Mercedes-Benz W116: o primeiro da classe
Com elevado nível de luxo e a performance, o Mercedes W116 estabeleceu o padrão dos sedãs executivos de grande porte
Em muitas carreiras, ser o primeiro da classe o coloca em uma posição privilegiada no mundo corporativo. Os níveis mais altos da hierarquia, reservada a pessoas capazes de assumir grandes responsabilidades, são restritos.
E sem dúvidas o Mercedes-Benz W116 faz parte desse círculo. É o primeiro modelo da marca a integrar oficialmente a atual Classe S (do alemão Sonderklasse, ou “classe especial”), em 1972.
O maior e mais luxuoso sedã da casa de Stuttgart sucedeu os lendários W108 e W109. Sua enorme carroceria foi o último trabalho do designer Friedrich Geiger. Estava maior, mais largo e mais baixo, com a grade dianteira sustentando a estrela de três pontas e ladeada por faróis retangulares horizontais.
As tradicionais lanternas traseiras caneladas também eram envolventes, seguindo o padrão dos para-choques com lâminas duplas. Atemporal, o estilo clássico e sóbrio seria maculado apenas pela legislação americana, que passou a exigir para-choques com absorvedor e faróis circulares do tipo sealed beam a partir de 1974.
O redimensionamento da carroceria mantinha o foco na segurança: a célula de sobrevivência (presente desde 1959 no modelo W111) era mantida, bem com as zonas de deformação progressivas. Com o mesmo intuito, o tanque de combustível foi reposicionado acima do eixo traseiro, logo atrás do habitáculo.
O espaço interno era mais que adequado para cinco ocupantes, com destaque para o enorme volante de quatro raios e o sistema de ar-condicionado integrado ao painel (com duas zonas). Não havia concorrentes diretos: o W116 disputava público com BMW New Six, Jaguar XJ12, Rolls-Royce Silver Shadow II e, a partir de 1976, com o Cadillac Seville.
O comportamento dinâmico era irrepreensível, considerando seu peso e porte. A suspensão dianteira de braços sobrepostos veio do carro-conceito C-111, com geometria antimergulho para frenagens. E a traseira aposentava o eixo oscilante em favor de braços arrastados, adotados nos sedãs médios W114 desde 1968. Os freios eram a disco nas quatro rodas.
Esse esquema mecânico era indispensável para que o W116 reinasse soberano nas Autobahns alemãs. As versões 280 S e 280 SEL traziam o motor M110 de seis cilindros em linha, com 2,8 litros e duplo comando de válvulas no cabeçote. A potência ia de 160 cv (com carburador duplo Solex) a 185 cv (com injeção eletrônica Bosch D-Jetronic).
Para superar os 200 km/h havia o 350 SE, com o motor M116 V8 3,5 litros, comando simples nos cabeçotes, injeção e 200 cv, atributos que o levavam de 0 a 100 km/h em menos de 10 segundos. A transmissão era manual de quatro velocidades ou automática de três, com tração traseira.
Não havia limites para o luxo e a performance: em 1973 eram apresentados os modelos 450 SE e SEL, este último com maior espaço no banco traseiro em função de 10 cm a mais entre os eixos. A máxima saltava para 210 km/h com o V8 4.5 (M117 ) e 225 cv, exigindo pneus 205/70-14, mais baixos e largos que os 185/80-14.
Em 1975, enquanto o mundo sentia os efeitos da crise do petróleo, a Mercedes apresentou o 450 SEL 6.9 – dedicado a um público imune a crises. Eram nada menos que 286 cv extraídos do V8 M100 de 6,9 litros para impulsionar quase 2 toneladas, sustentadas por uma complexa suspensão hidropneumática que abolia molas e amortecedores.
Exclusivo, o 450 SEL 6.9 custava o mesmo que dois 350 SE e era capaz de chegar a 225 km/h, com padrões inéditos de suavidade e silêncio. Entre os proprietários estavam os pilotos James Hunt e Niki Lauda e centenas de autoridades e chefes de Estado.
O W116 recebeu freios ABS em 1978, sendo o primeiro carro de produção em larga escala a utilizar um sistema eletrônico. No mesmo ano surgiu a versão 300 SD, destinada aos EUA: tinha um cinco cilindros diesel de 115 cv para atender limites de consumo.
A produção foi encerrada em 1980, com mais de 473.000 unidades vendidas deste que é considerado um dos melhores Mercedes já feitos. Estabeleceu parâmetros para as futuras gerações e até para os rivais, como o BMW Série 7 e Audi A8.
Mau exemplo
Em 1976, Claude Lelouch chocou o mundo com o curta-metragem C’était un rendez-vous (Era um Encontro), onde uma Ferrari 275 GTB cruza Paris a 200 km/h antes do amanhecer. O filme é cercado de lendas, mas depois o cineasta confirmou que o carro usado era um Mercedes 450 SEL 6.9.
Ficha Técnica: Mercedes-Benz 280 SEL 1978
Motor | 6 cilindros em linha de 2,8 litros; 185 cv a 5.800 rpm; 24,5 mkgf a 4500 rpm |
Câmbio | manual de 4 marchas |
Dimensões | comprimento, 496 cm; largura, 187 cm; altura, 142 cm; entre-eixos, 286 cm; peso, 1.610 kg |
Desempenho | 0 a 100 km/h de 10,5 s; velocidade máxima de 200 km/h |