PRORROGAMOS! Assine a partir de 1,50/semana

Copiado há 80 anos, primeiro Jeep deu origem até a Bandeirante e Defender

Criado por uma empresa desconhecida e entregue à Willys, o primeiro Jeep deu origem a modelos consagrados e até a fabricantes de automóveis

Por Henrique Rodriguez Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 19 jul 2021, 01h15 - Publicado em 19 jul 2021, 01h08
Jeep CJ-2A 1945 e o Jeep Wrangler Rubicon 2018
Jeep CJ-2A 1945 e o Jeep Wrangler Rubicon 2018 (Divulgação/Jeep)

Hoje podem até tentar vender a ideia de que os Jeep são símbolos de conectividade ou de um estilo de vida aventureiro. Mas o Jeep original nasceu para ser uma ferramenta pelas mãos de uma empresa desconhecida.

Clique aqui e assine Quatro Rodas por apenas R$ 8,90

Com a início da Segunda Guerra Mundial, o exército norte-americano passou a fornecer armamento aos aliados, mas o Reino Unido e a União Soviética, em especial, demandavam veículos leves.

Os EUA, então, abriram uma concorrência para comprar veículos, desde que cumprissem algumas regras: pesar menos de 545 kg, ter para-brisa dobrável para caber em caixas de transporte – de forma que houvesse espaço para os quatro pneus na caixa –, 2,03 m de entre-eixos e pelo menos 45 cv.

Bantam Reconnaissance Car 1940
Bantam Reconnaissance Car 1940 (Reprodução/Internet)
Continua após a publicidade

O primeiro protótipo deveria ficar pronto em 49 dias e após 75 dias, 70 unidades deveriam estar prontas para testes. Inicialmente, só a American Bantam, que vivia de produzir carros da British Austin sob licença, e a Willys-Overland entraram na disputa pelo contrato. A Ford entrou na jogada depois.

Ford GP 1941
Ford GP 1941 (Divulgação/Ford)
Willys MB em demonstração
Willys MB em demonstração (Divulgação/Jeep)

A Willys cobrou menos, mas foi penalizada por pedir mais tempo. A Bantam cumpriu os prazos e ganhou o contrato, mas não tinha condições de atender a demanda do exército. Enquanto seu Bantam Reconnaissance Car (BRC) era testado, Ford e Willys (agora encorajadas a concluir seus projetos) poderiam estudar o BRC.

Cinco meses despois do início da disputa, Ford e Willys apresentaram carros similares. Eram os embriões do Ford GP e do Willys MB, que seriam produzidos em série. Com o desespero de França, Rússia e Reino Unido por veículos, os militares americanos declararam que os três eram aptos ao fim de 1940.

Willys MA 1941
Willys MA 1941 (Reprodução/Internet)
Continua após a publicidade

No uso, porém, os carros pré-produção mostravam qualidades e defeitos. Os Ford tinham motor fraco e frágil, e os Bantam eram econômicos, confortáveis e ágeis, mas a empresa não conseguia fazer 75 carros por dia. Os Willys eram mais leves (o limite já havia aumentado para 980 kg), baratos e potentes, com seu motor de 60 cv.

Franklin Delano Roosevelt em um Willys MB
Franklin Delano Roosevelt em um Willys MB (Reprodução/Internet)

Em julho de 1941 o Departamento de Defesa dos EUA decidiu padronizar os carros e escolher apenas um fabricante, defendendo que o projeto não pertencia a nenhuma das empresas. A Bantam, sem dinheiro, não recorreu.

As evoluções do Jeep
As evoluções do Jeep (Divulgação/Jeep)

O que era melhor nos Bantam e nos Ford, foi incorporado ao Willys. O capô mais largo e plano, e a grade com nove aberturas verticais, por exemplo, nasceram nos Ford. Desta forma, surgia o Willys MB, com um contrato de fornecimento assinado em 15 de julho de 1941, há exatamente 80 anos. Foi o primeiro 4×4 com produção em larga escala.

Continua após a publicidade
Willys MB
O Willys MB se tornou o veículo militar definitivo da Segunda Guerra Mundial (Divulgação/Jeep)

O primeiro Jeep também seria produzido pela Ford, dada sua grande capacidade produtiva. E a Bantam, que concebeu a base do projeto, ficou encarregada de fazer os trailers que seriam puxados pelos carros.

