A., empresa da qual Goulart era sócio. Um estudo meticuloso dos pontos de fixação dos componentes mecânicos do Karmann–Ghia constatou que os sistemas de direção e freios eram perfeitamente intercambiáveis.

Karmann-Ghia Dacon 1966: quadro de instrumentos.
Instrumentação completa do Porsche 356. (Fernando Pires/Quatro Rodas)

A adaptação do motor Porsche exigiu apenas um reforço na suspensão. Consta que foram montados 18 híbridos, um deles para uso pessoal de Goulart. Acelerações e retomadas rápidas e velocidade superior a 180 km/h acabaram entusiasmando o piloto Chico Landi, que não mediu esforços para convencer Goulart a inscrever o cupê nas III 100 Milhas da Guanabara de 1964.

O Karmann-Ghia com mecânica Porsche venceu a prova, mas outras equipes contestaram o resultado junto ao Automóvel Club do Brasil, sustentando que um VW com mecânica Porsche deveria competir como protótipo. O episódio apenas aumentou a motivação de Goulart, que vendeu sua parte na Rampson para assumir o comando definitivo da Dacon.

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Surgia ali uma das escuderias de maior importância na história do automobilismo brasileiro. Nas mãos do piloto José Carlos Pace, o Karmann-Ghia Dacon retornou às pistas em 1966, impulsionado por um motor VW ampliado para 1,6 litro e homologado para enfrentar protótipos como os Alpine A110 importados da França pela Equipe Willys.

Karmann-Ghia Dacon 1966
Um histórico que dispensa maiores apresentações. (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Como a maior parte dos jornalistas insistia em chamá-lo de Karmann-Ghia Porsche, Goulart abandonou o motor VW em prol de motores Porsche de 1,6 e 2 litros. O cupê ficaria mais rápido com uma carroceria de plástico reforçada com fibra de vidro criada pelo piloto e projetista Anísio Campos: o peso caiu para 650 kg.

Entre 1966 e 1967 o Karmann-Ghia Dacon também foi pilotado por Antonio Carlos Porto, Ludovino Perez Jr., Marivaldo Fernandes e pelos irmãos Wilson Fittipaldi Jr. e Emerson Fittipaldi. O lendário cupê aposentou-se no auge, logo após conquistar os três primeiros lugares nos 1.000 Quilômetros de Brasília de 1967.

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Karmann-Ghia Dacon 1966
(Fernando Pires/Quatro Rodas)

Diante de limitações orçamentárias, Paulo Goulart decidiu encerrar as atividades da equipe naquele mesmo ano. A Dacon seguiu como representante da Porsche e também como referência na personalização de Volkswagem até o encerramento definitivo de suas atividades, em 1996.

Ficha Técnica

Karmann-Ghia Dacon 1966

  • Motor: longitudinal, 4 cilindros opostos, 1.966 cm3, duplo comando de válvulas nos cabeçotes, alimentação por dois carburadores de corpo duplo.
  • Potência: 130 cv SAE a 6.200 rpm, 16,1 kgfm a 4.600 rpm.
  • Câmbio: manual  de 5 marchas, tração traseira.
  • Dimensões: comprimento, 412 cm; largura, 172 cm; altura, 130 cm; entre-eixos, 240 cm; peso, 650 kg.
  • Pneus: 165-15 dianteiros/ 210/80-15 traseiros.
  • Preço: Novembro de 1966: Cr$ 18.500.000 Preço atualizado: R$ 220.230 (ref.: salário mínimo).

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