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Carros mais vendidos do Brasil ficam até R$ 9.000 mais caros em 10 meses

Ainda que, em geral, os carros estejam até 14,5% mais caros, montadoras diminuíram margens para controlar escalada de preços

Por Eduardo Passos
Atualizado em 23 out 2020, 20h39 - Publicado em 23 out 2020, 18h30
Carros mais vendidos do Brasil ficam até R$ 9.000 mais caros em 10 meses
(Divulgação/Chevrolet)

Economia lenta, uma pandemia e queda nas vendas justificariam queda no preço dos carros? Pelo jeito não.

Com base na Tabela de Preços de QUATRO RODAS, comparamos os dez carros mais vendidos no Brasil em 2020, constatando o óbvio: está mais caro ter um 0 km em casa. Porém a conta não é tão simples, e a disparada do dólar poderia ter elevado ainda mais esses valores.

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Visão geral

Ao se analisar os preços dos carros mais vendidos do Brasil, é possível perceber que o valor nominal de sete dos dez veículos subiu acima da inflação — 3,14% no acumulado de setembro.

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O campeão nesse reajuste é justamente o Onix, que até o mês passado contabilizava quase cem mil emplacamentos. O popular hatch viu seu preço médio nominal (calculado pela média entre o preço dos modelos mais caros e baratos da tabela) subir 14,48%, indo de R$60.790 para R$69.590.

Mesmo tendo encarecido mais que seus concorrentes diretos, o carro mais vendido do Brasil seguiu firme na liderança e só em dois meses não foi líder de emplacamentos, perdendo para o T-Cross e a Strada (excluída do comparativo por conta da recém-lançada nova geração).

A GM repetiu a estratégia de encarecer sua linha de maior sucesso no Onix Plus — terceiro mais vendido do Brasil com cerca de 50 mil unidades. Assim, o preço do sedan subiu 13,47%, indo de R.440 para R.390, também sem balançar no ranking.

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Em todo o top 10, apenas outro carro viu seu valor nominal subir mais de 10%. Se trata do Renegade, que chegou a R$114.144 e ficou 11,37% mais caro do que custava, em média, no início do ano. Com a inflação baixa, a correção não gera grandes mudanças, e os reajustes de Onix, Onix Plus e Renegade passam à casa de 11,66%, 10,68% e 8,63%, respectivamente.

Essa correção, entretanto, faz com que três modelos — HB20, Ka e T-Cross — estejam, na prática, mais baratos do que há nove meses. O líder nesse desconto é o T-Cross, que já estava mais barato nominalmente e, com o ajuste, fica ainda mais.

O SUV da Volkswagen era vendido, em média, a R.490. Agora, o valor na ‘etiqueta’ é 1,33% mais barato: R.190. Levando em conta o poder de compra, isso equivale a um decréscimo de 3,76% no custo.

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Poderia ser pior…

Mesmo que setores como vestuário e despesas pessoais tenha registrado queda no acumulado de 2020, a indústria automotiva apresenta um cenário à parte; muito por conta de sua estrutura globalizada.

Ainda que o top 10 brasileiro seja fabricado no território nacional, muitos insumos como peças e maquinário vêm do exterior e, portanto, são cobradas em dólar. Além disso, matérias-primas como o aço têm seu preço comotidizado — portanto, atrelado à moeda americana.

Se em condições normais a saída seria compensar esse fenômeno vendendo mais para mercados como a América Latina, a covid-19 tornou essa prática inviável ao desaquecer a economia global como um todo. É o que explica Roberto A. Z. Borghi, professor de Economia da Unicamp.

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De acordo com Roberto, “as montadoras buscam adaptar suas estratégias frente a esse contexto adverso. Enquanto o giro de vendas ainda se encontra baixo, a saída adotada tem sido na elevação da margem, com o aumento do preço dos veículos em real. Isso, porém, tem suas limitações, dada a lenta recuperação da demanda por novos automóveis.”

A condição única do Brasil nesse momento, torna “outros mercados, sobretudo das economias avançadas, mais atrativos no momento”, ressalta o professor.

Tudo isso, agravado pelo desempenho ruim do real frente a outras moedas, gerou um impasse no qual as fabricantes repassariam esse valor ao consumidor ou diminuiriam sua margem de lucro. E escolheram a segunda opção. Para Borghi, essa queda nos lucros foi compensada com um rearranjo global na cadeia de produção.

“A adoção de uma estratégia de preços regionais pode favorecer o atendimento da demanda regional, de acordo com suas características e nível de renda. Dada a integração das redes de produção das grandes montadoras mundiais, elas já contemplam estratégias de reorganização entre demanda e produção nos diferentes mercados, buscando atenuar oscilações, como a cambial”, explicou.

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Caso a crise por cá persista, só essas soluções podem ser insuficientes. “Alguma saída — de curto prazo — para as montadoras pode ser vislumbrada por meio do financiamento, com redução de taxas de juros para aquisição de novos veículos e estratégia de vendas”, completou.

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