Clássicos: quando até o Ford Mustang teve que ceder às pressões do mercado
A segunda geração do Mustang mostrou que até mesmo um ícone de desempenho precisa se adaptar às adversidades do mercado
Falecido em julho, o executivo Lido Anthony “Lee” Iacocca será para sempre lembrado como o criador do Ford Mustang.
Desenvolvido a partir do compacto Falcon, o cupê surgiu como um automóvel simples e barato, mas foi desvirtuado em 1971 ao tornar-se um enorme muscle car com 1.600 kg e enormes motores V8 de até 7 litros.
O conceito original do pony car só seria resgatado em 1974 com o Mustang II.
Engenheiro com especialização em marketing, Iacocca assumiu a presidência da Ford em 1970 e notou que muitos compradores do Mustang migraram para modelos menores como o Maverick e o Pinto.
Concebida para enfrentar subcompactos da Toyota, Datsun, Chevrolet e American Motors, a plataforma do Pinto foi a base para o desenvolvimento da segunda geração do Mustang.
Apresentado em setembro de 1973, o Mustang II era cerca de 220 kg mais leve e quase 50 cm menor que o anterior.
O conversível deixava de ser oferecido: as carrocerias se limitavam ao cupê com três volumes definidos e o hatch com três portas, única opção da versão esportiva, Mach 1.
A distância entre os eixos foi drasticamente reduzida de 2,74 para 2,44 metros.
Entre os principais avanços técnicos estavam a caixa de direção com o preciso sistema de pinhão e cremalheira e a adoção de um subchassi dianteiro para reduzir o nível de ruído e vibrações.
Voltado para a eficiência, o modelo 1974 foi o único na história do Mustang a não contar com a opção de um V8.
Também foi o primeiro Mustang a oferecer um motor de quatro cilindros, com 2,3 litros, 16 mkgf a 2.600 rpm e 89 cv a 5.000 rpm, similar ao que seria adotado no Maverick brasileiro.
Robusto e econômico, permaneceu como motor de entrada do Mustang até 1993. A única opção além dele era o lendário V6 Cologne de 2,8 litros, desenvolvido pela filial alemã da Ford, com 19,37 mkgf a 3.200 rpm e 106 cv a 4.600 rpm.
Apesar das críticas ao desempenho, a escolha dos motores estava alinhada à crise energética que abalou o mundo em 1973.
Racionalizado, o Mustang II totalizou 385.000 unidades comercializadas em 1974, quase três vezes mais que o paquidérmico modelo anterior. A economia de combustível era prioridade absoluta.
Ar-condicionado, rádio toca-fitas, teto solar e rodas de liga leve estavam entre os opcionais mais populares. A luxuosa versão Ghia respondeu por quase 25% da produção e foi muito elogiada pelo conforto de rodagem, comparável ao de automóveis muito superiores em preço.
Atendendo a pedidos, o motor V8 retornou em 1975. Amansado por normas de emissões, o bom e velho Windsor de 5 litros oferecia 29,46 mkgf a 1.800 rpm e 129 cv a 4.000 rpm.
O desempenho era razoável: 0 a 96 km/h em 10,5 segundos e velocidade máxima de 171 km/h. As maiores novidades do modelo 1976 foram os pacotes estéticos Stallion e Cobra II.
Enquanto o primeiro adotava uma decoração mais discreta, o segundo resgatava elementos de estilo dos muscle cars como faixas pintadas e a falsa entrada de ar no capô.
Popularíssimo, o teto removível do tipo targa foi oferecido na carroceria hatch em 1977, mas não conseguiu reverter o declínio nas vendas, que só reagiram no ano seguinte.
O ano de despedida do Mustang II foi marcado pela espalhafatosa edição limitada King Cobra, impulsionada apenas pelo motor V8 de 5 litros.
Mas o objetivo de Iacocca havia sido alcançado: o Mustang II vendeu mais de 1,1 milhão de unidades e garantiu a sobrevida do modelo numa época em que concorrentes como AMC Javelin e Dodge Challenger foram eliminados.
Mesmo considerado o menos desejado dos Mustangs, é inegável que foi o carro certo no momento certo.
Ficha técnica – Ford Mustang II Mach 1 1974
- Motor: V6 de 2,8 litros; 105 cavalos a 4.600 rpm; 19,37 mkgf a 3.200 rpm
- Câmbio: Automático de 3 marchas
- Carroceria: Cupê de 2 portas e 4 lugares
- Dimensões: Comprimento, 444 cm; largura, 178 cm; altura, 127 cm; entre-eixos, 244 cm; peso, 1.308 kg
- Desempenho: Aceleração de 0 a 96 km/h em 12,2 segundos; velocidade máxima de 172,2 km/h