A Mercedes-Benz anunciou a venda da fábrica de automóveis de Iracemápolis (SP) para a chinesa Great Wall Motor. A negociação inclui a fábrica de onde saíam os Mercedes Classe C e GLA até dezembro de 2020 e ainda o terreno de 1,2 milhão de metros quadrados, juntamente com todos os prédios e os equipamentos de produção.
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O Campo de Provas da Mercedes-Benz e o Centro de Testes, que está sendo construído em parceria com a Bosch, ambos em Iracemápolis, não fazem parte da negociação, cujo valor não foi revelado.
A fábrica da Mercedes foi anunciada em 2013 e começou a operar em 2016. Sua capacidade anual instalada era de 20.000 carros por ano no momento que fechou. Agora, a Great Wall Motor, ao confirmar a compra, disse que a planta terá capacidade anual de produção de 100 mil veículos.
“Com a transformação da Companhia e o realinhamento da capacidade produtiva da nossa rede global de produção, estamos aumentando de forma sustentável a nossa eficiência produtiva. Com a Great Wall Motors, encontramos um comprador que dará à fábrica de Iracemápolis e região uma nova perspectiva para o futuro”, disse Membro do Conselho de Administração da Mercedes-Benz AG, responsável pela Gestão da Cadeia de Produção e Abastecimento, Jörg Burzer.
Com a venda da fábrica, que não chegou a completar um ano sem função, a Mercedes-Benz no Brasil mantém as unidades de São Bernardo do Campo (caminhões, chassis de ônibus e agregados) e Campinas (Peças e Serviços ao Cliente, Reman e Global Trainning), em São Paulo; além da planta de Juiz de Fora (cabinas de caminhões), em Minas Gerais. No caso dos automóveis, a fabricante reforça que mantém suas 50 concessionárias em todo o país.
No início de julho, O Globo trouxe à tona que o negócio entre as duas empresas havia sido fechado ainda em junho. A concretização do negócio esteve em jornal interno da Great Wall, inclusive.
Quem é a Great Wall Motor?
A Great Wall foi fundada em 1984 e produz carros desde 1993. Ela está presente em vários países da América do Sul por meio de importadores, mas a operação do Chile é a que mais se destaca: a marca teve 2.435 emplacamentos por lá em 2020, sendo seu sexto maior mercado no mundo.
Há mais de 10 anos a maior fabricante de automóveis da China estuda sua entrada no mercado brasileiro onde, inclusive, chegou a ter um pequeno representante em Brasília em 2009. A empresa importava o Hover, um SUV médio com motor 2.4 de origem Mitsubishi ofertado por R$ 69.000 à época. Mas o negócio não evoluiu.
Na última década também houve diversas manifestações da empresa sobre seu desejo de ter uma fábrica no Brasil. A GWM chegou a anunciar uma fábrica no Brasil em 2013, com seus executivos visitando Ribeirão Preto, Guarulhos, Joinville e os arredores de Salvador. Entretanto, os planos não se concretizaram.
Desde 2018 a fabricante chinesa vinha sondando executivos de outras fabricantes no Brasil. Primeiro abriram sucursal na cidade de São Paulo reportando diretamente à sede, em Baoding. Agora, têm uma fábrica no estado.
Em 2020 a Great Wall comprou as fábricas da General Motors na Índia e na Tailândia. Na Tailândia, a Great Wall também havia prometido uma sucursal, mas foram anos até que o fechamento da planta da GM, em 2020, servisse como oportunidade perfeita. O roteiro é familiar.
Desde fevereiro, a GWM vende o SUV Haval H6 e o compacto elétrico ORA Good Cat aos tailandeses, com mais dois modelos previstos até o fim do ano. Em esquema análogo ao das empresas de tecnologia da China, a montadora foca em eficiência, preços competitivos e marketing de vanguarda para atrair público.
Quais serão os próximos passos?
Como nos outros países, a tendência é de que a Great Wall chegue como importadora, iniciando produção local depois. A empresa tem bons produtos, como a picape média Great Wall Série P (ou Poer), elogiada em mercados da Ásia e Oceania.
Seu porte é um pouco maior que o de uma Toyota Hilux: 5,36 m de comprimento, 1,88 m de largura e altura, e 3,23 m de entre-eixos. O motor é um 2.0 turbo a gasolina de 200 cv, que pode ser gerenciado por câmbio manual de seis marchas ou automático de oito. Este último, fornecido pela ZF, é o mesmo da nossa VW Amarok.
A tração é 4×4, com prioridade de entrega de torque às rodas traseiras e diferencial central blocante. Entre seus atributos off-road, constam 90 cm de capacidade de imersão.
Mas seu forte são os SUVs, como o moderno WEY Tank 300, um jipão com visual de poucos amigos à moda dos Jeep Wrangler e Mercedes Classe G. O motor é um 2.0 turbo com 230 cv e 39,4 kgfm. A transmissão é automática, com oito velocidades.
O modelo com maior capacidade off-road da história da Great Wall tem linhas quadradas e os faróis redondos misturam um pouco de Jeep Wrangler e Ford Bronco. O que a WEY divulgou sobre a mecânica também: o SUV terá bloqueios nos diferenciais dianteiro, central e traseiro, que atuarão de acordo com os nove modos de tração predefinidos.
Talvez seja obra do destino, mas o interior do Tank 300 tem visual que remete aos SUVs mais recentes da Mercedes-Benz.
Outro modelo de destaque é o Haval H6, um SUV médio do porte do Caoa Chery Tiggo 8, com 4,65 m de comprimento. Ele, inclusive, já foi lançado na Argentina e tem motor 1.5 turbo com injeção direta, aliado a câmbio automatizado de dupla embreagem com sete marchas.
Seis airbags são equipamentos de série, assim como a tela de 10,2 pol que cumpre a função de quadro de instrumentos e a central multimídia de 12,2 pol. Ainda tem head-up display, que pode ser usado para exibir informações ao motorista sem que este precise desviar a visão do trânsito.
A empresa também vem investindo pesado em carros elétricos, muitos deles pequenos, por meio da ORA, que tem um Ballet Cat, uma releitura moderna do Fusca, como criação mais recente.
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