Da guerra para o uso civil

Com a rendição da Alemanha, a guerra estava concentrada na Ásia em 17 de julho de 1945, quando a nascia o primeiro Jeep destinado ao uso civil: o CJ-2A – CJ de “Civilian Jeep”. Tinha porta traseira (que fez o estepe ser deslocado para lateral), tampa de combustível externa e faróis maiores, que obrigaram a grade a ser reduzida às sete barras que identificam os Jeep até hoje.

Willys Jeep CJ-2A
Willys Jeep CJ-2A (Divulgação/Jeep)

Não era carro de passeio: seu público-alvo era composto por agricultores e trabalhadores da construção civil. Isso porque o motor tinha tomadas de força que poderiam ser usadas para o uso de implementos agrícolas. Era praticamente um trator validado na guerra.

Continua após a publicidade

E foi justamente a guerra que tornou essa robustez reconhecida no mundo inteiro. Não surpreende, portanto, que ainda nos anos 1940 o Jeep tenha passado a ser fabricado também na Austrália e no México sob licença, e que nos 20 anos seguintes suas variações tenham sido montadas ou fabricadas em mais de 30 países, chegando a 150 mercados.

Willys Jeep CJ-2A
Nada de estepe na traseira: o primeiro Jeep civil tinha estepe na lateral (Divulgação/Jeep)

A Mitsubishi, por exemplo, fabricou mais de 30 variações diferentes no Japão entre 1953 e 1998 e a grande maioria dos licenciados eram baseados no CJ-3B, do projeto Willys-Kaiser original. Tamanho sucesso, porém, inspirou muitos rivais e foi responsável pela criação e fortalecimento de outros fabricantes ao redor do mundo.

Da guerra ao Toyota Bandeirante

Toyota AK10
Toyota AK10 (Divulgação/Toyota)

O Toyota Land Cruiser conseguiu estabelecer seu nome globalmente, ainda que no Brasil o nome Bandeirante tenha sido certeiro para torná-lo popular. Foi ele o primeiro clone no Jeep.

Continua após a publicidade

O Exército Imperial Japonês capturou um Jeep militar nas Filipinas em 1941. O carro foi enviado ao Japão para ser estudado e o governo local encarregou a Toyota de construir um veículo com tração nas quatro rodas e capota aberta baseada naquele projeto, que seria conhecido como Toyota AK10.

Toyota Land Cruiser FJ40
Toyota Land Cruiser FJ40 (Divulgação/Toyota)

O veículo teve uso restrito aos tempos de guerra, mas preparou a Toyota para, mais tarde, ser contratada pelo governo dos EUA para lhe fornecer veículos militares para uso na Guerra da Coreia. A Toyota atendeu o pedido com sua própria versão maior e mais potente do Jeep, o icônico Land Cruiser FJ40 que não é exatamente igual, mas muito parecido com nosso Bandeirante, lançado em 1959.

Toyota Bandeirante testado em 1964
Toyota Bandeirante testado por Quatro Rodas em 1964 (Acervo/Quatro Rodas)

Por sinal, a produção começou por CKD, montando no Brasil o Toyota FJ25 japonês. O Brasil recebeu a primeira fábrica da Toyota fora do Japão, em São Bernardo do Campo (SP).

Sobrevivente

Kazuo Sakamaki, o primeiro prisioneiro de guerra dos EUA na Segunda Guerra Mundial, capturado no ataque a Pearl Harbor, se tornou presidente da filial brasileira da Toyota em 1969

Kazuo Sakamaki em fábrica da Toyota no Japão em 1967
Kazuo Sakamaki em fábrica da Toyota no Japão em 1967 (Reprodução/Internet)

Do Jeep ao Land Rover Defender

Sentindo a necessidade do Reino Unido pós-guerra por um implemento agrícola que também pudesse ser usado carro de passageiros, o diretor técnico da Rover, Maurice Wilks, esboçou um veículo quadradão inspirado em um Jeep sobrevivente que ele usava em sua fazenda no País de Gales, e que já carecia de peças de reposição.

Land Rover Centre Steer
Land Rover Centre Steer (Reprodução/Land Rover)

A inspiração nos Jeep militares era tão grande que o primeiro protótipo, apelidado de “Centre Steer” (volante central), até usou chassi e eixos do Jeep original. Como no modelo americano, o para-brisa era rebatível para a frente.

Land Rover Série 1 front
Land Rover Série 1 (Divulgação/Land Rover)

Para iniciar a produção em série em 1948, porém, a Rover precisou se adaptar às condições do pós-guerra. Como o aço estava racionado na Europa, o Land Rover era feito com alumínio e magnésio usados na aviação e a grande maioria das primeiras unidades saíram da fábrica em vários tons de verde militar, uma tinta que havia sido comprada para pintar aeronaves.

