VW ID.Buzz: dirigimos a Kombi do futuro que já faz parte do presente
Utilitário elétrico se inspira no visual clássico, mas passa longe de ter a mesma capacidade de carga da velha Kombi
Subo para o banco do motorista e noto a posição de dirigir muito vertical, assim como o para-brisa. Não há dúvida de que o espírito as formas da velha Kombi estão ali. Mas agora o motorista não fica tão próximo ao vidro e com as pernas quase no limite da carroceria, como antes. Então, nossa avaliação começa com um agradecimento às exigentes normas de segurança atuais.
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Estamos ao volante do ID. Buzz – Kombi elétrica, para os íntimos. A Volkswagen foi buscar ingredientes de um passado cheio de emoções para preparar uma receita de sucesso. Do lado de fora, há sempre celulares apontados para a novidade. Isso se deve ao fato de que na Europa ela está para chegar, e também porque andamos em uma unidade disfarçada com uma divertida camuflagem colorida.
Nosso test-drive ocorreu alguns dias antes da revelação mundial, em 9 de março. Mas as imagens mostradas aqui já são as oficiais, sem disfarces.
Logo nas primeiras centenas de metros na zona portuária de Hamburgo, na Alemanha, com estradas estreitas e maltratadas, a nova Kombi começa a somar pontos, tanto pelo fato de sua carroceria dar mostras de boa rigidez como pelo razoável conforto proporcionado pela suspensão. Ou ainda pelo ótimo silêncio de rolamento. Nisso, ela está muito à frente do modelo original, com seu motor boxer a ar, que reverberava seu som metálico por todo o interior.
Quando deixou de ser produzida no Brasil, em 2013, a Kombi 1.4 flex tinha 80 cv e 12,7 kgfm (com etanol). Pois agora o motor elétrico gera 204 cv e 31,6 kgfm. E a bateria de 82 kWh tem a promessa de autonomia superior a 400 km. (Em rodovias, já sabemos que ela deverá ficar na faixa de 300 km).
Mas não pense que ela leva vantagem em tudo sobre a “Velha Senhora”. Apesar do enorme entre-eixos (2,99 metros), a capacidade é para cinco ocupantes, em duas filas de bancos. O modelo original transportava nove pessoas em suas três filas de assentos. Portanto, guarde na memória aquelas imagens em que ela levava a criançada para a escola, o time para jogar bola e os amigos para pescar. Trabalhar na feira fritando pastel ou moendo cana, nem pensar. A capacidade de carga agora é de 650 kg, bem menos que os 1.000 kg do passado.
O design é claramente inspirado no modelo dos anos 1950/60, especialmente a frente. Mas, com 4,7 metros, a nova Kombi é muito maior que a antiga. São cerca de 30 cm a mais na largura e 45 cm no comprimento. Há sete opções de cores, quase todas bastante vivas (como o Amarelo Lima, o Laranja Enérgico e o Azul Luz de Estrelas). É possível combinar dois
tons, como na clássica “saia e blusa”.
Em curvas, dá para perceber que o ID. Buzz não é especialmente ágil, e nem poderia ser, tendo em vista suas proporções e peso (mais de 2 toneladas). Mas, como em todos os elétricos, qualquer sprint curto é feito com enorme rapidez.
É fácil esquecer o pedal da esquerda e acelerar e frear apenas com o da direita, no nível mais elevado de recuperação de energia, que também ajuda a ampliar a autonomia. O diâmetro de giro, de apenas 11,1 metros, impressiona para um veículo tão longo.
Em vias mais rápidas, o desempenho perde brilho, especialmente na Alemanha. Se a velocidade máxima de 145 km/h será mais do que suficiente na maior parte do planeta, em seu país natal ela está sendo um pouco criticada. Isso porque os alemães temem fazer papel de tartaruga quando entrarem em uma Autobahn.
