Jeep cobra até R$ 223.000 por consertos e donos se mobilizam em protesto
Cobrança como R$ 30.000 pedidos por duas capas de retrovisores motivou união de donos do Grand Cherokee, revoltados
“Condições perfeitas para você dirigir em solos imperfeitos”, é como a Jeep define as capacidades off-road do Grand Cherokee de quarta geração (WK2), à venda no Brasil desde 2010. Quando essas condições começam a exigir algum cuidado, porém, não há palavra que defina mais precisamente o sentimento de proprietários do modelo que revolta.
Clique aqui e assine Quatro Rodas por apenas R$ 8,90
São deles os abundantes relatos de valores extremamente altos por serviços corriqueiros, que não custariam pouco em um carro premium mas que não deveriam chegar ao equivalente a um apartamento, como no caso de Anael Fahel.
O empresário de 59 anos se viu obrigado a gravar um vídeo, que circula pelas redes sociais, onde denuncia sua experiência. Segundo o relato, tudo começou quando o Jeep Grand Cherokee 2018 com 43.000 km “apagou” em uma rodovia, sendo levado pela seguradora a uma concessionária da marca.
“Depois de três semanas eles me ligam e falam que o problema do carro é na bomba injetora, nos bicos de injeção”. O que seria uma dor de cabeça virou um inferno na vida do Fahel, cobrado em R$ 223.631,66 pelo serviço.
Calmo mas determinado, o empresário garantiu que levará tanto a Jeep quanto a concessionária Europa Motors à Justiça. Seu caso, entretanto, possui tantos semelhantes que um grupo foi criado só para compartilhar problemas na manutenção do Grand Cherokee, que novo é vendido a cerca de R$ 390.000.
Ainda em São Paulo, Lincoln dos Santos, 37, relata três experiências para esquecer, mas que o amargarão por muito tempo ainda. O sinal de alerta foi aceso quando o empresário precisou trocar os amortecedores de seu utilitário e, pela rede autorizada, foi cobrado cerca de 128% a mais do que pagou ao importar de forma independente as mesmíssimas peças.
O grande susto, porém, veio de uma banalidade: a troca das capas de espelhos retrovisores do seu carro custariam, no pior dos casos, cerca de R$ 1.000. Mas o valor pedido na substituição foi de R$ 30.000 pelo par. Quase um carro zero-km por duas peças de plástico na Caltabiano Pacaembu, que afirmou à nossa reportagem só comentar orçamentos mediante apresentação in loco do veículo. “No caso do Grand Cherokee não vendemos somente a capa, mas o retrovisor completo ou (apenas) a lente”, completou a loja.
“Não acreditei quando recebi o orçamento. Tive uma crise de riso e desligaram na minha cara”, relata Lincoln, cujo amigo, afirma, foi cobrado R$ 60.000 pela substituição de uma entrada USB. “Ele chegou em casa e conseguiu arrumar”.
Mas os casos não se limitam a São Paulo. Uma das ordens de serviço mais famosa vem de São José, na Grande Florianópolis, onde a troca de peças da direção e suspensão do Grand Cherokee foi cotada a módicos R$ 102.601,26. Cada barra estabilizadora dianteira, por exemplo, custaria R$ 13.241, enquanto a Chevrolet, por exemplo, vende peça equivalente do Equinox por R$ 1.564, já nacionalizada.
Benesses do monopólio?
Mesmo que a importação e instalação independente das peças seja uma opção, o mineiro Igor Gonçalves lamenta ter que seguir esta alternativa. “Lasanheiro” orgulhoso, Gonçalves decidiu fazer a manutenção da suspensão do seu Jeep Grand Cherokee. Até cobrarem-no R$ 30.000 por novos amortecedores, molas, buchas e bieletas.
O morador de Várzea da Palma (MG) teve que recorrer ao trabalho braçal: escolheu peças na internet e levou o carro a um mecânico de confiança; problema resolvido por nove meses, quando os problemas retornaram.
“Muitas pessoas acabam dando esse dinheiro à concessionária porque a peça paralela acaba não resolvendo o problema”, palpita sobre a razão de preços tão altos. “Quem tem um carro desse tipo não quer ficar na mão, escutar um barulhinho”.
Uma batida também pode ser game over, como no caso de um proprietário paraibano que colidiu o utilitário sem aparente gravidade e foi cobrado R$ 26.500,18 para substituir o farol esquerdo e R$ 15.725,12 na troca do capô. O conserto na concessionária totalizaria R$ 98.140,18.
Se vira nos trinta
Com mais de 100 participantes, o grupo de jipeiros se tornou uma rede de apoio aos diversos problemas da comunidade. Desde instruções para consertos em casa a dicas de quais peças de Chevrolet S10 ou Toyota Hilux são compatíveis, vale tudo para driblar valores inacessíveis.
É uma verdadeira rede de apoio, onde as epopeias são narradas e discutidas a fim de encontrarem soluções para os problemas mais comuns. Sorte de Joathan Lopes, que teve seu conjunto de suspensão condenado e a “fiança” para ter seu Grand Cherokee consertado estipulada em R$ 33.217,41.
“Na maior cara dura”, descreve Lopes a normalidade dos funcionários diante da conta. Com duas Grand Cherokee na garagem e dono de nove unidades ao longo da vida, restou-lhe uma rede especializada fora da cobertura de garantia. O cliente afirma que bastou alguns ajustes e verificações nas buchas para que o carro ficasse pronto — por R$ 550 e há dois meses sem problemas.
Questionada por QUATRO RODAS a Jeep se prontificou a dar um posicionamento sobre a questão; ainda não enviado até o fechamento da reportagem. O mesmo ocorreu com a DVA Jeep, de São José (SC).
Não pode ir à banca comprar, mas não quer perder os conteúdos exclusivos da Quatro Rodas? Clique aqui e tenha o acesso digital.