Volkswagen Voyage 4 portas micou no Brasil, mas teve segunda chance
Sucesso em vários países, o modelo mais prático da família BX só foi valorizado pelos brasileiros no final de sua carreira
“Para abrir atrás, só as janelas”, dizia a publicidade do Fusca em 1963, onde três crianças eram vistas completamente soltas no banco traseiro. Fortíssimo, o apelo emocional consolidou a preferência dos brasileiros por automóveis de duas portas, mas prejudicou o sucesso dos VW com quatro portas: 1600, TL, Passat, Brasilia e Voyage.
Segundo modelo da família BX, o Voyage surgiu em 1981 como três-volumes do Gol, idealizado pela equipe do engenheiro alemão Philipp Schmidt especialmente para o Brasil.
Em 1983, a carroceria de quatro portas começou a ser produzida nas fábricas de Taubaté e San Justo (Argentina). As quatro portas faziam com que o Voyage parecesse ser maior e mais baixo que o modelo com apenas duas portas. As portas traseiras favoreciam o embarque e desembarque, mas não faziam milagre: a distância entre os eixos era cerca de 11 cm menor, comparado ao Passat.
Havia três níveis de acabamento: S, LS e GLS, todos impulsionados pelo motor MD-270 movido a gasolina, com 1,6 litro e 72 cv (gasolina) ou 81 cv (etanol).
O câmbio era de quatro marchas, mas a versão intermediária LS era a única a oferecer duas opções de escalonamento: convencional e tipo 3+E, com relações mais longas para redução do consumo. Equipado com esse câmbio, o Voyage 4 portas acelerou de 0 a 100 km/h em 14 segundos, com médias de consumo de 10,2 km/l na cidade e 12,2 km/l na estrada. Seus 910 kg colaboravam para o baixo consumo, que só não era melhor em razão de sua aerodinâmica deficiente: graças a ela sua velocidade máxima estancou nos 156 km/h.
Apesar de suas virtudes, o Voyage 4 portas deixou de ser oferecido aqui em 1985: a publicidade mencionando as travas de segurança nas portas traseiras não convenceu as famílias que ainda transportavam crianças soltas no banco de trás.
Situação oposta ocorria na Argentina: naquele mercado o Voyage 4 portas foi rebatizado de Gacel e foi o primeiro VW produzido naquele país. Em outros países da América Latina ele recebeu o nome Amazon, e nos EUA ele foi denominado Fox, recebendo cerca de 2.000 modificações para atender as especificações daquele mercado.
Essa situação só mudaria com a ascensão do Fiat Prêmio, cuja versão de quatro portas ganhou popularidade. O Voyage 4 portas retornou ao mercado em 1990, agora produzido em São Bernardo do Campo: perdeu os quebra-ventos nas portas dianteiras e ganhou o aclamado motor VW AP a gasolina, com 1,8 litro e 95 cv.
Em 1991, a Volkswagen aproveitou a abertura do mercado aos importados para trazer um de seus maiores sucessos na Argentina: o Voyage Special.
Baseado no VW Senda (um Gacel reestilizado), o Voyage Sport usava o motor 1.8S do Gol GTS e vinha equipado com rodas de liga leve, ar e acabamento interno com console e estofamento exclusivos. A única opção era a cor da carroceria: Preto Ônix, Cinza Platino ou Azul Nassau.
O exemplar das fotos é um dos últimos a serem produzidos no Brasil, em 1992: a partir de então todo Voyage 4 portas passou a ser importado da Argentina. A oferta da direção hidráulica foi a última alteração significativa do produto até o encerramento da produção, em 1995: o Voyage só retornaria ao mercado em 2008, desta vez apenas com quatro portas.
Ficha Técnica
VW Voyage GL 1.8 4 portas 1992
Motor: diant., long., 4 cil. em linha, 1.781 cm3, alimentado por carburador de corpo duplo. Potência: 88 cv a 5.200 rpm. Torque: 14,7 mkgf a 3.400 rpm
Câmbio: manual de 5 marchas, tração dianteira
Carroceria: fechada, 4 portas, 5 lugares
Dimensões: comprimento, 407 cm; largura, 160 cm; altura, 135 cm; entre-eixos, 235,8 cm; porta-malas 219 l, peso, 996 kg
Pneus: 175/70 SR 13
Teste
JUNHO 1992
ACELERAÇÃO 0 a 100 km/h, 11,84 s
VEL. MÁX. 161,9 km/h
PREÇO Cr$ 37.271.950 (junho de 1992)
Atualizado: R$ 46.360 (INPC-IBGE)