Interior Personalizável
A cabine é versátil. É possível combinar peças e elementos de cores distintas. O banco traseiro é bipartido e rebatível em duas partes assimétricas (1/3-2/3), e ele corre longitudinalmente em até 15 centímetros (para aumentar o espaço para pernas ou o porta-malas). Os encostos podem ser completamente rebatidos, elevando a capacidade para bagagem a 2.205 litros.
Falando em espaço, haverá ainda uma versão comercial, Cargo. Nesse caso, o banco dianteiro acomoda três ocupantes, e o restante do salão de 3,9 m2 na traseira fica reservado à carga.
A instrumentação concentra-se em uma pequena tela de 5,3”, igual à dos outros modelos da família ID. Inicialmente, há apenas um nível de acabamento (Pro), que incluirá de série itens como rodas de liga leve de 19”, duas portas de correr (uma de cada lado), iluminação que projeta no chão o logotipo da marca ao abrir ou fechar o carro, sensores de proximidade dianteiros e traseiros, controle climático bizona e sistema multimídia com tela de 10”. Espalhadas pela cabine, podem existir até oito entradas USB, uma delas ao lado do retrovisor interno (para conectar uma câmera, por exemplo).
Entre os opcionais, há um sistema de iluminação ambiente com 30 cores (em vez de dez, de série), rodas de 20 polegadas, bancos dianteiros elétricos e aquecidos e até auxiliar de estacionamento.
A plataforma é a mesma MEB dos demais Volkswagen ID. A bateria (fornecida pela sul-coreana LG Chem) tem a mesma capacidade da encontrada nos irmãos (82 kWh brutos e 77 kWh utilizáveis), mas com algumas alterações para permitir recarga mais elevada em corrente contínua (CC). Em carregador de 170 kW, a recuperação de 5 a 80% se dá em 30 minutos, segundo a fabricante. O carregamento com corrente alternada (CA) continua indo até 11 kW. Futuramente, haverá uma versão 4×4 com mais potência. Na Buzz Cargo a bateria será menor (58 kWh).
Por meio do sistema Plug & Charge, o ID. Buzz e a estação de carregamento se reconhecem sem necessidade de acessar aplicativo ou tocar na tela do posto de carga, similar ao que ocorre com os Tesla. Há também o carregamento bidirecional, por meio do qual o carro é capaz de “devolver” eletricidade para a residência.
Na Europa, as encomendas podem ser feitas a partir de maio, com entregas previstas para o final do ano. O preço estimado é de 60.000 euros. Para os EUA, ela deverá chegar apenas
em 2024, com entre-eixos mais longo (capaz de transportar seis ou sete pessoas) e até um possível nome exclusivo (embora não oficial): ID. California.
E o Brasil? Oficialmente, não existe nada definido sobre a chegada da perua. Porém, a julgar pelo volume de informações que a marca alemã vem divulgando no país em suas redes sociais (algo incomum para um produto que não é comercializado localmente), é de se supor que em algum momento ela virá. A Kombi foi o primeiro carro produzido pela Volkswagen no Brasil, em um galpão no bairro do Ipiranga, nos anos 1950. Com a versão elétrica, a história teria uma bela continuação.
Veredito
O ID. Buzz agradou no primeiro contato. Mas, se não tivesse agradado, ainda assim seria bem-vindo, por conta do legado deixado por seu antepassado, a VW Kombi.
Ficha Técnica – Volkswagen ID.Buzz
- Preço: 60.000 euros (estimado)
- Motor: elétrico; 204 cv e 31,6 kgfm; baterias de íons de lítio de 77 kWh; tempo de recarga, 30 min (até 80%,em 170 kW)
- Câmbio: automático, 1 m., tração traseiradireção: elétrica; diâmetro de giro, 11,1 m
- Suspensão: McPherson (diant.), multilink (tras.)
- Freios: disco ventilado (diant.), tambor (tras.)
- Pneus: 235/60 R19 (diant.), 255/50 R19 (tras.)
- Dimensões: comprimento, 471,2 cm; largura, 198,5 cm; altura, 193,7 cm; entre-eixos, 298,8 cm; peso, 2.200 kg; porta-malas, 1.121/2.205 l