Clássicos: Concorde, o calhambeque artesanal de R$ 350.000 dos anos 70
Desenvolvido para agradar os mercados mais exigentes do mundo, o Concorde foi o carro mais caro e exclusivo já produzido no Brasil
João Storani foi um dos primeiros a preservar carros antigos no Brasil, um precursor em meio a colecionadores como Roberto Lee, Og Pozzoli e Flávio Augusto Marx.
Sua predileção por americanos como Duesenberg, Peerless e Pierce-Arrow o levou a criar o Concorde, fora de série com nome de avião supersônico e visual da década de 1930.
Empresário bem-sucedido, Storani iniciou o projeto em 1974 com os filhos João Antônio e Cesar Augusto. O Concorde usou a mecânica do Ford Galaxie – motor, câmbio, suspensão dianteira e eixo traseiro.
O capricho na carroceria de plástico reforçado em fibra de vidro demonstrava a excepcional qualidade de construção.
A proibição das importações em 1976 aumentou o interesse do mercado interno e Storani foi convencido a exibi-lo no 10º Salão do Automóvel, em 1976.
Mesmo sem preço definido, o Concorde cativou integrantes da alta sociedade e interessados em representar a marca no exterior.
A proposta mais tentadora foi a de exportação para os EUA, onde o único similar era o Excalibur, de Brooks Stevens.
Foi então que Storani fundou a Concorde Indústria de Automóveis Especiais Ltda., viabilizando a produção do chassi de longarinas perimetrais e numeração de chassi no padrão americano.
Teria duas carrocerias: conversível de dois lugares e phaeton de cinco lugares. Este último esteve no 11º Salão do Automóvel, em 1978, e após o evento foi submetido ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) para homologação.
Ao perceber a seriedade da iniciativa, a Ford do Brasil manifestou interesse em fornecer os componentes do Galaxie.
O comprometimento com outros empreendimentos fez Storani vender a fábrica para o chinês William Ting, com vasta experiência em comércio exterior.
O veículo das fotos é o mesmo do Salão do Automóvel de 1981 e destacou-se na edição 256 da QUATRO RODAS como o automóvel mais caro do evento.
Foi nesse salão que um empresário americano assumiu a representação da Concorde, levando as duas primeiras unidades para os EUA. Os automóveis foram exportados sem motor e câmbio, pois seriam reprovados pelas exigentes normas de emissões estrangeiras.
Cada Concorde levava seis meses para ser produzido, seguindo sempre a especificação de cada cliente.
Devido a problemas enfrentados pelo representante americano e à recessão que afetou a demanda do mercado brasileiro, a produção do Concorde foi encerrada por William Ting em dezembro de 1985.
Treze Concordes foram produzidos no padrão original de João Storani, incluindo duas unidades exportadas.
Sete carrocerias remanescentes foram adquiridas pelo colecionador paulistano Ari Vicentini e três foram finalizadas como os Concordes originais. As quatro restantes foram descaracterizadas e deram origem a modelos distintos.
O carro das fotos é um dos dois exportados para os EUA e foi encontrado por Eduardo Storani, neto de João, em um site de leilões.
Até agora trata-se do único automóvel brasileiro repatriado anos após a exportação, processo lento e burocrático realizado pelo consultor José Paulo Parra junto ao Denatran.
Além dele, mais três Concordes integram o acervo da família Storani, que hoje se dedica a preservar a memória da obra mais ilustre do patriarca, falecido em 1996, aos 72 anos.
A história do mais exclusivo dos automóveis nacionais será publicada em livro, após um vasto trabalho de pesquisa e registro do colecionador e historiador Murilo Brolio.
Ficha técnica – Concorde 1981
- Motor: longitudinal, V8, 4.950 cm3, 2 válvulas por cilindro, comando de válvulas simples no bloco, carburador de corpo duplo; 199 cv a 4.000 rpm; 30,6 mkgf a 2.800 rpm
- Câmbio: automático de 3 marchas, tração traseira
- Dimensões: comprimento, 520 cm; largura, 180 cm; altura, 140 cm; entre-eixos, 350 cm; peso, 1.500 kg
- Pneus: 6.50 x 16
- Desempenho: Não disponibilizado pela empresa.
- Preço: Cr$ 4,8 milhões (novembro/81)
- Preço Atualizado: R$ 354.000 (IPC-A/IBGE)