Opala SS x Gol GTi: duelo de ícones da indústria nacional
Mais que um duelo de esportivos, os veículos marcam a distinção entre as escolas norte-americana e europeia de design automotivo
Opala SS e Gol GTi foram dois ícones de esportividade na linha nacional, cada um a seu tempo. Tecnicamente, pode se dizer que eles têm pouca coisa em comum. Mas conceitualmente foram feitos para o mesmo perfil de motorista.
De um lado, o Opala SS propunha um estilo mais harmonizado com a escola norte-americana. De outro, o Gol GTi incorporava as linhas da tradição alemã.
A comparação entre SS e GTi é complicada. São carros de épocas diferentes, com carrocerias diferentes e tecnologias em estágios evolutivos diferentes. Mas sempre é válido relembrar desses carros que ser tornaram legendários, analisando aquilo que cada modelo trouxe à sua época.
Embora tenha tido como base o alemão Opel Rekord, o Opala puxou muitas linhas do Chevy Nova produzido pela GM nos EUA e o desenho de um muscle car pesou na sua projeção. As linhas exageradas, a tração traseira e o motor de alta cilindrada, são as principais características do modelo.
O Opala surgiu em 1968 com um modelo de quatro-portas, equipado com um motor de seis-cilindros com 3.800 cilindradas. Foi o primeiro veículo de passeio da Chevrolet no Brasil e deu início ao segmento de sedãs médios, que ainda não existia por aqui.
O veículo era uma alternativa mais acessível para quem sonhava com o enorme e luxuoso Galaxie, da rival Ford, principal sedã da época.
Logo em sua estreia, O Chevrolet trazia novidades. Seus freios eram do tipo tambor – comum na época – mas com um diferencial: regulagem automática do conjunto de sapatas e lonas. O sistema era bem simples, primeiro você engatava a marcha a ré e pisava fundo e depois freava forte.
O Opala também foi o primeiro esportivo da marca por aqui e, foi em 1973 que chegou sua versão SS cupê. Ele ganhou freios a disco com hidrovácuo de série e, além disso, uma suspensão com regulagem mais rígida para ter um desempenho mais esportivo.
O SS vinha com bancos individuais, com câmbio no túnel central que garantia trocas mais rápidas, diferentemente do câmbio na coluna de direção que era desajeitado e, além de tudo, enroscava.
O motor do Opala mudou e o seis cilindros em linha agora tinha 4.100 centímetros cúbicos de cilindrada. O propulsor gerava uma potência de 142 cv e 29 mkgf de torque, força que levava o carro acelerar com um 0 a 100 km/h em 12,2 segundos e a atingir a máxima de 175 km/h.
Em 1976, o motor ganhou carburação dupla, porém, mesmo a versão SS sendo mais cara que as demais ela não acrescentava nada ao desempenho para o Opala.
O mesmo “seizão” podia ser encontrado em outras versões do veículo com a mesma potência e mesmo torque, tendo como diferencial apenas o acabamento, ou seja, era um esportivo adesivado.
Enquanto isso, a Volkswagen se preocupava em manter a liderança de vendas dos veículos de entrada. Ainda na década de 1970 – quando o Opala chegava ao mercado –, a empresa alemã mantinha-se firme e forte com o lendário Fusca.
A empresa viu que o ‘besourinho’ estava ultrapassado e precisava de um sucessor a altura e ele veio em 1980. O Gol surge no mesmo ano em que o Opala se consagra o veículo nacional mais rápido.
Em suas primeiras versões, o Volkswagen era equipado com motor refrigerado a ar – como seu antecessor – mas logo ganhou a refrigeração a água, já adotada no Passat.
O lançamento do compacto foi um ‘gol de placa’ e manteve a Volkswagen forte na linha dos veículos mais baratos. No entanto, o final da década de 1980 chegava e carregava junto a necessidade de ter um esportivo.
A marca alemã lançou o Gol GT (em 1986) e o Gol GTS (1987), mas quem realmente modificou o cenário nacional foi o Gol GTi em 1988.
O compacto esportivo nem havia chegado ao mercado mas já mudava a engenharia. Como importações não podiam ser feitas na época, a Volkswagen teve de tirar o atraso automotivo do Brasil com as próprias mãos e a engenharia da marca criou o próprio sistema de injeção eletrônica.
O Gol foi o primeiro veículo nacional a ganhar injeção eletrônica. O GTi chegou ao mercado com motor 2.0 de 120 cv e 18,3 mkgf de torque que fazia o 0 a 100 km/h em 10,4 segundos e alcançava 174 km/h de velocidade mácia.
Os freios eram novidades na linha da VW: com discos ventilados, na dianteira, e tambor, na traseira. Ele era mais eficiente e não superaquecia mesmo em situações de uso intenso.
Assim como no Opala, o interior tinha um acabamento mais sofisticado do que das demais versões da família, porém, os bancos esportivos do Gol deixaram o veículo menos confortável para dirigir, diferente do Chevrolet que era macio.
