Avatar do usuário logado
Usuário
OLÁ, Usuário
Ícone de fechar alerta de notificações
Avatar do usuário logado
Usuário

Usuário

email@usuario.com.br
Última Semana: Revista em casa por 9,90

American car of life

Por Jeremy Clarkson
26 set 2014, 10h00
jeremy-setembro
jeremy-setembro (/)
Continua após publicidade

Você acredita que o envolvimento dos Estados Unidos no Iraque foi correto e justificado? Você acredita que todo mundo tem direito a possuir quantas armas automáticas quiser e que Barack Obama é basicamente um comunista? Sim? Então é claro que seu carro é um Chevrolet Corvette. Porque ele não é só um carro. É uma afirmação. Que diz que você é um conservador ferrenho, de uma família tradicional de pessoas tementes a Deus, que acredita em cabelos bem curtos, cerveja americana e no American Way of Life.

Ninguém dirige um Vette ouvindo George Michael. Ou música clássica. Coisa que nunca seria dita a alguém que tivesse acabado de sair de um carro desses é “Bem-vindo, Eminência”. E isso significa que simpatizantes do Partido Democrata, que ouvem George Michael, não dirigiriam um Corvette nem em 1 milhão de anos. E até agora não havia razão para se importar com isso. Porque dirigir o único esportivo – ha! ha! ha! – dos Estados Unidosera bem parecido com dirigir o outro carro do seu dono típico: uma picape. Suspensão dura, direção desconectada da estrada, controle difícil e falta de refinamento.

Você já parou para pensar por que nunca fabricaram um Corvette com o volante no lado direito, para a mão-inglesa? É porque a divisão de esportivos da Chevrolet considera que o mundo fora dos EUA está cheio de canibais e comunistas, nenhum dos quais apreciaria seus motores com comando no bloco e suspensão de feixe de molas. Amém. Louvemos o Senhor. Mas há um problema. Notei isso pela primeira vez há alguns anos, quando dirigia um Corvette ZR1, da geração anterior, entre São Francisco e o Deserto de Nevada. Eu sei, é claro, que produtos americanos muitas vezes não parecem tão ruins quando você está nos EUA – eu até consigo tolerar a Budweiser vendida em alguns estados. Mas o carro realmente não parecia tão ruim assim. Sim, continuava um grandalhão das antigas, mas parecia que a Chevrolet estava realmente tentando torná-lo mais do que 1 tonelada de plástico, ferro fundido e grunhido em linha reta.

Agora as coisas pioraram, porque lançaram um Corvette totalmente novo. Eles o batizaram de Stingray e, bom, não sei como falar isso, mas… o carro é excelente! Sim, as mães ainda recolhiam seus filhos para dentro de casa quando eu passava e os ciclistas zombavam de mim com mais crueldade que o normal. Eu sentia a aversão de qualquer um com QI mais alto que a média. Queria colocar a cabeça para fora da janela e gritar: “Olha, eu sei que vocês acham que isto aqui é uma porcaria, que eu só comprei para mostrar minha paixão por música country. Mas acreditem: o carro é maravilhoso.”

