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Calor, lavagem e reboque: o que pode anular a garantia de carros elétricos

Investigamos as exceções e exigências incomuns dos termos de garantia dos carros elétricos mais vendidos do Brasil

Por Eduardo Passos
Atualizado em 15 set 2024, 10h58 - Publicado em 20 fev 2024, 14h51
Dolphin
Fique atento e a tendência é gastar bem menos na manutenção de um elétrico (Henrique Rodriguez/Quatro Rodas)
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A compra de um carro elétrico inclui a perspectiva de ter um veículo com combustível mais barato, torque instantâneo, zero barulho do motor e, principalmente, preços cada vez menores. Isso vem atraindo cada vez mais consumidores no Brasil. Mas as mudanças também trazem medo, principalmente quando envolvem o investimento de um automóvel.

Ser dono de um elétrico exige comportamento diferente do que estamos acostumados, indo além de simplesmente trocar o posto de gasolina pelos carregadores. E se esse segmento ainda é iniciante no Brasil, também são as opções de manutenção, dando um motivo extra para nos atentarmos à garantia

Por um lado, há muito menos componentes mecânicos, além de desgaste reduzido em partes como os freios; dessa forma, a manutenção periódica pode ser bem mais em conta do que a de um equivalente convencional.

BYD Dolphin Longa Duração
É possível fazer algumas revisões gratuitamente na BYD, mas a chinesa é exigente nos cuidados com o carro (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Para que você mantenha o seu carro elétrico coberto pela garantia de fábrica são necessários alguns cuidados incomuns, que variam de acordo com o fabricante. Detalhes que se aplicam a carros tradicionais (acidentes, uso imprudente e modificações feitas à parte, por exemplo), seguem motivo de cancelamento da garantia, mas há questões específicas, ligados à bateria e motor elétrico.

Atenção à bateria

Em relatos dos leitores, um dos maiores temores envolvendo os EVs é o ‘vício’ das baterias, que perderiam capacidade ao longo do tempo, por consequência, diminuiriam bastante a autonomia do veículo.

Diferentes estudos, feitos com elétricos lançados na década passada, de fato constataram uma perda de capacidade, na casa de 2% ao ano. A tendência, porém, é que isso melhore bastante, já que essa tecnologia vem apresentando avanços consideráveis.

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As baterias de estado sólido tem produção mais complexa, mas isso está sendo resolvido
Baterias mais novas são mais baratas, têm mais capacidade e viciam muito menos (Influence emobility/Divulgação)

Entretanto, todas as montadoras estabelecem uma perda de carga máxima, que não configura motivo para troca da bateria dentro do período de cobertura. Logo, ainda que improvável, é possível que nosso BYD Dolphin, por exemplo, tenha sua autonomia urbana reduzida a 60% de sua capacidade original sem que possamos pleitear troca das células.

Em alguns casos, também são necessários cuidados quando o carro ficar muito tempo parado, com o período de repouso exigindo uma carga prévia mínima. Dependendo da marca, ainda há peculiaridades envolvendo o calor e até a forma de lavar o veículo.

A lista abaixo reúne alguns pontos importantes na garantia dos carros elétricos mais vendidos do Brasil. QUATRO RODAS, todavia, sempre lembra a importância de ler o manual completamente: como no Dolphin que compramos para rodar 100.000 km, sempre há informações inesperadas e importantes.

Garantia dos BYD Dolphin, Seal e Yuan

Nenhuma marca vende tantos carros elétricos no Brasil quanto a BYD: no mês passado, a chinesa representou 64% dos emplacamentos aqui. A chinesa já conta com 18 concessionárias no território nacional e aplica praticamente as mesmas regras a todo seu catálogo de EVs.

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Quem não tem um BYD D1 ainda pode trabalhar com aplicativos, mas a garantia é reduzida
O BYD D1, feito para trabalhar com aplicativos, tem sempre garantia reduzida, de dois anos ou 100.000 km (Divulgação/BYD)

Quem compra um Dolphin, Seal, Yuan ou Tan deve, antes de tudo, se atentar ao limite da garantia: ela diminui consideravelmente se o veículo for usado como táxi, transporte de aplicativo ou outras funções comerciais. 

Como no caso das outras montadoras, a BYD discrimina uma garantia geral para o carro, que vale para todos os componentes exceto os citados especificamente. É o caso da central multimídia giratória que sempre chama atenção: naturalmente, ela apresenta mais riscos de falhas por conta de suas partes móveis, mas sua proteção é restrita a 1 ano ou 30.000 km — sempre o que vier primeiro.

