Um mesmo carro pode ter dois tamanhos de porta-malas? Entenda essa polêmica
O tamanho do porta-malas é crucial na sua decisão? Descubra os métodos de medição e por que o mesmo carro pode ter volumes diferentes

A capacidade do porta-malas é, para muitos, um fator decisivo na hora de comprar um carro, especialmente para famílias que precisam de mais espaço para bagagem. Contudo, você já notou que o mesmo modelo de veículo pode apresentar diferentes volumes em litros? Não se trata de um engano, e a explicação está nos detalhes técnicos.
A principal razão para essa variação reside nos diferentes métodos que as montadoras utilizam para medir o compartimento de carga. Entender essas diferenças é fundamental para fazer uma comparação justa entre diferentes carros.
Como o porta-malas do carro é medido?
A indústria automotiva global utiliza três padrões principais para aferir o volume do porta-malas: o VDA, o SAE e aferição completa. A escolha de um ou outro método pela fabricante impacta diretamente no número final de litros divulgado, podendo gerar confusão para o consumidor – muitas vezes, de propósito.

Antigamente, essa medição era feita fisicamente, preenchendo o espaço com blocos. Hoje, o processo é digital e realizado por softwares avançados que simulam o preenchimento, permitindo otimizar o espaço ainda na fase de projeto do veículo.
Há, ainda, fabricantes que divulgam a capacidade do porta-malas dos seus carros até o teto, ignorando o tampão ou qualquer cobertura do compartimento.
As diferenças entre cada padrão
Compreender os três conceitos ajuda a decifrar as especificações técnicas de qualquer veículo.

- Método VDA: Padrão da União das Indústrias Automotivas da Alemanha, amplamente adotado por marcas europeias. Ele utiliza blocos padronizados de 1 litro (medindo 20 cm x 10 cm x 5 cm). Por usar um formato único, nem todos os cantos e reentrâncias do porta-malas são aproveitados, resultando em um número de litros geralmente menor e mais conservador. Neste método, a tampa não precisa ser fechada.
- Padrão SAE: Utilizado por montadoras norte-americanas, o método SAE J1100 emprega blocos de diferentes formas e tamanhos, que simulam bagagens variadas, como malas e até bolsas de golfe. Essa flexibilidade permite preencher o espaço de forma mais eficiente, aproveitando cada centímetro disponível e, consequentemente, resultando em um volume em litros maior que o medido pelo VDA.
- Aferição completa (ou litragem): Nesta aferição, a engenharia considera toda a capacidade volumétrica do porta-malas, como se o compartimento fosse todo preenchido com líquido. Isso inclui pontos inúteis, como vincos, dobras e os espaços inutilizados pela torre dos amortecedores ou pela tampa do porta-malas. Por isso, a capacidade do porta-malas fica virtualmente maior.
Diversos fabricantes se aproveitam da aferição do porta-malas pelo método de litragem, especialmente as marcas da Stellantis. Um bom exemplo é o Fiat Pulse, com 370 litros divulgados são na aferição completa e com capacidade VDA desconhecida. Isto, inclusive, forçou a Volkswagen e a Renault a divulgar a capacidade do porta-malas de Tera e Kardian pelo mesmo método. Assim, o porta-malas de 350 litros (VDA) do Tera passa a 407 litros, e os 358 litros (VDA) do Kardian passa a 410 L.
A Chevrolet, há alguns anos, também mudou o método de avaliação do porta-malas passando do SAE para o VDA. Com isso, a capacidade do Onix Hatch passou de 275 l para 303 l e a do Onix Plus passou de 469 litros para 500 litros. O número declarado muda, mas o espaço é o mesmo.
Versão e equipamentos também alteram o espaço
Além do método de medição, a capacidade do porta-malas pode variar entre as diferentes versões de um mesmo carro. Componentes mecânicos e acessórios são os principais responsáveis por “roubar” espaço. Até mesmo o estepe faz diferença: o Jeep Renegade aumentou seu porta-malas de 260 para 320 litros ao adotar um estepe de uso temporário, mais fino, e otimizar os revestimentos internos.