Mesmo o Rolls-Royce mais ‘simples’ custa além de R$ 2 milhões e, tranquilamente, será a celebridade em qualquer rua por onde passe. Mas a montadora inglesa guarda seu melhor para pouquíssimas pessoas, e o Rolls-Royce Droptail, o automóvel mais caro da história, acaba de ser apresentado e entregue para o terceiro comprador. Só falta mais uma unidade antes da produção ser encerrada.
Ainda que o valor não seja divulgado oficialmente, diferentes fontes cravam algo em torno de US$ 37 milhões, ou R$ 183 milhões de reais. É um montante tão escandaloso que, com esse dinheiro, seria possível comprar dezenas de Phantom, o Rolls-Royce de ‘entrada’.
Por que custa tanto?
Ainda que seja produzido em série, o Droptail serve como uma “tela em branco”, sobre a qual os artistas da montadora farão modificações extremamente exclusivas e refinadas. Quando decide comprar o veículo, seu dono explica sua trajetória de vida, hobbies, apreços e vontades aos ingleses, a fim de que tudo isso seja expressado no resultado final.
Os primeiros rascunhos foram entregues em 2019, e o ‘patrão’ exigiu que fossem seguidos à risca. O empresário buscava um carro que pudesse levar para diferentes lugares do mundo e listou referências arquitetônicas que vão de jardins suspensos da Ásia à biomimética, que aplica formas e soluções da natureza às edificações.
Mais do que isso, a Rolls-Royce enviou artistas para destrinchar a vida do magnata: foram meses de questionários, análise das roupas que ele veste e até das comidas que ele mais gosta. A filha também começou a opinar e, ao fim, toda a família foi envolvida no projeto, batizado de Arcadia Droptail. Uma referência ao mito grego do Paraíso na Terra; um lugar de absoluta paz, felicidade e harmonia entre homens e a natureza.
Interior
Desejo aqui é ordem, e a Rolls-Royce precisou se virar para fazer acabamento de luxo extremo num carro não apenas conversível, mas que será dirigido nos mais diversos climas globais, uma vez que o proprietário deseja levá-lo em barcos ou aviões durante suas viagens de férias. É por esse detalhe, principalmente, que o volante vai na esquerda.
Não obstante, foi necessário chegar a uma estética que combinasse com as diversas mansões e escritórios do dono, que usou um aplicativo exclusivo para, de qualquer lugar do mundo, acompanhar e opinar na produção do Arcadia. Inclusive com realidade aumentada.
Nisso, veio o pau-ferro, a madeira nativa da Mata Atlântica que foi escolhida para revestir a cabine. Ao todo, 233 pedaços foram assentados no veículo, num processo delicado em que qualquer erro na secagem poderia causar rachaduras.
O cuidado foi tamanho que, mesmo vindo de árvores diferentes, as placas tiveram suas listras (os chamados grãos) alinhados com perfeição, utilizando técnicas de desenho auxiliado por computador. A superfície curvada que circula os bancos é a maior peça de madeira já usada num Rolls-Royce.
A fim de proteger o pau-ferro de qualquer clima, os projetistas pensaram num verniz de iates caríssimos, mas nem ele era bom o suficiente, já que precisava ser reaplicado com certa frequência. A saída foi desenvolver um revestimento novo, que jamais precisará de manutenção.
E como a Rolls-Royce tem certeza? Porque ela também criou um teste sob medida, com 18 amostras sendo submetidas a 1.000 horas de prova que incluiu molhá-las, aquecê-las, aplicar luz forte e secá-las no escuro.
Técnicas de manipulação de fibra de carbono, vindas da Fórmula 1, serviram para criar a base de assentamento do pau-ferro, garantindo que a torção da carroceria ou qualquer outra força aplicada não danifique a decoração e garanta performance impecável.
O couro dos bancos traz um tom inédito de marrom, que, obviamente, combina com o resto da cabine. Esse couro foi batizado com o nome do cliente, e jamais poderá ser usado no carro de outra pessoa.
Já o relógio no painel levou dois anos para ser projetado e cinco meses apenas para ser montado. Isso porque o padrão geométrico foi colocado à mão, com 119 peças ao todo, fazendo referência à idade da Rolls-Royce quando o pedido foi fechado.
Os 12 marcadores de hora também tiveram montagem manual, com os artesãos fazendo polimentos e escovações tão delicadas que precisaram usar uma lente com zoom de 100x. O mesmo serviu para o revestimento cerâmico aplicado aos diversos indicadores da peça.
Exterior
O Droptail é inspirado em vários aspectos dos barcos, incluindo a saliência logo após às portas que remete a uma bujarrona — a vela triangular e pequena que vai à frente dos iates.
Seu dono queria um carro branco, e acabou recebendo uma tintura própria, cuja tinta é misturada a infusões de alumínio e vidro moídos. O cromado da carroceria foi feito para o contraste ideal, assim como as rodas de aro 22 com polimento que as tornaram espelhadas.
Curiosamente, o motor é a parte menos exclusiva aqui, mas longe de ser modesta. Afinal de contas, usa-se o V12 6.7 biturbo (comum a outros modelos da fabricante) que rende 601 cv e 85,8 kgfm e usa transmissão automática de oito marchas. Além de tudo, um fazendo desse um legítimo superesportivo.