GARANTIA USO PARTICULAR USO COMERCIAL
Carro, motor e sistemas elétricos 5 anos/500.000 km 2 anos/100.000 km
Bateria de tração 8 anos 5 anos/150.000 km
Bateria 12 V 1 ano/20.000 km 1 ano/20.000 km
Central multimídia 1 ano/30.000 km 1 ano/30.000 km
Limpadores e pastilhas e discos de freio 3 meses/5.000 km 3 meses/5.000 km
Tomada e carregador 1 ano 1 ano
Faróis, lanternas e setas 2 anos ou 60.000 km 1 ano/60.000 km

Perda aceitável de carga da bateria: até 40%, mantendo 60% da capacidade original

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A lista de motivos para que seu BYD perca a garantia é extensa. Primeiramente, há proibição expressa do uso do carro para rebocar qualquer coisa, enquanto outras marcas apenas desaconselham a prática. Caso vá guardar o carro por longos períodos, o manual também ensina a evitar que a bateria fique em menos de 5% de carga por mais de 14 dias, o que também é proibido.

Calor, lavagem e reboque: o que pode anular a garantia de carros elétricos
Autonomia pode cair com o passar do tempo, sem direito a reposição caso esteja dentro do limite previsto (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Outro detalhe relativamente óbvio e que vale para todas as marcas (ainda que não citado expressamente nos manuais) é a proibição de terceiros acessarem e modificarem o compartimento de bateria e o sistema elétricos. Tanto a chinesa quanto suas concorrentes possuem lacres que indicam essa violação.

Pode resultar em perda da garantia

  • Uso do carro como reboque
  • Veículo parado por mais de 14 dias com menos de 5% de bateria
  • Uso de carregador não recomendado pela BYD
  • Veículo parado por mais de 3 meses sem recargas mensais
  • Abertura do compartimento de bateria por terceiros
  • Danos por instalação de rastreadores e outras alterações em multimídia e afins.

Garantia do GWM Ora 03

ORA 03 GT
Ao contrário da rival, GWM permite uso do Ora 03 com reboque (Fernando Pires/Quatro Rodas)
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A conterrânea GWM é mais sucinta, inclusive não definindo um limite exato para a perda de carga da bateria capaz de justificar troca gratuita pelo pós-venda. Também há garantia diferenciada para o carro em si e para o sistema elétrico, mas itens como os discos e pastilhas de freio, por outro lado, não têm cobertura extra.

Nesse caso, valem  os 90 dias previstos pelo Código de Defesa do Consumidor, que se aplicam a todos os componentes por força de lei e já é contabilizado por todas as fabricantes em seus prazos estendidos.

GARANTIA
Carro 5 anos
Bateria de tração, motor e sistema elétrico de alta voltagem 8 anos/200.000 km
Bateria 12 V 1 ano
Limpadores, pastilhas e discos de freio e luzes em geral SEM GARANTIA*

Garantia do Peugeot e-2008

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Peugeot dá orientações especiais para a lavagem do e-2008 (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Ainda mais simples é a Peugeot, que modificou levemente a garantia de seus veículos a combustão adaptando-a para os elétricos. No caso do e-2008, vale notar que a proteção estendida é válida somente às baterias, de modo que problemas no motor, por exemplo, têm a mesma cobertura de outras questões que ocorrem no utilitário.

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GARANTIA
Carro, motor, cabos e carregadores 3 anos
Bateria de tração 8 anos/160.000 km

Ainda que os carros elétricos tenham proteção reforçada contra água e poeira, a lavagem em alta pressão pode ser um problema no modelo da francesa. Dessa forma, o manual condena o uso de mangueiras com pressão superior a 80 bar e, caso o e-2008 fique parado muito tempo, ordena a carga total do SUV a cada 3 meses.

O reboque também é expressamente proibido. Por outro lado, não há menção expressa à perda de capacidade da bateria com o passar do tempo.

Pode resultar em perda garantia:

  • Lavagem do carro com mangueiras de pressão superior a 80 bar
  • Não carregar a bateria completamente a cada 3 meses, em caso de manter o veículo parado por longos períodos
  • Uso do carro como reboque

Garantia do JAC e-JS1

JAC E-JS1
Calor brasileiro pode ser problema para os donos de JAC E-JS1 (Fernando Pires/Quatro Rodas)
O volume de importação pequeno da JAC não justifica a conversão das tomadas de carregamento, que vêm da China com o padrão local. Assim, os donos do e-JS1 sempre usarão adaptadores, cujas especificações são ditas no manual.