Além disso, o veículo não marcava a pressão do óleo em seu painel de instrumentos, medidor considerado essencial para um esportivo.
O consumo de combustível era alto. O GTi fazia 8,5 km/l na cidade e sua melhor marca na estrada foi de 13,3 km/l. Já os donos de Opala acabavam amigos dos frentistas, afinal, o veículo fazia entre 6,25 km/l na cidade e 8,4 km/l na estrada.
Nas dimensões o Opala era bem maior. O cupê da GM tinha 467,1 cm de comprimento; 175,8 cm de largura; 135,9 cm de altura; 266,7 cm de distância entre-eixos e 1.146 kg. Enquanto isso, o compacto da Volks possuía 384,9 cm de comprimento; 160,1 cm de largura; 135,5 cm de altura; 235,8 cm de entre-eixos e 997 kg.
Sendo mais leve, o Gol era mais ágil que o Opala e isso ajudava o veículo a conseguir números melhores de aceleração e menores de consumo. O Volkswagen era estável e garantia segurança mesmo em alta velocidade, enquanto isso o Opala pecava pelo sobrepeso na dianteira que fazia a suspensão bater no fim do curso do amortecedor em curvas.
Além disso, a concentração de peso na frente – por conta do pesado seis-cilindros – fazia o veículo perder estabilidade da tração traseira. O Gol não enfrentava esse problema, já que tinha tração dianteira.
Porém, o VW deixava a desejar em relação ao barulho interno, diferente do Chevrolet que não tinha tanta vibração do motor e diminuía o ruído ouvido por condutor e passageiros do SS.
Resultados nos testes
Opala SS (1973) | Gol GTi (1988) | |
Desempenho: | Ótimo
Opala SS empolga com a velocidade máxima de 175 km/h. |
Ótimo
Foi o campeão de velocidade e aceleração entre os demais carros. |
Consumo: | Regular
Média de 6,5 km/l deixava um pouco a desejar. |
Regular
Embora tenha sido baixo para um esportivo, graças a injeção eletrônica. |
Motor: | Bom
Agrada pela força e não vibra. |
Bom
O AP 2.0 ganhou pontos por ser eletronicamente injetado. |
Câmbio: | Bom
Engates precisos e rápidos. |
Bom
Ótimo como os demais, mas a embreagem poderia ser menos dura. |
Freios: | Bom
É equipado com freios a disco dianteiros, porém superaquecia. |
Bom
É o primeiro Volkswagen com freios a disco ventilados. |
Direção: | Bom
Fácil de manejar e de diâmetro coerente com o tamanho do veículo. |
Bom
Rápida e precisa. Com capa de couro, o volante ficou mais agradável. |
Estabilidade: | Bom
Impossibilita que o carro incline muito nas curvas, mas é ineficiente na chuva. Rodas traseiras derrapam muito. |
Ótimo
Ele atinge o ponto de equilíbrio entre alto desempenho e segurança. |
Estilo: | Ótimo
Com carroceria fastback sem coluna central, foi considerado um dos veículos nacionais mais bonitos. |
Bom
Diferencia-se pelo novo aerofólio, a antena atrás e a cor exclusiva. |
Conforto: | Regular
Comporta cinco pessoas com conforto, porém a suspensão não absorve bem as irregularidades do solo. |
Bom
Vem todo equipado, mas o ar-condicionado é opcional. |
Posição de dirigir: | Ótimo
Os assentos dianteiros individuais e reguláveis permitem uma boa posição do motorista. |
Bom
Bem adequada a um esportivo o banco tem regulagem de altura. |
Instrumentos: | Bom
Fácil de ler durante a noite, mas durante o dia reflete a luz e atrapalha o condutor. |
Bom
Tem mostradores vermelhos. Falta o manômetro de pressão de óleo. |
Nível de ruído: | Bom
Mal pode ser ouvido durante um viagem. |
Ruim
Esportivo faz barulho. Aqui, baixou um pouco em relação ao Gol GTS. |
Porta-malas: | Bom
Comporta bagagem de cinco pessoas tranquilamente com seus 430 litros. |
Ruim
Pequeno e com estepe. |
Veredicto
Ambos os veículos foram marcantes em suas épocas e ainda têm espaço no coração dos fãs e colecionadores que gostam dos esportivos nacionais.
A tabela acima mostra a avaliação que os veículos tiveram em seus testes de lançamento e foram publicados por QUATRO RODAS.
Embora os resultados da pista sejam bem parecidos e os dois veículos tenham apresentado melhorias para indústria nacional, o Volkswagen Gol GTi se sobressai.
O uso da injeção eletrônica representou uma nova fase na indústria, uma vez que as outras marcas também adotaram as suas nos anos seguintes. E graças a essa tecnologia, os veículos passaram a possuir um desempenho melhor, consumo de combustível menor e tudo isso com menos poulição, uma vez que a queima mais eficiente do combustível reduziu as emissões.
Pelo avanço tecnológico e o seu significado para a indústria nacional, o Gol GTi vence este comparativo.