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Primeiro Jeep nacional chegou a ser o carro mais vendido do Brasil

O combatente norte-americano teve importância fundamental na mecanização do campo e no desenvolvimento urbano do Brasil

Por Felipe Bitu
Atualizado em 1 nov 2024, 08h37 - Publicado em 1 nov 2024, 07h00
Primeiro Jeep nacional chegou a ser o carro mais vendido do Brasil
O quadro do para-brisa era sempre pintado de preto. (Fernando Pires/Quatro Rodas)

A Guerra da Coreia foi o palco oficial de apresentação do Jeep Willys M38A1, convocado em 1952 para apoiar os Willys M38 e Willys MB, que já se encontravam em batalha.

Levou apenas dois anos para ingressar no mercado civil norte-americano: rebatizado CJ-5, ele era maior, mais robusto e harmonioso que o rústico CJ-3B. Chegou ao Brasil em setembro de 1955, onde foi comercializado como Jeep Universal.

O novo Jeep trazia linhas arredondadas e melhorias no chassi, motor, câmbio e na transmissão 4×4. Cerca de 30% dos seus componentes já eram produzidos no Brasil, honrando o compromisso firmado por Edgard Kaiser junto à Comissão Executiva da Indústria Automobilística. A intenção da Willys-Overland do Brasil era alcançar 95% de nacionalização até julho de 1960.

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As primeiras unidades produzidas em 1957, na histórica fábrica do Taboão, ainda exibiam as caixas de roda traseiras em formato redondo, no mesmo padrão dos Jeep americanos. Era o veículo ideal para alavancar o progresso de um país ainda carente de estradas pavimentadas e por isso rapidamente se tornou o automóvel mais vendido do Brasil, representando nada menos que 15% da produção nacional de veículos.

O para-lama traseiro trapezoidal era típico do Jeep nacional.
O para-lama traseiro trapezoidal era típico do Jeep nacional. (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Era impulsionado pelo motor Willys Hurricane F134, com quatro cilindros, 2,2 litros e 75 cv. O câmbio era manual de três marchas, sendo apenas as duas últimas sincronizadas.

Boa parte do seu sucesso era devido à tração 4×4 temporária, acionada por uma caixa de transferência com duas velocidades. O sistema era acionado por duas alavancas no assoalho, sendo a maior para engate da tração dianteira auxiliar e a menor para marcha reduzida.

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Alavancas separadas para tração 4x4 e reduzida.
Alavancas separadas para tração 4×4 e reduzida. (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Ainda importado, o motor Hurricane foi substituído pelo Willys BF-161 em 1958. Fundido em Taubaté, tinha seis cilindros, 2,6 litros e 90 cv, e foi o primeiro motor a gasolina produzido no país, mantendo o esquema de válvulas de admissão no cabeçote e válvulas de escapamento no bloco. O torque máximo de 18,67 kgfm era alcançado a baixas 2.000 rpm e garantia boa desenvoltura.

Motor de seis cilindros veio em 1958. Alavancas separadas para tração 4x4 e reduzida.
Motor de seis cilindros veio em 1958. Alavancas separadas para tração 4×4 e reduzida. (Fernando Pires/Quatro Rodas)

A cerimônia oficial de inauguração da fábrica em São Bernardo do Campo (SP) só ocorreu em 7 de março de 1958: o presidente Juscelino Kubitschek e o governador Jânio Quadros prestigiaram o evento desfilando a bordo de um Jeep.

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O sucesso do Jeep e derivados como a perua Rural garantiu à Willys a posição de maior indústria automobilística da América Latina até ser superada pela VW, em 1961.

A grade dianteira com sete vãos é um elemento de estilo identitário.
A grade dianteira com sete vãos é um elemento de estilo identitário. (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Foi nesse período que a Willys iniciou a produção do Jeep Universal 101, assim batizado devido às 101 polegadas (2,56 metros) entre os eixos. Similar ao CJ-6 norte-americano, logo ganhou o apelido de Bernardão e oferecia carrocerias de duas ou quatro portas. Diferenciava-se do CJ-5 pelas rodas de 15 polegadas com calotas da perua Rural e também era oferecido com tração apenas traseira (4×2).

Ainda em 1961, o Jeep passou a oferecer versões às Forças Armadas para substituir os velhos M38A1 1950. Câmbio de três marchas com primeira sincronizada foi adotado em 1965 e no ano seguinte foi a vez da roda livre automática e do sistema elétrico com alternador no lugar do dínamo.

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A demanda pelo Jeep era tão grande que a Willys inaugurou uma fábrica em Jaboatão dos Guararapes (PE), destinada à montagem e distribuição do Jeep e derivados para as regiões Norte e Nordeste. Seu material publicitário o definia como “cavalo de ferro”.

Pic By Fernando Pires / www.flpires.com.br
Rusticidade era marca registrada do modelo. (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Em 1967, o Jeep recebeu volante com apenas dois raios, chave de seta e luz indicadora da tração 4×4 acionada. Surge a versão Jovem, com bancos dianteiros individuais, duas lanternas traseiras, estepe com capa e capota articulada. A Ford assume o controle acionário da Willys em outubro do mesmo ano: o utilitário é rebatizado como Ford Jeep e em 1971 sua produção é transferida para a antiga fábrica paulistana no bairro do Ipiranga.

O moderno motor de quatro cilindros, 2,3 litros e 91 cv é adotado em 1975: um novo câmbio de quatro marchas se fazia necessário para alcançar os 17 kgfm de torque a elevadas 3.000 rpm. A produção chegou a 200.000 unidades em 1978 e no final de 1982 ganhou opção de motor a etanol. Desatualizado, o último cavalo de ferro brasileiro deixou a linha de montagem em março de 1983.

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Ficha técnica: Ford Jeep 1974

Motor: longitudinal 6 cilindros em linha, 2.638 cm³, comando de válvulas no bloco, alimentação por carburador de corpo simples
Potência: 90 cv a 4.400 rpm
Torque: 18,67 kgfm a 2.000 rpm
Câmbio: manual, 3 marchas, tração traseira permanente e temporária nas quatro rodas
Dimensões: comprimento, 344,4 cm; largura, 169,9 cm; altura, 173,3 cm; entre-eixos, 205,7 cm; peso 1.194 kg
Pneus: 600 x 16

Edição: dezembro de 1983

Capa Quatro Rodas 1983

Aceleração: 0 a 100 km/h em 25,8 s
Velocidade máxima: 118 km/h
Consumo: 3,6/5,5 km/l (urbano/rodoviário)
Preço: Cr$ 525.000 (setembro/1960)
Atualizado: R$ 91.437 (referência: salário mínimo)

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