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Longa Duração: o desmonte do Peugeot 208, evolução francesa

Desmonte do 208 mostra uma melhora da Peugeot em motor, câmbio e serviço da rede. Mas a suspensão continua pedindo mais atenção

Por Péricles Malheiros
Atualizado em 4 Maio 2018, 11h18 - Publicado em 21 mar 2016, 16h59
Peugeot 208 - desmonte
Desmonte do Peugeot 208 após 60.000 km (Marco de Bari/Quatro Rodas)

* Reportagem originalmente publicada em novembro de 2014

Maio de 2013. A concessionária Alpes faz uma entrega desastrosa do 208. O técnico disse que o primeiro abastecimento deveria completar o tanque e ser feito apenas com gasolina.

Em seguida, reforçou que era obrigatória a realização da primeira revisão exclusivamente na Alpes. Mais tarde, contatamos o 0800 da Peugeot – que, claro, desmentiu tais informações.

Esse primeiro contato nos levou a imaginar que nada havia mudado desde a passagem de outros dois Peugeot (307 em 2006 e 3008 em 2012) pelo Longa Duração.

Ou seja, a rede continuava permissiva e descompromissada. Felizmente, os 60 000 km de convívio mostraram que, apesar da derrapada inicial e de alguns deslizes pelo meio do caminho, houve uma melhora.

Bem calçados

Logo de cara, percebemos que a Peugeot indica calibragens de pneus para três aplicações distintas: carro vazio (29 libras), carregado (33/36 libras) e redução de consumo (36 libras).

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Levamos o 208 para a pista e percorremos os nossos percursos urbano e rodoviário. Rodando tanto com 29 libras quanto com 36 libras, registramos média de 7,5 km/l na cidade.

Na estrada, com 29 libras, média de 10,6 km/l e, com 36 libras, 11 km/l. Decidimos, então, adotar como padrão a calibragem para carro vazio.

A medida indicada para redução de consumo não apresentou resultados significativos e ainda gerou uma perda acentuada do nível de conforto e dirigibilidade.

Na época, registramos que o carro ficou duro e muito oscilante em alta velocidade. O ganho, definitivamente, não compensava a perda.

Peugeot 208 - desmonte
Peugeot em uma das viagens durante o Longa Duração (Arquivo/Quatro Rodas)
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A decisão não teve qualquer impacto negativo nos pneus. Com rodízio, alinhamento e balanceamento efetuados em cada revisão, o 208 chegou ao fim do teste com o conjunto original.

Este, aliás, foi alvo da pior revisão do 208, aos 50 000 km, feita pela paulistana Paris-Morumbi, em São Paulo.

Lá, além de dispensar um atendimento nada cordial, o consultor condenou os pneus e tentou empurrar um jogo (por R$ 2.016), alegando o fim de sua vida útil.

Saímos de lá e, num revendedor autorizado Pirelli (fabricante dos pneus do 208), ouvimos do técnico exatamente o contrário: “Chegam até 60 000 km, pelo menos. E os quatro saem por R$ 1.450”.

Com o restante do carro, o convívio foi tranquilo. A buzina apresentou problemas em duas ocasiões, mas foi trocada em garantia em ambas.

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Incômodo mesmo tivemos com a cobertura do teto. Bipartida, ela é mais fina do que o espaço reservado no trilho duplo.

Assim, a trepidação de pisos irregulares faz com que ela vibre, transformando-se numa fonte de ruído perto dos ouvidos.

Na primeira revisão, a autorizada Paris condenou o tampão do teto e devolveu o carro alegando ter feito a troca da peça. Mas de novidade só encontramos os amassados nos trilhos originais e a sujeira no forro do teto.

Viagem de despedida

Próximo do fim do teste, como de praxe, nosso consultor técnico, Fabio Fukuda, percorreu com o 208 as ruas próximas à Fukuda Motorcenter, a oficina onde são feitos os desmontes.

“Assim, consigo dar atenção aos pontos anotados no diário de bordo pelos usuários ao longo dos 60 000 km. Além disso, tiro minhas impressões e coloco o motor em temperatura de trabalho, condição necessária para o início do processo de desmonte”, diz.

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Na oficina, o 208 começou a ser examinado. A pressão de óleo estava dentro do limite mínimo nas três condições aferidas: em rotação de marcha lenta, a 2 000 e a 4 000 rpm.

“Nessa fase inicial, aproveito para fazer uma inspeção visual do motor. No 208, nada de plásticos trincados, borrachas secas ou vazamento de fluidos”, diz Fukuda.

