A maior preocupação das fabricantes de automóveis no momento não é mais “quantos carros serão vendidos”, mas “se haverá carros novos para serem vendidos”. Isso porque a escassez dos semicondutores, reflexo da pandemia da Covid-19, tem prejudicado a produção de modelos novos.
No Brasil, a Chevrolet tem sido uma das mais afetadas pelo problema, deixando vazios os pátios das concessionárias, que não conseguem atender a demanda dos clientes.
Clique aqui e assine Quatro Rodas por apenas R$ 8,90
QUATRO RODAS procurou os concessionários da marca para entender o tamanho do problema. Em todos, a principal reclamação é para a falta de estoque, já que a produção foi interrompida ou reduzida em todas as fábricas e não há prazos para novos pedidos. Cada grupo revela saídas próprias para tentar driblar a crise.
Uma das fontes ouvidas apontou que todas as 600 concessionárias da Chevrolet no país estão desabastecidas. Em grande parte delas, não há nem mesmo unidades do Onix para venda. A nova geração do compacto teve sua produção interrompida em março e o Joy, da geração anterior, vinha com produção em ritmo menor.
Vale lembrar que, em tempos de pré-pandemia, o compacto emplacava mais de 20 mil unidades por mês só em sua configuração hatch.
No estado do Rio de Janeiro já é realidade, segundo as informações, que não existem Onix zero quilômetro à venda. Assim, o maior grupo do estado teria concedido férias para 80% de seus vendedores como tentativa para manter os empregos, já que não há carros em estoque e, portanto, não há trabalho a ser realizado.
Vendedores dizem que alguns exemplares de Spin, Montana e S10 são últimos resíduos.
A mesma fonte disse que a fábrica não aceita mais pedidos de Onix vindo dos lojistas este ano, para vendas diretas. Ou seja, frotistas, revendas, produtores rurais e pessoas com deficiência deverão esperar pelo carro.
Em São Paulo, um outro grupo também trabalha com apenas três modelos em estoque, sendo um Tracker como o de maior possibilidade de fechar negócio. Para a fonte consultada por QUATRO RODAS, as entregas têm sido feitas de maneira fragmentada e a última foi há duas semanas, com apenas dois Joy.
Por lá, o formato estabelecido foi de uma lista de espera informal a partir de um pedido já realizado pela loja à fábrica, com unidades de versões e cores já definidas. Assim, o cliente declara interesse em algum modelo e assina um termo declarando estar ciente de que o veículo poderá chegar apenas entre agosto e setembro deste ano. O grupo não recolhe nenhum dado do cliente ou pagamento adiantado.
Quando o exemplar desejado chegar ao estoque, o cliente será avisado e poderá escolher entre ficar ou não com o veículo sem qualquer dano contratual ou financeiro.
O mesmo grupo adotou ainda uma redução de jornada de trabalho para os funcionários, em um esquema no qual a empresa paga 30% do salário, enquanto o governo fica responsáveis pelos 70% restantes. O acordo valerá por 3 meses, podendo ser prorrogado.
Procurada para um posicionamento sobre os dados apurados, a GM respondeu que “a cadeia de suprimentos da indústria automotiva na América do Sul tem sido impactada pelas paradas de produção durante a pandemia e pela recuperação do mercado mais rápida que o esperado”.
“Isso está afetando de forma temporária nosso cronograma de produção no Brasil. Em virtude disso, a produção na fábrica de Gravataí está interrompida desde abril. Estamos trabalhando com nossos fornecedores para mitigar esse impacto e retomar a produção o mais rápido possível”, completou a nota enviada pela empresa.
Na fábrica de São Caetano do Sul (SP) o turno da noite já parou, com exceção da funilaria e pintura. A partir de 21 de junho todos os turnos serão interrompidos, com previsão de volta para 2 de agosto. Já a fábrica de São José dos Campos (SP) está em fase de retomada da produção da picape S10 para o seu patamar normal.
Onde estão os semicondutores do Onix?
Para justificar o sumiço dos modelos zero quilômetro das lojas, a Chevrolet revelou que o Onix atual possui, em média, 1.000 semicondutores espalhados por seus quase 20 módulos. 30% deles estão em itens de segurança, 25% em conectividade, 30% em equipamentos de conveniência e 15% na motorização. Juntos, eles representam cerca de 40% do custo de um automóvel. Todas estas informações são da própria GM.
Segundo a marca, a maior quantidade é necessária pelas tecnologias embarcadas no modelo, como a central multimídia MyLink, os assistentes de condução e até as informações que podem ser acessadas no computador de bordo.
Além disso, a empresa também afirmou que não deixará de oferecer equipamentos para economizar em semicondutores, como já tem sido feito nos Estados Unidos, nem focará nas versões mais básicas. Pelo contrário: desde o início da pandemia a fabricante vem concentrando sua produção nas versões mais completas.
“Não vamos deixar de oferecer aquilo que nossos clientes mais valorizam em um automóvel nem focar em versões básicas em razão da escassez momentânea de suprimentos, mesmo que isso impacte temporariamente nossa produção”, disse Carlos Zarlenga, presidente da GM na América do Sul.
Crise irá até 2022
Durante a divulgação dos últimos resultados da indústria, a Anfavea, associação das fabricantes, apontou que o cenário não é otimista. Apesar de ter chegado a números melhores do que os registrados em 2020, quando todas as atividades foram suspensas para contenção do coronavírus, a indústria se mantém em um platô que não traz boas perspectivas.
Para o presidente da Anfavea, Luís Carlos Moraes, há complexidade na resolução do problema da falta de semicondutores. Por isso, não há solução para 2021 e faltará carros novos no Brasil até 2022.