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Em 1989, VW Gol trocou cultuado motor AP pelo CHT; e mudou para pior

A VW bem que tentou deixar os veículos iguais e até o ronco do CHT foi alterado: mas não teve jeito, quando o condutor pisa, o carro se entrega

Por Redação
Atualizado em 23 ago 2020, 18h33 - Publicado em 8 nov 2019, 07h00
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  • Gol GL testado pela revista Quatro Rodas. 1989
    Gol GL testado pela revista Quatro Rodas. 1989 (Acervo/Quatro Rodas)

    Publicado em novembro de 1989

    De repente o Gol passou a andar menos, gastar mais combustível na estrada e fazer outro tipo de barulho. O que mudou?

    Na visão da Volkswagen – e só dela -, o carro que mais vendeu no país nos entre 1987 e 1988 continuava sendo o mesmo, ainda que sob seu capô estivesse agora um motor 17 cavalos mais fraco, de concepção antiga e que até então equipava o Escort, a Belina e o Del Rey.

    Esse motor é o antigo CHT, da Ford, que passa a ser chamado de AE e que começou a equipar as linhas Gol, Voyage, Parati e Saveiro, nas versões CL e GL, substituindo o tradicional e bem sucedido Volkswagen AP 600 – uma das melhores coisas que a Volkswagen já produziu em seus mais de trinta anos de Brasil.

    Em suma, o melhor motor nacional acabou e o resultado disso está nos números deste teste.

    Em relação ao Gol tradicional, o novo modelo gastou um segundo a mais para acelerar de 0 a 100 km/h (12,60 segundos, contra 11,56), foi quase 10 km/h mais lento na velocidade máxima (153,1 km/h contra 161,4 km/h) e precisou de mais dois segundos para retomar a velocidade dos 40 a 100 km/h – uma diferença sensível quando se trata, por exemplo, de ultrapassar um caminhão numa estrada de mão dupla.

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    E no único item onde a própria fábrica esperava considerável melhora – o consumo – não aconteceu nada de excepcional.

    O Gol com motor AE a álcool só conseguiu ser mais econômico na cidade, e ainda assim por escassos 5% – metade da vantagem que a Volkswagen esperava , que era de 10%. Ele fez 7,85 km/l, contra 7,47 km/l do Gol tradicional. Nada tão significativo que justificasse a manutenção do preço para um carro mais fraco.

    Se o consumo na cidade ficou aquém da expectativa, na estrada a situação foi ainda pior: o novo carro gastou mais combustível que o velho. A 100 km/h, só com o motorista, fez 11,30 km/l contra 11,68 km/l do mesmo carro com motor VW 1.6. Carregado, foi mais beberrão: 10,49 km/l contra 11,10 do antigo.

    A explicação para essa diferença está no próprio motor AE: com 17 cv a menos de potência, é preciso calcar mais o acelerador para manter a mesma velocidade.

    Avaliação Antes Agora
    Desempenho Piorou em relação ao Gol tradicional.Os 17 cv a menos do motor AE fazem falta. 7 6
    Consumo Com o motor AE, ficou 5% mais econômico na cidade, e mais beberrão na estrada. 6 6
    Motor Como projeto, é antigo. Falta-lhe potência e desempenho. 8 6
    Câmbio Permanece o mesmo, de qualidade indiscutível, sempre eficiente e preciso 8 8
    Freios Bons. Agora trabalham com folga, por causa do menor desempenho. 7 7
    Direção Bastante segura 7 7
    Estabilidade Dá ao motorista sensação de segurança em qualquer situação de uso. 7 7
    Estilo Visualmente, nada mudou no carro. Permanece simples, quase sóbrio. 6 6
    Conforto Na frente, o espaço até que é bom. Mas atrás é apertado e o teto, baixo. 3 3
    Posição de dirigir Inadequada para os de baixa estatura. O banco é baixo e não tem assento regulável. 6 6
    Instrumentos Painel de fácil leitura. Mas o relógio deveria ser trocado por conta-giros. 4 4
    Visibilidade Boa, tanto para frente quanto para trás e para os lados. 6 6
    Nível de ruído Principal ponto positivo da mudança. Com motor AE, ficou mais silencioso. 4 6
    Porta malas É o menor dos carros nacionais. O estepe ocupa um grande espaço útil. 2 2
    Resultado Vantagem é do antigo 81 80
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    No uso urbano, ele até causa boa impressão

    Gol GL testado pela revista Quatro Rodas. 1989
    Gol GL testado pela revista Quatro Rodas. 1989 (Acervo/Quatro Rodas)

    A rigor, a única real vantagem da troca de motores foi o nível de ruído, que baixou consideravelmente. Agora é possível conversar com o carro em movimento sem precisar elevar o tom da voz.