Os Corvette sempre foram bonitos, mas este é uma obra-prima. Tem quatro escapes enormes e um capô mais esculpido do que a Cordilheira do Himalaia. Sim, concordo que é uma infantilidade, mas o que há de errado nisso? O Lamborghini Aventador é uma infantilidade. A Ferrari 458 Italia é uma infantilidade. O Jaguar F-Type é uma infantilidade. E o Stingray é tão bonito quanto qualquer um deles. De alguns ângulos é ainda mais bonito. É um dos carros com as proporções mais belas que já vi. Sob a carroceria, é como uma coletânea de maiores sucessos. Porque o que a Chevrolet fez foi pegar o melhor da Europa e do Japão e colocar no seu carro. Ele tem o mesmo tipo de diferencial eletrônico e suspensão de nomes impronunciáveis que você encontra nas Ferrari, a mesma tecnologia de controle do acelerador do Nissan 370Z, o mesmo tipo de head-up display do BMW M5 e um sistema que desativa metade dos cilindros quando eles não são necessários. O mesmo que você tem no Bentley. E ainda há coisas que você não encontra num carro europeu. Por exemplo, basta apertar um botão que a tela sensível ao toque desliza para baixo e revela um compartimento oculto grande o suficiente para guardar uma Bíblia e uma pistola pequena. Naturalmente, por baixo do exterior de alta tecnologia algumas coisas continuam firmemente retrógradas. O câmbio é montado na traseira, para melhorar a distribuição do peso, mas vem com o tradicional ruído quando você passa para a segunda ou terceira. O motor tem comando no bloco e só duas válvulas por cilindro, porque quatro é coisa de comunista. E a carroceria continua de fibra de vidro, porque fibra de carbono é conspiração da esquerda. Então sim, ele é um nerd de software do Vale do Silício, mas continua sabendo como matar um alce.

Continua após a publicidade

Qual é sua marca registrada? É a pancada na aceleração, espantosa até para os padrões europeus mais exigentes. Acerte a largada e o V8 de 6,2 litros faz o 0 a 100 km/h em 4,2 segundos. A velocidade, no velocímetro, seria de 330 mph (531 km/h). Acho que foram otimistas demais nisso: 180 mph (290 km/h) está mais perto do real. É claro que, ao longo dos anos, muitos carros americanos mostraram desempenho impressionante em linha reta, mas o Corvette também pode fazer outra coisa: curvas. Dos dois tipos: para a esquerda e para a direita. Eu pilotei o Stingray até a pista de testes do Top Gear e dentro dela alguns dias atrás e, mesmo tendo de admitir que acho que um céu azul limpo pode tornar qualquer conversível aceitável, adorei o carro.

Os problemas são mínimos. Em lombadas – que são coisa de comunista – a frente raspa, mesmo rodando devagar. E, não importa o ajuste selecionado, a suspensão é sempre um pouquinho mais firme do que precisa. Mas acho que um pouquinho de desconforto leva você para mais perto de Jesus. E o volante estava do lado errado do carro. Mas eu não me importei, porque estava me divertindo demais. Com todos os oito cilindros em ação, o urro quando se acelera é inebriante e o carro se comporta como um Mercedes SLS. O Corvette fica feliz quando há 40 graus de contraesterço nas rodas da frente, um motorista sorridente no meio e fumaça saindo dos pneus atrás suficiente para esconder um encouraçado.

Nos EUA, um Stingray conversível custa US$ 71 000 (R$ 161 000). Mas a GM decidiu que o preço na Grã-Bretanha deveria ser de 64 540 libras (R$ 248 000). Sim, isso parece uma extorsão. Mas olhe desta maneira: uma Ferrari igualmente rápida custaria o dobro. Então, 64 540 libras para um conversível que chega a 290 km/h, lindo e tão bom de dirigir assim é a pechincha do século. Lembre que um Jaguar F-Type V8 custa quase 16 000 libras (R$ 61 400) a mais! E me desculpem, mas o Jag não é tão bom. Só uma coisa. Se você estiver num Jaguar, está convidado a passar na minha casa para chá e biscoitos. Se dirigir um Corvette Stingray, não!

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

ÚLTIMA SEMANA

Digital Completo

Apaixonado por carros? Então isso é pra você!
Pare de dirigir no escuro: com a Quatro Rodas Digital você tem, na palma da mão, testes exclusivos, comparativos, lançamentos e segredos da indústria automotiva.
De: R$ 16,90/mês Apenas R$ 5,99/mês
ECONOMIZE ATÉ 59% OFF

Revista em Casa + Digital Completo

Quatro Rodas impressa todo mês na sua casa, além de todos os benefícios do plano Digital Completo
De: R$ 26,90/mês
A partir de R$ 10,99/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a R$5,99/mês.