VW Gol 1000 era simples, apertado e “pé de boi”, mas fez sucesso
Feio, apertado e sem recursos tecnológicos, o Gol 1000 marcou o fim da primeira geração do maior sucesso da Volks
O VW Gol era o carro mais querido do Brasil no final dos anos 80. A liderança absoluta do mercado a partir de 1987 coincidiu com a apresentação da versão esportiva GTS, seguida do desejado GTi, em 1988.
Mesmo as versões comuns CL e GL eram muito apreciadas pela dirigibilidade agradável e pela fama de inquebrável.
Mas uma nova ameaça surgiu em agosto de 1990: o Fiat Uno Mille. Seu pequeno motor de 994 cm3 o enquadrava na categoria popular, reduzindo o IPI de 37% para 20%.
A resposta da VW viria apenas dois anos depois, igualmente limitada em conforto e desempenho: o Gol 1000.
A Autolatina (união entre Ford e VW) adotou a mesma solução da Fiat: reduzir a cilindrada do motor AE 1.6, no Gol CL desde 1989.
Derivado de um projeto Renault utilizado pela Ford desde 1968, ele teve o diâmetro dos cilindros reduzido de 77 para 70,3 cm e o curso do virabrequim de 83,5 para 64,2 mm – a potência ficou em 50 cv.
Mesmo mais potente que o Mille, o Gol não mascarava um projeto dos anos 70, com motor longitudinal e aerodinâmica deficiente. Levava 21,55 s para chegar a 100 km/h e não passava de 133,7 km/h de máxima.
O consumo escancarava a inadequação do motor: média de 11,83 km/l, abaixo dos 13,53 do Gol CL com motor AE de 1,6 litro e 73 cv.
Outra desvantagem era o espaço interno. Inspirado no esportivo alemão Scirocco, o Gol tinha um banco traseiro restrito a adultos de pequena estatura.
Para piorar, o posicionamento vertical do estepe limitava o espaço no porta-malas a 145 litros e o volante era deslocado para a direita. Obra de Giorgetto Giugiaro, o Mille era um tratado de racionalidade e ergonomia.
As portas tinham um mínimo de forração, o volante era de plástico duro e o painel trazia apenas velocímetro e marcador de combustível. Quebra-ventos fixos, ventilação forçada e câmbio de cinco marchas eram itens de série.
Havia poucos opcionais: retrovisor direito, ar quente, desembaçador, acendedor de cigarros e limpador do vidro traseiro.
Apesar das limitações, sua dirigibilidade era agradável. As suspensões adotavam o sistema McPherson à frente e eixo de torção atrás, bem acertadas com os finos pneus 145 em rodas aro 13.
O câmbio de engates precisos e suaves era bem superior ao do Mille, e a direção tinha o melhor compromisso entre precisão e leveza. A simplicidade franciscana baixou o preço em 17% em relação ao Gol CL, até então o VW mais acessível.
A maioria acabou descaracterizada com acessórios das versões esportivas GTS e GTI, como volantes, rodas de liga leve, faróis auxiliares e aerofólios.
Não é o caso deste exemplar produzido em 1992, que pertence ao colecionador Adriano Krempel.
“Achei este Gol 1000 em São Paulo. A dona era uma senhora com mais de 90 anos que já não o usava havia anos, motivo pelo qual se encontrava todo empoeirado numa garagem. Bastou conectar uma bateria carregada e jogar um pouco de gasolina no carburador para ele vir rodando.”
Foi justamente essa simplicidade que selou o destino do Gol 1000: a Fiat já havia desenvolvido um sistema de ignição estática para o Mille, que já oferecia até quatro portas.
A chegada do Chevrolet Corsa com injeção eletrônica, em 1994, envelheceu todo o segmento, que também foi invadido por importados como Peugeot 106, Daihatsu Cuore e Subaru Vivio.
A VW só resgatou a competitividade no segmento com o Gol 1000i Plus, em 1995. Apelidado Papa Corsa, era baseado na segunda geração, denominada AB9.
Ainda assim, o primeiro Gol 1000 resistiu até o segundo semestre de 1996. O último dos Gol “quadrados” deu boas-vindas aos novatos Ford Fiesta 1.0 e Fiat Palio EDX.
Teste QUATRO RODAS – Fevereiro de 1993
- Aceleração 0 a 100 km/h: 21,55 s
- Velocidade máxima: 133,7 km/h
- Consumo médio (álc.): 11,83 km/l
- Preço (dezembro 1994): Cr$ 126.054.000
- Preço (atualizado IGP-M/FGV): R$ 130.063
Ficha técnica – Volkswagen Gol 1000 1992
- Motor: longitudinal, 4cil. em linha, 997 cm3, comando de válvulas simples, carburador de corpo duplo; 50 cv a 5.800 rpm; 7,2 mkgf a 3.500 rpm
- Câmbio: manual de 5 marchas, tração dianteira
- Dimensões: compr., 385 cm; largura, 160 cm; altura, 135 cm; entre-eixos, 226 cm; peso, 860 kg
- Rodas e pneus: 145 SR1