Inaugurado por Toyota Hilux e Mitsubishi L200, o segmento das picapes médias só esquentou com a chegada da Ford Ranger, importada em 1994: ela mostrou que era possível abrir mão do comportamento rústico em favor de uma dirigibilidade suave, própria de carro de passeio. Ao todo, foram quase duas décadas sem modificações extensas, em inúmeras configurações de motorização, acabamento e tração. Para escolher a melhor versão, o ideal é determinar o uso que será feito, a qualidade das estradas e o quanto se pretende gastar. Quem busca desempenho deve mirar na V6, vendida até 2003. Apesar de beberrona, oferece 160 cv, suficientes para acelerações vigorosas e ultrapassagens seguras. A potência saltou para 210 cv em 2001, mas fique atento: o rodar confortável é resultado de uma suspensão macia que não combina com trabalho pesado. Com cabine simples ou estendida, é ideal para quem roda pouco ou a passeio.
A turbodiesel é para quem busca desempenho, mas não quer abastecer todo dia: o Maxion 2.5 de 115 cv foi oferecido de 1998 a 2001, substituído pelo Power Stroke 2.8 turbo de geometria variável e 135 cv (na XL o turbo é convencional, com menos torque e potência). Em fevereiro de 2005, chegou o Power Stroke 3.0 eletrônico, com excelentes 163 cv.
Quem foca no trabalho deve procurar pelas quatro-cilindros a gasolina: 2.3 de 114 cv lançada em 1997, 2.5 de 121 cv de 1998 a 2001 e 2.3 de motor Mazda 16V, que atingiu 150 cv. Custam menos que as turbodiesel (que têm bom desempenho e consumo) e trazem a vantagem do seguro menor. Não se engane pelo visual descolado da cabine estendida: os banquinhos traseiros de algumas servem só para trajetos curtos. O motorista que precisa levar mais de duas pessoas deve optar pela cabine dupla de quatro portas, oferecida desde 1998 em diversas versões.
Por fim, quem for encarar os piores caminhos pode investir na 4×4, a partir de 1998. Atenção também nos itens de série: em 18 anos, foram diversas versões e séries especiais, sendo que airbags e ABS eram quase sempre opcionais (as fabricadas até 1998 traziam ABS só no eixo traseiro).
FIQUE DE OLHO
Nas 4×4, nunca se esqueça de testar a tração: seu acionamento é eletrônico e se dá por um botão giratório no painel. A tração total (4×4 high) deve engatar normalmente em movimento, ao passo que a reduzida (4×4 low) exige que o veículo esteja parado e com os pedais do freio e embreagem pressionados juntos.
NÓS DISSEMOS Abril 2010
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Ranger Sport: “Traz sistema de som com entradas auxiliares e design mais atualizado, embora o projeto seja defasado. (…) Os bancos dianteiros, quase inteiriços, têm três cintos de segurança, mas o espaço central é inadequado até para uma criança. desça o encosto central e utilize-o como um descansa-braço. A alavanca de câmbio típica de picapes, com haste longa, oferece engates justos, enquanto a direção, com assistência hidráulica, é leve e precisa. A suspensão traseira, nesta versão, ganha barra estabilizadora, que deixa a picape firme. Vazia, tende a pular em imperfeições.”
PREÇO DOS USADOS (EM MÉDIA) XLS 3.0 diesel CD 4×4 2009: 53 885
2010: 60 213
2011: 62 626
2012: 69 595
XLS 2.3 gas. Sport CS 4×2 2009: 33 271
2010: 36 689
2011: 41 092
2012: 45 617
PREÇO DAS PEÇAS Para-choque dianteiro Original: 1 824
Paralelo: 715
Farol completo (cada um) Original: 649
Paralelo: 360
Disco de freio (par) Original: 1 234
Paralelo: 820
Retrovisor (cada um) Original: 954
Paralelo: 320
Pastilhas de freio (dianteiras) Original: 299
Paralelo: 165
Embreagem Original: 2 243
Paralelo: 2 581
PENSE TAMBÉM NUM Chevrolet S10
Líder de vendas, foi ela que inaugurou a produção nacional das picapes médias, em 1995. Assim, vale o mesmo procedimento indicado para a concorrente Ranger: quem procura desempenho deve optar pela versão 4.3 V6 a gasolina, que foi oferecida até o ano 2000. Quem roda bastante pode dar preferência para as versões turbodiesel Maxion de 2,5 litros (até 1999) e MWM Sprint de 2,8 litros (2000 em diante). Só vale a pena investir nas versões de quatro cilindros a partir do modelo 2007. Elas são dotadas do bom motor de 2,4 litros e 147 cv, muito superior em desempenho aos 2.2 e 2.4 oferecidos até então.
ONDE O BICHO PEGA
Caçamba Fique atento a riscos e amassados. São os primeiros indícios de maus tratos numa picape e quase sempre resultam em pontos de corrosão. Cuidado com protetores de caçamba novos: podem ter sido instalados para esconder os estragos.
Correia dentada Verifique o histórico de manutenção e cheque se a correia dentada foi trocada no prazo correto, cuidado imprescindível na versão V6 de 210 cv e em todos os quatro-cilindros, em especial o motor Mazda de 16 válvulas.
GNV A Ranger foi a primeira picape média a ter um kit de gás natural homologado pela fábrica, em 2006. Não feche negócio sem analisar toda a instalação do sistema, incluindo o estado geral do cabeçote, que sofre maior desgaste com o combustível gasoso. Nas Ranger com GNV adaptado, preste atenção na caixa do filtro de ar, que pode ter explodido devido ao refluxo de gás na partida.
Eixo cardã Por ser bipartido, fique atento a vibrações indesejadas. Pode ser um indício grave de que o rolamento central está comprometido. Ruídos estranhos e trancos nas trocas de marcha revelam que as juntas universais estão comprometidas.
Recall Envolve a troca do cabo intermediário do freio de estacionamento, que podia se romper. Veja os últimos números do chassi: de 016989 a 106829 (linha 2007) e de 070985 a 147985 (2008).
A VOZ DO DONO
“A Ranger é muito prática para o dia a dia: alta e robusta, ela ignora a buraqueira sem perder agilidade no trânsito. Discreta, não chama atenção como os utilitários esportivos em geral, além de ser econômica: 8 km/l na cidade e 11 km/l na estrada. O único defeito é chacoalhar bastante quando vazia.”
Marcelo Paolillo, 41 anos, agente de viagens, São Paulo (SP) O QUE EU ADORO
“O V6 é fenomenal: tem força de sobra em qualquer situação, sem problema de durabilidade no uso correto do GNV. E a capacidade de carga é boa sem prejudicar o conforto.”
Jefferson Luis Nascimento, 44 anos, investigador de polícia, Piracicaba (SP) O QUE EU ODEIO
“A caçamba pula quando vazia e é preciso muito cuidado nas frenagens: a Ranger anda como carro de passeio, mas ao parar se comporta como caminhão sem aderência.”
Jason Machado, 37 anos, fotógrafo, Atibaia (SP)