Ao verificar a pressão de compressão dos cilindros, tivemos problemas técnicos que nos impediram de realizar a medição. Mesmo assim, Fukuda se sente seguro para garantir que estava tudo bem.

“A zona de assentamento de válvulas livre de carvão e os anéis de compressão dos pistões com folga dentro dos padrões da fábrica permitem concluir que não havia perda de pressão”, diz ele.

Os primeiros sinais de fuga de pressão são a perda de performance e o aumento de consumo. Isso é exatamente o contrário do que aponta a comparação dos testes de pista feitos aos 1.000 e aos 60.000 km (veja no final do texto).

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Peugeot 208 - desmonte
208 foi o terceiro modelo da marca francesa no Longa Duração (Arquivo/Quatro Rodas)

No cabeçote, as válvulas de admissão apresentavam índice de carbonização de média intensidade.

“Os retentores, ainda flexíveis, são inocentes. O culpado é o sistema de recirculação de vapor de óleo. Encontramos as paredes das galerias de admissão do cabeçote com traços evidentes, e acima da média, de lubrificante”, explica Fukuda.

Um dos coxins mostrava estágio inicial de degradação da borracha. Não compromete a performance, mas pede atenção especial.

Destaque negativo para a suspensão. Fato raro, encontramos dois amortecedores com sinais de vazamento. Para piorar, o desmonte revelou ainda uma bucha da bandeja esquerda com rompimento parcial.

Os demais sistemas do 208 cumpriram bem sua função e chegaram aos 60.000 km em boas condições.

Peugeot 208
Apenas a suspensão do 208 reprovou no teste de Longa Duração (Marco de Bari/Quatro Rodas)

O freio dianteiro, com pastilhas e discos trocados (estes, desnecessariamente) na quarta revisão, estavam, lógico, em estado de novos. O traseiro, sem manutenção durante o teste, também foi bem.

A caixa de direção estava sem folgas, o que explica a atuação precisa e sem ruídos. Câmbio, acabamento e carroceria também estavam em perfeito estado.

Fim da linha. Apesar dos percalços, o 208 e a rede Peugeot mostraram sinais de evolução. Eles são claros, como também é clara a necessidade de que ela continue em curso.

Itens aprovados

Passagem do bloco

Peugeot 208 - desmonte
(Marco de Bari/Quatro Rodas)

O desmonte do bloco do motor só trouxe boas notícias. Os pistões estavam com a cabeça com índice de carbonização compatível com a quilometragem.

Os anéis de compressão estavam todos com folga de entrepontas dentro dos limites aceitos pela fábrica.

No virabrequim, a medição de munhões, moentes e folga axial indicou números no centro da faixa de tolerância da Peugeot.

Mais altos do que baixos

Peugeot 208 - desmonte
(Marco de Bari/Quatro Rodas)

A retirada do painel e dos revestimentos do 208 mostrou que a proteção da cabine contra a invasão de contaminantes como poeira e água continua sendo um dos pontos fortes dos carros da Peugeot.

Foi assim com o hatch 307 e com o crossover 3008 e se repete agora com o 208. Mantas e espumas espessas revestem o assoalho, o que ajuda também no isolamento sonoro.

O contraponto da qualidade de equipamento foi o tampão retrátil do teto panorâmico, uma fonte de ruído do início ao fim do teste.

Gasto à toa

Peugeot 208 - desmonte
(Marco de Bari/Quatro Rodas)

Na quarta revisão, a rede Peugeot trocou as pastilhas, que de fato haviam chegado ao fim. Mas errou ao condenar também os discos. Resultado: gastamos R$ 392 sem necessidade.

Alimentação saudável

Peugeot 208 - desmonte
(Marco de Bari/Quatro Rodas)

O índice de contaminação do corpo de borboleta, componente que regula a entrada da mistura de ar e combustível no sistema de admissão, estava compatível com a quilometragem.

Com as velas de ignição também em bom estado, a luz da injeção não acendeu em nenhum momento do teste.

Câmbio em alta

Peugeot 208 - desmonte
(Marco de Bari/Quatro Rodas)

Muitos motoristas reclamaram de trepidação nas arrancadas do 208, o que nos levou a imaginar que a embreagem havia chegado ao fim.

Longe disso. O disco ainda estava com boa espessura do material de atrito, o que nos leva a imaginar que o material elástico perdeu sua máxima capacidade de gerar pressão.

No mais, tudo em ordem: nada de vazamento nas coifas das homocinéticas nem sinais de desgaste nas engrenagens, garfos e luvas de engate do câmbio.