Land Rover Série 1 rear
Modelo começou a ser fabricado em 1948 (Divulgação/Land Rover)

O Land Rover Série I tinha motor Rover de 1,6 litro produzia modestos 50 cv e 11 kgfm, mas ajudou a colocar os fazendeiros britânicos de volta na estrada e foi providencial para encher os cofres da Rover.

Da Índia para os Estados Unidos, com carinho

Um dos maiores conglomerados da Índia hoje, a Mahindra & Mahindra é conhecida por sua ampla linha de SUVs, que até já foram montados no Brasil. E ela só se tornou o que é hoje por causa do Jeep.

Mahindra Jeep CJ-3B
Mahindra Jeep CJ-3B (Reprodução/Internet)

A história da Mahindra começou quando K.C. Mahindra visitou os Estados Unidos como presidente da Missão de Abastecimento da Índia. Lá conheceu Barney Roos, executivo da Willys, e viu que o Jeep seria o veículo ideal para encarar o terreno acidentado da Índia.

Em 1947 a Mahindra iniciava a montagem dos Jeep Willys enviados desmontados dos EUA. O que ninguém poderia prever é que a fabricação local do Jeep CJ-3 começaria em 1954 e se estenderia por décadas, evoluindo para outras gerações, a ponto da Mahindra fabricar seus jipes nos EUA.

Mahindra Roxor 2018
Mahindra Roxor 2018 (Mahindra/Divulgação)

A Mahindra foi uma das primeiras marcas a licenciar o Jeep e teve acordos com cada uma das muitas empresas que foram administradores da marca Jeep ao longo da história: Willys, Kaiser, American Motors, Renault, Chrysler, Daimler, Grupo Cerberus e FCA, agora Stellantis.

O ponto alto dessa história é o Mahindra Roxor. Ele tem o estilo do Jeep CJ-7 e partes significativas da carroceria e da arquitetura mecânica seguem intocados. E foi desta forma que ele começou a ser fabricado em Auburn Hills (justamente onde ficava a sede da FCA), nos arredores de Detroit, em 2018.

Mahindra Roxor 2021 teve suas semelhanças com o Jeep CJ amenizadas
Mahindra Roxor 2021 teve suas semelhanças com o Jeep CJ amenizadas (Mahindra/Divulgação)

É claro que a FCA reagiu, dizendo que o veículo violava regras de uso do licenciamento. A Mahindra, então, fez uma série de modificações no veículo para a linha 2021 e ficou decidido (judicialmente, diga-se) que agora o Roxor não infringe contratos ou patentes.

O motor é um 2.5 turbodiesel da própria Mahindra com modestos 63 cv, o que não é exatamente um problema. Isso porque, para a lei, o Roxor é um UTV, como veículos da Polaris e da Can-Am. Por isso, também não é legalizado para uso em estradas nos EUA e não pode ser vendido em concessionárias de automóveis.

Mas ainda é um Jeep e o mais legal é que o Roxor é um CKD, com muitas peças enviadas da Índia. O mundo dá voltas, meu caro.

Sem disfarces

E se estiver buscando por um Mahindra com ainda mais cara de Jeep, existe o Thar indiano. Ele não só se parece com um Wrangler mais moderno, como tem grade com sete fendas.

Mahindra Thar 2021
Mahindra Thar 2021 (Mahindra/Divulgação)

Do Jeep coreano aos dragões gêmeos

Como a Audi, a SsangYong nasceu da fusão de algumas marcas. Mais exatamente da Ha Dong-hwan Motor Workshop (criada em 1954) e a Dongbang Motor Co (de 1962). Em meados de 1963 se fundiram na Hadonghwan Motor Company, que montava os Jeep para o exército norte-americano, além de caminhões e ônibus.

Jeep produzido na Coreia do Sul sob licença
Jeep produzido na Coreia do Sul sob licença (Reprodução/Internet)

A SsangYong (que significa “dragões gêmeos” em coreano) só surgiria em 1984, com a fusão com a Keohwa Motors, que nascera em 1977 como uma joint-venture com a American Motors Company exclusivamente para a fabricação dos Jeep CJ-7. A empresa estava enfraquecida: em 1981 AMC deixou o negócio e retirou a licença de uso da marca Jeep.