Aqui, a garantia de todo o sistema elétrico é idêntica à do resto do carro. Exceções ficam por conta da bateria de 12 V (que também existe nos EVs), nos itens de áudio e vídeo da cabine e nos carregadores, cuja cobertura é reduzida.

GARANTIA
Carro, bateria de tração, motor, sistema elétrico de alta tensão e interface de carregamento 5 anos/100.000 km
Bateria 12 V, central multimídia, alto-falantes e carregadores 1 ano/100.000 km

Perda aceitável de carga da bateria: até 25%, para 75% da bateria original.

Um ponto curioso é a proibição de expor o veículo a temperaturas que excedam os 45º C ininterruptamente, por um dia ou mais. Moradores de cidades quentes podem ter problemas, já que certas garagens acabam mantendo o calor durante a noite. Também há limitações quanto a manter o e-JS1 parado por longos períodos, mas a marca reserva o direito de avaliar cada caso individualmente.

Pode resultar em perda garantia:

  • Expor o veículo a temperaturas ambiente acima de 45°C por mais de 24 horas
  • Deixar o veículo parado por mais de 14 dias com a bateria em estado de carga zero ou próximo de zero
  • Veículo armazenado ocioso por longos períodos (suscetível à análise da JAC)

Garantia dos Volvo XC40 e C40

volvo xc40 recharge plus
Volvo XC40 Recharge Plus (Fernando Pires/Quatro Rodas)

No site da Volvo, não há divulgação completa do manual de garantia. A sueca, entretanto, destaca a proteção de dois anos ao veículo e, especificamente à bateria, uma cobertura maior.

GARANTIA
Carro 2 anos
Bateria de tração 8 anos/160.000 km

Ao lavar um XC40 ou C40, é permitido usar mangueiras de alta pressão, mas o jato nunca pode ser direcionado ao bocal de carregamento em uma distância menor do que 30 cm. Também condena-se o estacionamento do carro em calor extremo e, caso ele vá ficar parado por mais de um mês, pode ser necessário dar uma carga extra ou até mesmo gastar a bateria antes de estacioná-lo, a fim de cumprir a janela estabelecida.

Pode resultar em perda garantia:

  • Direcionar jato d’água de alta pressão ao bocal de carregamento a menos de 30 cm de distância
  • Estacionar o carro em temperatura superior a 55º C por mais de 24h
  • Manter o carro parado por mais de um mês sem que, no momento de guardá-lo, a bateria esteja com carga entre 40% e 60%
  • Manter o carro parado por mais de 3 meses sem “conectá-lo a carregador constante”

Garantia dos Renault Megane E-Tech e Kwid E-Tech

Renault Megane E-Tech não é igual ao antigo modelo nem nome: acento agudo francês foi aposentado
Renault Megane E-Tech (Fernando Pires/Quatro Rodas)

A Renault também não divulga seus manuais de garantia online, mas tanto Kwid quanto Megane seguem o esquema de proteção estendida exclusivamente para a bateria.

GARANTIA
Carro 3 anos/100.000 km
Bateria de tração 8 anos/120.000 km

Perda aceitável de carga da bateria: até 25%, para 75% da garantia original

Garantia do Ford Mustang Mach-E

Segure a onda: nada de usar o Mustang Mach-E para competições
Segure a onda: nada de usar o Mustang Mach-E para competições (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Enquanto outras marcas sugerem que o carregamento da bateria não chegue sempre aos 100%, a Ford indica justamente o contrário para o Mustang Mach-E. É uma especificidade das células de fosfato de ferro-lítio, que equipam a única versão comercializada no Brasil.

GARANTIA
Carro 3 anos
Bateria de tração 8 anos/160.000 km
Amortecedores adaptativos Magneride 2 anos/50.000 km

Perda aceitável de carga da bateria: até 30%, para 70% da capacidade original

Também há instruções para manter o carro parado por longos períodos. Além disso, os amortecedores adaptativos têm proteção diferenciada e a Ford é categórica: utilizar o esportivo para competições (profissionais ou amadoras) anula a garantia.

Pode resultar em perda garantia:

  • Uso do carro em competições de qualquer tipo

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