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Teste: Tata Nano, de mais barato do mundo ao fracasso

Antes de completar dez anos de mercado, o modelo indiano parou de ser produzido. Confira o teste exclusivo de QUATRO RODAS no Brasil

Por Paulo Campo Grande
Atualizado em 12 jul 2018, 15h41 - Publicado em 12 jul 2018, 15h13
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  • TESTE TATA NANO LX
    Testamos o Nano com exclusividade no Brasil (Marco de Bari/Quatro Rodas)

    O Tata Nano foi aposentado no mercado indiano, após quase dez anos desde que foi lançado como carro mais barato do mundo.

    Com falhas de confiabilidade e relatos de incêndio, o modelo que chegou a ser cotado para o Brasil ficou somente na promessa.

    Em vez das 250.000 unidades anuais previstas pela marca, o hatch popular somou menos de 300.000 emplacamentos desde 2009.

    Foram vendidas apenas três unidades em junho deste ano, contra as 24.465 unidades do Maruti Suzuki DZire, líder na Índia.

    A situação no Nano já estava difícil no mesmo mês de 2017, quando foram comercializados apenas 167 carros, segundo a Auto Punditz.

    De acordo com o The Economic Times, da Índia, a Tata já havia indicado que a continuidade do modelo dependia de novos investimentos.

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    O periódico ainda cita a estratégia da Maruti Suzuki, líder de vendas no país asiático, que deu preferência por modelos mais equipados.

    Confira como o “fusca do século 21” se saiu durante o teste exclusivo no nosso país, publicado por QUATRO RODAS em março de 2011.


    TESTE TATA NANO LX
    Quando chegou ao mercado, o Nano custava 2.500 dólares (Marco de Bari/Quatro Rodas)

    Ao apresentar o Tata Nano, em março de 2009, a Tata Motors mostrou o que até então parecia impossível: um carro de 2.500 dólares.

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    Mas, se lançá-lo foi uma conquista, manter as vendas dentro das previsões tem se revelado uma tarefa mais desafiadora.

    A primeira dificuldade enfrentada pela fábrica indiana é justamente manter o preço numa faixa não tão distante do plano original.

    Pressionado pelo aumento nos custos de produção, o valor inicial de 100.000 rúpias (2.500 dólares) logo passou a 108.000 rúpias (2.700 dólares). E esse é o custo da versão mais simples.

    A topo de linha, mostrada aqui, com servofreio, ar-condicionado, travas e vidros elétricos, faróis de neblina e hodômetro digital, bate em 140.000 rúpias (3.500 dólares).

    A popularidade do pequeno também não ganhou pontos com os cinco casos de Nano que se incendiaram logo nos primeiros meses de uso.

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    TESTE TATA NANO LX
    Uma série de problemas de confiabilidade derrubaram as vendas na Índia (Marco de Bari/Quatro Rodas)

    A conjunção entre subida de preços e acidentes foi devastadora para as vendas, que, do pico de 9.000 unidades em julho de 2010, caíram para 509 em novembro do mesmo ano.

    A Tata reagiu: aumentou a garantia de 18 meses ou 24.000 km para quatro anos ou 60.000 km, ampliou a rede autorizada e facilitou o crédito ao consumidor, entre outras ações, e conseguiu subir para 5.784 unidades em dezembro e 6.703 em janeiro deste ano.

    A Tata divulgou também um laudo atribuindo a causa dos incêndios à instalação indevida de acessórios, e dizendo que, mesmo assim, tomaria medidas para proteger a parte elétrica e a região do escapamento do carro, onde o fogo teria começado.

    A Tata afirma que já vendeu mais de 70.000 unidades do Nano e que 85% dos clientes estão entre “satisfeitos e muito satisfeitos”, segundo suas pesquisas.

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    Os pontos mais elogiados são o espaço interno, o desempenho e a dirigibilidade, de acordo com a fábrica. Mas, afinal, como anda o carro que era tido como missão impossível pelos outros fabricantes?

    TESTE TATA NANO LX
    Havia uma série de soluções para baratear o carro, como as pequenas rodas com três furos (Marco de Bari/Quatro Rodas)

    Não há nada de mais no Nano. As rodas de 12 polegadas são fixadas por apenas três parafusos. A direção é mecânica. E os freios, a tambor nas quatro rodas, só recebem assistência nas versões mais caras.

    Não há retrovisor do lado oposto ao do motorista, o limpador de para-brisa é único, as portas não têm limitadores nas dobradiças.

    A bateria vai instalada sob o banco do motorista para encurtar a fiação elétrica. E o acesso ao motor é feito pela cabine, uma vez que a tampa traseira é fixa.

