Gosto não se discute, mas como observador dedicado eu tenho boas razões para não gostar do visual do novo Classe E, que chegou às lojas do Brasil, no fim do mês passado, reestilizado.
Em primeiro lugar, acho que a grade esportiva não combina com o E, o mais clássico dos Mercedes. Nas versões cupê e cabriolet, a grade aberta até que cai bem. Mas, no sedã, prefiro a tradicional, com aletas cromadas e a célebre estrela de três pontas, no alto do capô – configuração que pode ser encomendada à fábrica, embora, para pronta entrega, só exista a esportiva.
Mesmo com a grade tradicional, que vi apenas em fotos, a nova frente (faróis, para-choque e capô) parece não conversar com o restante da carroceria. E essa impressão encontra argumentos no fato de a reestilização do Classe E estar entre duas gerações do Classe S, o sedã que dita as tendências de design na Mercedes.
A atual geração do Classe E foi lançada em 2010, seguindo o estilo do Classe S, lançado cinco anos antes – com vincos e superfícies em diagonal. Agora o E adota o visual apresentado pela nova geração do S, que fez sua avant-première em maio deste ano, com linhas arredondadas e planos suaves. Os designers tentaram conciliar as duas propostas, mas não foram felizes.
Por dentro, mudou pouco. A fábrica alterou as saídas de ar e o painel de instrumentos de cinco visores planos ficou com três projetados em direção ao motorista. De resto, o Classe E é o mesmo bom sedã batizado com a única vogal que aparece (quatro vezes) no nome da marca, com acabamento de luxo, espaço interno amplo, desempenho superior e suavidade ao rodar.
A nova linha terá três sedãs E 250, E 350 e E 63 AMG, o cupê E 250 e o cabrio E 350. O sedãs E 250 e E 350 foram os primeiros a chegar. Os demais desembarcam no final deste mês.
No E 250 mostrado aqui, o motor 2.0 de quatro cilindros incorpora o pacote Blue Direct, que inclui injeção direta (com novos bicos mais rápidos e com spray dirigido), comandos de válvulas variáveis na admissão e no escape e turbocompressor. Ele rende 211 cv de potência e 35,7 mkgf de torque (o mesmo volume do antigo motor 3.5 V6 que equipava o Classe E em 2010. E com a vantagem de atingi-lo em um regime ainda mais baixo: 1 200 rpm, contra 2 400 rpm).
O resultado dessa evolução nós sentimos na pista, onde o sedã apresentou desempenho de aspirante a esportivo (com acelerações de 0 a 100 km/h em 8 segundos) e consumo de sedã médio, com as marcas de 9 km/l na cidade e 14,5 km/l na estrada. A transmissão é a conhecida 7G-Tronic, automática de sete marchas, mas também recebeu melhorias como a redução de peso no conversor de torque, para diminuir o esforço de trabalho. A direção, que era hidráulica, agora é elétrica, com variação da assistência e da relação. E a suspensão ganhou amortecedores que variam o amortecimento de acordo com a solicitação – por meio de válvulas que controlam a passagem do óleo no interior dos amortecedores, um sistema hidráulico que nada tem a ver com o sofisticado Magic Body Control, que ajusta o funcionamento da suspensão pneumática do novo Classe S.
Em relação aos equipamentos de segurança, as versões comercializadas no Brasil não dispõem de câmeras que monitoram as vias e orientam sistemas como o piloto automático adaptativo e o freio autônomo, como ocorre no Classe E da Europa. Mas também houve avanço nesse sentido. Além da sopa de letrinhas já devidamente incorporada ao cardápio (ABS, BAS e ESP), o nosso Classe E conta com controle de tração nas rodas (ETS), assistente de partida (HSA) e freios com as funções Hold (segura o carro parado no trânsito, mesmo com o câmbio em Drive), Brake Drying (mantém os discos secos, nos dias de chuva) e Priming (monitora a velocidade com que o motorista libera o pé do acelerador e se prepara para acionar o freio, prevendo que haverá uma frenagem de emergência). O sistema de controle de fadiga, Attention Assist, agora tem dois níveis de vigilância, normal e sensível (menos tolerante), que podem ser selecionados pelo motorista. E o assistente de manobras Active Parking Assist realiza não só balizas, mas também estacionamento a 90 graus. Os faróis full-led são ativos (mudam a direção e a orientação do facho para evitar ofuscamento nos outros motoristas).
Felizmente, as mudanças não ficaram só nas aparências.
VEREDICTO
O Classe E evoluiu tecnicamente e conservou os atributos essenciais que se espera de um sedã Mercedes-Benz.