Caixa forte

Auxiliada por um sistema elétrico capaz de proporcionar uma boa dose de leveza ao pequeno volante do 208, a caixa de direção se mostrou silenciosa e muito resistente.

Sem folga axial ou nos terminais de direção, ela chegou ao desmonte em estado de nova.

Itens de atenção

Morte anunciada

Peugeot 208 - desmonte
(Marco de Bari/Quatro Rodas)

O coxim inferior, também chamado de coxim de torção, não fazia ruído nem transmitia vibrações para a carroceria em função da pequena trinca encontrada nele. Mas, com o uso, a tendência era de agravamento.

Culpados e inocentes

Peugeot 208 - desmonte
(Marco de Bari/Quatro Rodas)

Os retentores de válvulas cumpriram seu papel, assim como os anéis de compressão dos pistões, todos dentro das especificações.

Logo, o elevado índice de contaminação das válvulas pode ser atribuído ao sistema de recirculação dos vapores de óleo.

Corrobora essa tese a presença de lubrificante na galeria das válvulas de admissão, exatamente o ponto por onde passam os vapores.

Itens reprovados

Fora de ação

Peugeot 208 - desmonte
(Marco de Bari/Quatro Rodas)

A suspensão foi o único sistema reprovado no desmonte. Um amortecedor vazou e outro perdeu boa parte da pressão por problemas nos componentes internos.

Na bandeja esquerda, mais uma falta grave: uma bucha severamente danificada. A suspensão é, definitivamente, o ponto fraco da Peugeot, ao menos a dos modelos avaliados no Longa Duração.

Veredicto

Em outubro, quando fizemos a simulação de venda do carro, caiu a máxima de que francês tem desvalorização acima da média.

Na rede, as ofertas (ainda que condicionadas à compra de um outro Peugeot) foram muito boas. Nosso 208 contraria outra má fama dos franceses: a do custo elevado de manutenção.

Ele dá adeus ao Longa com um número só um pouco acima da média do segmento. A rede, apesar de ter mostrado alguma melhora, ainda carece de atenção da fábrica.

Histórico – Principais ocorrências 

 
7.677 km Tampa corrediça do teto panorâmico vibra e faz barulho
9.618 km Buzina com som rouco e abafado
28.032 km Aparente perda de eficiência do ar-condicionado
34.196 km Embreagem trepidando nas saídas
39.327 km Chiado nas pastilhas de freio

Folha Corrida 

 
Preço de compra: R$ 41.920 (agosto/2013)
Quilometragem total: 60.092 km; 42.993 km (71,5%) rodoviário), 17.099 km (28,5%) urbano
Consumo total: 6.556,2 litros de etanol (R$ 13.114,23)
Consumo médio: 9,2 km/l (com etanol)
REVISÕES
10.000 km R$ 220 (PAris-Alphaville)
20.000 km R$ 390 (Alpes)
30.000 km R$ 240 (Super France)
40.000 km R4 646 (Port Andreta)
50.000 km R$ 408 (Paris-Morumbi)
Alinhamento, balanceamento e rodízio R$ 689
Peças extras às revisões R$ 732 (discos e pastilhas de freio dianteiro)
Custo por 1.000 km R$ 273,60

Check-up 

 
1.014 km 60.000 km Diferença
0 a 100 km/h 13,4 s 12,6 s + 5,97 %
0 a 1.000 m 34,9 s 34,1 s + 2,29 %
retomada de 40 a 80 km/h (3ª) 8,2 s 7,9 s + 3,66 %
retomada de 60 a 100 km/h (4ª) 11,4 s 11,4 s =
retomada de 80 a 120 km/h (5ª) 19,2 s 18,9 s + 1,56 %
frenagem de 60 km/h a 0 17,1 m 17,2 m – 0,58 %
frenagem de 80 km/h a 0 30,5 m 30,2 m + 0,98 %
frenagem de 120 km/h a 0 71,4 m 70,1 m + 1,82 %
consumo urbano 7,6 km/l 8 km/l + 5,26 %
consumo rodoviário 11 km/l 11,2 km/l + 1,82 %
ruído interno PM 39,4 dBA 41,7 dBA – 5,84 %
ruído interno RPM máximo 72,4 dBA 76,1 dBA – 5,11 %
ruído interno 80 km/h 60,3 dBA 64,1 dBA – 6,3 %
ruído interno 120 km/h 65,6 dBA 68,7 dBA – 4,73%
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