Clássicos: Studebaker Champion, revolução à bala
Célebre pela versão Starlight, inaugurou o design moderno dos carros americanos
Em maio de 1946, os carros das três grandes de Detroit – General Motors, Ford e Chrysler – ainda eram modelos pré-guerra com retoques visuais.
A renovação chegou mais rápido por um fabricante menor, de South Bend, Indiana. A nova linha Studebaker era a primeira 100% inédita. Mereceu até matéria de dez páginas na famosa revista Life.
Obra de Virgil Exner e Robert Bourke, os Stude 1947 se tornaram clássicos do design automotivo, precursores de um futuro que dura até hoje.
Para-lamas dianteiros, capô e faróis vinham embutidos num conjunto predominantemente retangular. Atrás havia um terceiro volume, fosse o sedã de duas ou quatro portas ou o conversível.
Ainda era possível optar entre as largas colunas traseiras e as três janelas do cupê para três ocupantes ou o criativo Starlight (luz das estrelas), com a janela de trás panorâmica e espaço para cinco. Com frente e traseira parecidas, dizia-se que o Stude ia e voltava ao mesmo tempo.
A linha de um modelo era subdividida em séries: o Champion tinha 284 cm no entre-eixos; o Commander, 302 e o topo-de-linha Land Cruiser, 312. O motor era um seis-cilindros de 2,8 litros e 80 cv no Champion e 3,7 litros e 94 cv nos demais.
Os instrumentos do painel emitiam “luz negra”, tecnologia de iluminação dos aviões de guerra. O destaque técnico eram os pioneiros freios autoajustáveis (se adaptavam ao desgaste) e, entre os acessórios, um sistema que evitava que o carro recuasse na saída em ladeiras.
Em 1949, a concorrência enfim renovou suas linhas, o que fez a Studebaker atualizar o visual no ano seguinte. Acima da grade bipartida inferior, Bourke criou um desenho inspirado numa turbina de avião, mas o miolo em forma de ogiva ganhou o apelido de “bullet nose” (nariz-bala).
O carro das fotos é um Champion Regal Starlight 1951. Nele, sobra espaço para cinco. Os encostos de braço laterais de trás basculam revelando dois porta-objetos.
O câmbio não sincronizado pede perícia para as trocas. Sobra vigor em primeira, mas a terceira termina antes do motor. Com 85 cv, ele responde com alguma demora e carece de potência em subidas. Os freios respondem rápido, sem travar ou trepidar. Já a maciez da suspensão absorve quase tudo.
Em 1952, centenário da ex-fabricante de carroças Studebaker, a sensação era o novo cupê hardtop, o Starliner, que perdia o “bullet nose”. Foi o último ano dessa inovadora geração, antes de a linha 1953 criada por Raymond Loewy conseguir mais uma vez levar o design automotivo bem adiante.
Com a linha de 1947 a 1952, a Studebaker libertou o automóvel de vez das influências estéticas vindas das carruagens e deu a ele a essência da forma do que ele é hoje.
O criador
Um dos designers mais laureados do auge de Detroit, Virgil Exner saiu em 1949 da Studebaker para criar na Chrysler alguns dos carros mais inovadores dos anos 50. Baixa, longa e imponente, a linha 1957 parecia deixar toda a indústria dez anos para trás.
Ficha técnica – Studebaker Champion 1951
Motor: 6 cilindros de 2,8 litros / V8 de 3,8 litros
Potência: 85 cv a 4 000 rpm / 120 cv a 4 000 rpm
Câmbio: manual ou automático de 3 marchas
Carrocerias: sedãs de 2 ou 4 portas, cupês para 3 ou 5 passageiros e conversível
Dimensões: comprimento, 502 cm; largura, 180 cm; altura, 153 cm; entre-eixos, 292 cm; peso, 1 204 kg (Starlight)
Desempenho: 0 a 96 km/h em 12,5 segundos e velocidade máxima de 160 km/h (Commander)