    Apesar de tudo, um usuário comum pode não notar de imediato as diferenças entre o novo e o velho Gol. É que o carro chega a causar boa impressão em velocidades baixas.

    Na cidade, as respostas do motor ao acelerador são rápidas e ele até dá a sensação de ter potência. Quando se imagina que o motor continuará crescendo de giro, há uma estancada e o carro demora para atingir velocidade.

    Além disso, com três quartos do acelerador pressionado, surgem vibrações na alavanca do câmbio (que, aliás, continua sendo VW) e na direção.

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    Com exceção do motor, nada mudou no Gol – daí a definição da fábrica de que o carro é o mesmo. A carroceria é exatamente igual, o painel não ganhou nenhum botãozinho a mais (embora merecesse um conta-giros no lugar do relógio) e o conforto continua precário.

    Na frente, até que há espaço, apesar dos bancos serem baixos demais. Mas, atrás, até os baixinhos são vítimas de cabeçadas involuntárias no teto. Em compensação, a visibilidade geral é boa, os freios trabalham com folga, por causa da menor potência do motor, e a estabilidade permanece adequada.

    Um carro, enfim, equilibrado e confiável, apesar de ter o menor porta-malas do mercado. Culpa do estepe, que vai dentro dele.

    Tamanho sucesso, entretanto, pode ter ficado comprometido por causa do motor AE.

    Ao contrário do modelo anterior, o novo Gol parecia destinado a quatro tipos específicos de compradores: as empresas com frotas de veículos, os motoristas de táxi (ambos por causa do baixo custo de manutenção), as pessoas que, como as donas de casa, não se preocupam tanto com desempenho, mas com o preço do carro e o consumo, e, finalmente, os participantes de consórcios – estes os mais prejudicados com a novidade, porque já vêm pagando por um produto melhor e irão receber algo mais fraco no lugar.

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    Para atenuar esse problema, a fábrica talvez adote o critério de segurar o preço do carro daqui para frente, aplicando sobre ele índices menores de aumento – até, quem sabe, desbancar o Chevette da posição de carro mais barato do país.

    Não é uma tarefa muito difícil, mesmo porque a morte do Chevette estava próxima. Difícil mesmo será mesmo será convencer os compradores de que mudando o motor o carro continua o mesmo.

    Comparativo Antes Agora
    Velocidade máxima
    Média de 4 passageiros 161,4 km/h 153,1 km/h
    Melhor passagem 162,8 km/h 155,7 km/h
    Aceleração
    0 a 40 km/h 2,71 segundos 2,86 segundos
    0 a 60 km/h 4,80 segundos 5,21 segundos
    0 a 80 km/h 7,63 segundos 8,38 segundos
    0 a 100 km/h 11,56 segundos 12,60 segundos
    0 a 120 km/h 17,47 segundos 19,52 segundos
    0 a 140 km/h 27,88 segundos 31.63 segundos
    Retomada de velocidade
    40 a 60 km/h 7,78 segundos 8,35 segundos
    40 a 80 km/h 15,14 segundos 16,20 segundos
    40 a 100 km/h 23,02 segundos 24,97 segundos
    40 a 120 km/h 32,92 segundos 34,98 segundos
    Consumo médio
    Na cidade 7,47 km/l 7,85 km/l
    Estrada a 100 km/h (carregado) 11,10 km/l 10,49 km/l
    Estrada a 100 km/h (vazio) 11,68 km/h 11,30 km/l
    Frenagem
    De 40 a 0 km/h 7,1 metros 7,1 metros
    De 60 a 0 km/h 16,9 metros 16,8 metros
    De 80 a 0 km/h 30,1 metros 29,9 metros
    De 100 a 0 km/h 47,1 metros 46,7 metros
    De 120 a 0 km/h 67,8 metros 67,2 metros
    De 60 a 0 km/h (freio de estacionamento) 45 metros 44,8 metros