Primeira geração do Korando
Primeira geração do Korando (Reprodução/Internet)

Foi um baita negócio para a SsangYong, pois a Keohwa rebatizou o Jeep CJ-7 da AMC (mais moderno que os que produzira) como Korando – uma contração de “Korean Can Do” – e deu continuidade a ele em versões curta e alongada, com direito a faróis redondos e sete fendas na grade, até 1996.

SsangYong Korando
SsangYong Korando (Divulgação/Ssangyong)

A segunda geração, que até chegou a ser vendida no Brasil, até conservou o estilo do Jeep original, assim como os faróis redondos. Mas as fendas da grade passaram a ser horizontais e o motor passava ser um antigo projeto Mercedes-Benz. Na geração seguinte se converteu a um SUV moderno.

Hoje a SsangYong pertence à Mahindra, que também tem muito a agradecer aos Jeep.

O Jeep da Kia

A Kia se especializou na produção de veículos militares com variantes bem específicas e se estabeleceu como única fabricante de veículos militares para o Governo da Coreia do Sul desde 1976. Sob licença, já produziu o KM111 e sua versão civil, o Kia Retona. Hoje desenvolve o KM450, derivado do Kaiser Jeep M715, para o Exército da Coreia do Sul sob licença do Governo dos Estados Unidos.

Kia KM420
Kia KM420 (Divulgação/Kia)

Da Willys à Ford, de novo

Enquanto a maioria das montadoras estrangeiras se concentraram em licenciar o CJ-3B, o Brasil recebeu o CJ-5. O Willys Jeep Universal chegou ao Brasil em setembro de 1955, montado a partir de kits CKD, mas com 30% dos componentes nacionalizados. Em 1957 passou a ser fabricado no Brasil, mas as caixas de roda traseiras com linhas retas, características dos carros brasileiros, só surgiriam depois.

O quadro do para-brisa era sempre pintado de preto
O quadro do para-brisa era sempre pintado de preto (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Acontece que em 1967 a Ford do Brasil comprou a subsidiária local da Willys-Overland (que àquela altura produzia o Jeep até no nordeste, em fábrica localizada em Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco), assumindo a produção dos Jeep CJ-5, da Rural Willys (a versão local do Willys Jeep Station Wagon) e de sua versão picape. Era a Ford, que havia contribuído com o desenvolvimento do Jeep militar, voltando a produzir o modelo.

O para-lama traseiro trapezoidal era típico do Jeep nacional.
O para-lama traseiro trapezoidal era típico do Jeep nacional. (Fernando Pires/Quatro Rodas)

E a produção seguiu por anos. A Ford manteve os modelos sem modificações, exceto por alguns emblemas da Ford nas laterais e na tampa do porta-malas. A partir de 1976 receberam o motor 2.3 OHC de 91 cv do Maverick e com ele seguiu até o fim da produção, em 1983.

Primeiro motor brasileiro

Ainda importado, o motor Hurricane foi substituído pelo Willys BF-161 em 1958. Fundido em Taubaté, tinha seis cilindros, 2,6 litros e 90 cv, e foi o primeiro motor a gasolina produzido no Brasil.

Motor Willys BF-161
Motor Willys BF-161 (Acervo/Quatro Rodas)

O Jeep chinês

A American Motors estabeleceu a primeira joint venture de fabricação de automóveis na República Popular da China, em 1984. Foi assim que nasceu a Beijing Jeep Corporation, para produzir o Jeep Cherokee (XJ) em Pequim. Antes, a Beijing produzia veículos militares soviéticos com grades semelhantes às de um Jeep.

Beijing Jeep 2500
Beijing Jeep 2500 (Reprodução/Internet)

Àquela altura a China ainda era um mercado altamente regulamentado, mas o Beijing Jeep desempenhou um papel importante na transição da economia chinesa. O modelo original do XJ foi atualizado e chamado de Jeep 2500 no final de sua produção, que terminou depois de 2005. Como resultado, a marca Jeep tem brio na China até hoje.

A cópia chinesa

Há um ainda mais moderno. O BAIC BJ40 não tem nenhum Jeep em sua árvore genealógica. É uma cópia do Jeep Wrangler que começou a ganhar forma em 2010. 

BAIC BJ40
BAIC BJ40 (BAIC/Divulgação)

Não pode ir à banca comprar, mas não quer perder os conteúdos exclusivos da Quatro Rodas? Clique aqui e tenha o acesso digital

Edição de julho

Publicidade


Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY
Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Quatro Rodas impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 10,99/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.