Por que o Citroën C3 não recebeu a isenção de IPI do governo?
Mesmo sendo econômico e com motor 1.0, hatch francês não foi contemplado pelo programa Carro Sustentável do governo

Quando o governo divulgou o programa Carro Sustentável, havia muita especulação sobre quais os automóveis que poderiam receber a isenção do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI). As regras limitam as opções para as fabricantes e fizeram com alguns modelos acabassem ficando fora da lista, como foi o caso do Citroën C3.
A ausência do Citroën C3 foi bem estranha, considerando que a Stellantis, dona da marca, obteve a isenção do IPI para os Fiat Mobi e Argo, ambos com o mesmo motor 1.0 Firefly de 75 cv. Se os critérios fossem pelo tipo de motor usado, o hatch francês deveria ter ficado mais barato.
Isto não aconteceu pois o C3 não atende os parâmetros determinados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC). Procurada por QUATRO RODAS, a Stellantis confirmou que o hatch não poderia receber o benefício:
“De acordo com os quatro critérios divulgados para que um veículo se enquadre na nova regra do IPI Verde, a Stellantis possui atualmente Fiat Mobi Drive, Fiat Mobi Treeking e Fiat Argo Drive 1.0 MT com os descontos repassados integralmente e ainda com incentivos adicionais. Nosso portfólio é diversificado, atendendo a diferentes faixas de mercado, e a aplicação futura da nova composição do IPI a outros modelos será avaliada de forma individualizada, de acordo com a estratégia das marcas e as características de cada veículo.”
Embora a fabricante não tenha dito exatamente qual dos critérios impediu que o C3 fosse isento do IPI, tudo aponta para duas possibilidades: não tem 80% de massa composta por materiais recicláveis ou a emissão máxima de CO² está acima de 83 g/km do poço à roda.
O hatch atende os outros dois requisitos, sendo classificado como carro compacto e com produção nacional que inclui soldagem, pintura, montagem final e motor feito no Mercosul – no caso, o 1.0 Firefly feito em Betim (MG).
As emissões de CO² acima de 83 g/km do poço à roda é o critério mais provável e não é um número público. No Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (PBEV) do Inmetro, o C3 é mais poluente do que todos os outros carros que receberam o benefício, emitindo 96 g/km de CO², o que afeta o cálculo do poço à roda, que envolve a produção do combustível.
O que é o programa Carro Sustentável?
Criado pelo Governo Federal e em vigor a partir de 11 de julho, trata-se de um programa de incentivo ao consumo de veículos sustentáveis, seguros e acessíveis. Para que um carro tenha isenção total de IPI, precisa atender aos seguintes critérios:
- Emissão máxima de CO²·: até 83 g/km (do poço à roda);
- Pelo menos 80% da massa total do veículo composta por materiais recicláveis;
- Produção nacional obrigatória com etapas de soldagem, pintura, montagem final, motor nacional ou importado do Mercosul;
- Ser classificado como carro compacto.
De acordo com o Governo, espera-se que as reduções ou isenções sejam integralmente repassadas ao consumidor final – seja pessoa física ou jurídica. A compensação para a queda na arrecadação será feita para os modelos que não atenderem às normas, e pagarão mais IPI por isso. O decreto terá validade até dezembro de 2026.
Para os demais carros, o governo prepara um novo sistema de cálculo do IPI, que entrará em vigor em 90 dias e que, pela estimativa do MDIC, reduzirá o IPI de 60% dos veículos vendidos no Brasil. A alíquota base passa a ser de 6,3% para carros de passeio e 39% para comerciais leves e, a partir daí, poderá aumentar ou diminuir conforme critérios predefinidos.