    Como diferenciar um motor do outro

    Motor a gasolina no Gol GL. 1989
    Motor AP do Gol 1989 (Claudio Larangeira/Quatro Rodas)

    Desde o começo de novembro de 1989, as concessionárias Volkswagen estavam vendendo o Gol com motor Ford.

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    Contudo, era bem possível que, durante algum tempo, que alguém conseguisse comprar o Gol tradicional, com motor VW AP 600 – além do que, em breve, o novo modelo já estaria no mercado de carros usados.

    O problema é que, como os dois carros são idênticos na aparência, não há como descobrir se o Gol em vista tem motor Volkswagen ou Ford, a não ser abrindo o próprio capô.

    Feito isso, um comprador mais atento logo perceberá a diferença. Mas um leigo pode continuar na dúvida. Afinal, um motor é um motor sem grandes diferenças aparentes.

    Para estes, a grande saída é atentar para dois detalhes que caracterizam o motor AE: o símbolo da Auto Union (quatro aros entrelaçados) em relevo na tampa de válvulas (topo do motor) e – mais fácil – o filtro de ar, que no Gol com motor VW é redondo e grande feito uma panela, enquanto no novo modelo é quadrado, pequeno e montado sobre o pára-lama, com uma ligação de borracha até o carburador.

    Motor do Gol GL. 1989
    Motor AE do Gol 1989 (Claudio Larangeira/Quatro Rodas)

    Conferir o motor é a maneira mais segura de não comprar gato por lebre. De resto, não há como avaliar um carro ou outro. As siglas das versões são as mesmas e até o barulho do motor AE foi alterado através do escapamento para ficar igual ao ruído do antigo Gol. Na verdade, ficou até melhor, mais silencioso.

    Na tentativa de tornar iguais carros diferentes, a fábrica chegou a requintes como desenvolver uma ponteira de escapamento visualmente igual à do Gol com motor AP 600 – aquele que, lamentavelmente, não existia mais.

    Na época, quem quisesse comprar um Gol zero-quilômetro com legítimo motor VW só tinha uma alternativa: recorrer à versão GL, que opcionalmente viria com motor 1.8. Segundo a fábrica, a diferença de preço entre os dois motores fica por volta de 8%. Para o Gol CL, no entanto, não há saída: o único motor disponível é mesmo o AE.

    Ficha técnica  Gol CL 1.6 AE
    Motor: Dianteiro, longitudinal, quatro-cilindros em linha. Comando de válvulas lateral. Alimentação por carburador de corpo duplo: a álcool.
    Diâmetro x curso:  77 x 83,5 mm.
    Cilindrada total:  1.555 cm3
    Taxa de compressão:  12:1
    Torque máximo:  12,9 mkgf a 3.200 rpm
    Câmbio:  Manual de cinco marchas
    Suspensão: Dianteira: independente, McPherson, com braços inferiores triangulares, molas helicoidais, amortecedores e barra estabilizadora. Traseira: Semi-independente, com eixo em “V” trabalhando em torção, braços longitudinais tubulares, molas helicoidais e amortecedores.
    Freios: Disco da dianteira e tambor na traseira, com servo.
    Direção: Mecânica de pinhão e cremalheira. Volante de 38 cm. Diâmetro de giro: 10,20 m para a direita e para a esquerda.
    Dimensões: Comprimento: 381 cm; Largura: 160,1 cm Altura: 135,5 cm; Entre-eixos: 235,8 cm; Bitola dianteira: 135 cm; Bitola traseira: 137 cm; Altura mínima do solo: 13 cm; Tanque: 55 litros; Porta-malas: 146 litros; Carga total: 390 kg; Peso do carro testado: 905 kg
    Rodas/Pneus Rodas: aro 13 x tala 5 polegadas; Pneus: 175/70 R13

     

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