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    Em compensação, não há economia de espaço interno. Com 3,10 metros de comprimento, 1,50 de lagura e 1,60 de altura, o Nano acomoda bem quatro adultos e o motorista encontra uma posição de dirigir surpreendentemente boa.

    Eu me senti muito à vontade, mesmo se tratando de uma versão feita para o mercado indiano, com o volante no lado direito.

    Lembrei-me daquele carro conceito de Giugiaro, o Lancia Megagamma, em que o motorista viajava como se estivesse sentado em uma cadeira, posição que depois foi adotada pelas minivans.

    A ergonomia, porém, é ruim, porque os poucos comandos que existem geralmente ficam distantes das mãos.

    TESTE TATA NANO LX
    Motor instalado na traseira pegou fogo em diversas unidades (Marco de Bari/Quatro Rodas)

    Alerta de velocidade

    O Nano é muito fácil de dirigir, seu câmbio tem engates fáceis e as dimensões compactas ajudam nas manobras.

    O desempenho limitado é compatível com sua proposta, com motor de dois cilindros, com 623 cm³ de deslocamento, que gera 33 cv de potência e 4,9 mkgf de torque. Em nossa avaliação, atingimos os 102 km/h de velocidade máxima.

    A fábrica declara 110 km/h, mas quem tentou chegar lá diz que a 105 km/h surge um alerta no painel, dizendo que há risco de danos ao motor. Na prova de aceleração de 0 a 100 km/h, conseguimos o tempo de 31 segundos.

    Na hora de parar, os freios foram tão discretos quanto o motor. Vindo a 60 km/h, o Nano precisou de 20 metros para frear os 600 kg de peso.

    TESTE TATA NANO LX
    Painel é simples, mesmo se tratando da versão “de luxo” (Marco de Bari/Quatro Rodas)

    A 80 km/h, esse espaço dobrou e a frenagem ocorreu de forma desequilibrada, com a carroceria desestabilizada.

    Seu ponto forte é o consumo. Obtivemos médias de 20 km/l, no regime urbano, e 25 km/l, na estrada, com gasolina – com o ar-condicionado desligado.

    Em resumo, o Nano é um carro que anda bem em linha reta e de preferência no plano. Tivemos a oportunidade de experimentá-lo em rampas de 30 graus de inclinação e ele não se saiu mal, desde que viéssemos embalados e com apenas o motorista a bordo.

    Mas, ao tentar sair a partir de um ponto intermediário do aclive, tivemos de apelar para a ré… Nas curvas, o Nano não chega a desapontar.

    Mas sua carroceria inclina demais, em razão de seu centro de gravidade elevado, o que transmite certa insegurança.

    TESTE TATA NANO LX
    Versão LX era equipada com ar-condicionado (Marco de Bari/Quatro Rodas)

    Para o público a que foi destinado, famílias que usam pequenas motos como meio de transporte, o Nano é uma opção interessante, porque oferece mais conforto, protege da chuva e, na versão mais cara, tem até ar-condicionado.

    A versão mostrada aqui, que custa 3.500 dólares na Índia, chegaria por cerca de 11.000 reais, já com os impostos – o valor de duas Honda CG125 Fan.

    Sem dúvida, ele é mais que uma moto, mas não chega a ser um automóvel com todos os recursos que os modelos atuais mais caros dispõem.

    TESTE TATA NANO LX
    Modelo tinha a missão de substituir motocicletas na Índia (Marco de Bari/Quatro Rodas)

    Se não levar isso em conta, o motorista pode ter problema ao fazer uma frenagem de emergência ou um desvio repentino, por exemplo.

    Ainda que seja o automóvel mais limpo da Índia, com o índice de 101 g/km de CO2, o Tata Nano ainda fica a dever em termos de segurança, quando aspira ao mercado europeu.

    Para ser vendido por lá ele precisaria de airbags, um pesado golpe no seu ponto mais sensível, o preço. De fato, o maior desafio da Tata é provar a viabilidade em grande escala de sua pequena criação.

    Nano LX – R$ 11 000*

    *Esse é o preço estimado para a versão de “luxo”, no Brasil.

    Veredicto

    O melhor dos mundos seria se o Nano entregasse mais desempenho e segurança ao preço original. Mesmo custando mais do que os 2 500 dólares planejados, o Nano ainda cumpre seu papel de carro mais barato do mundo.

    TESTE TATA NANO LX
    Espaço interno era suficiente para quatro pessoas (Marco de Bari/Quatro Rodas)

    Teste

    Desempenho

    ** Dado de fábrica

    Ficha técnica

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