Etanol aditivado se populariza aproveitando o crescente sucesso do álcool
Na incessante busca pela descarbonização, o etanol reconquista a importância que teve no passado e ganha novas formulações aditivadas
Você chega ao posto e pensa duas vezes antes de abastecer. Comum ou gasto a mais na aditivada? Os argumentos técnicos a favor do combustível com aditivos são melhores. E ganham cada vez mais força num tempo em que eficiência energética pauta todo o mercado.
Os combustíveis têm importância fundamental nesse novo contexto. Prova disso é o próprio movimento do setor. A Ipiranga lançou recentemente uma nova linha de produtos aditivados, chamada Ipimax, que trouxe foco até para o etanol, cuja aditivação estava relegada a segundo plano.
Na mesma tocada deste lançamento, a mesma promessa de outros produtos de outras distribuidoras. O menor consumo de combustível a médio prazo, que, na verdade, é um benefício que chega de forma indireta.
“Os aditivos têm funções que se relacionam mais a uma perspectiva de minimizar efeitos de longo prazo da degradação natural do powertrain, que tem uma utilização que vai além da homologação”, explica Erwin Franieck, presidente do Instituto SAE4Mobility.
Afinal, na formulação dos combustíveis aditivados, existem detergentes e dispersantes que ajudam a manter o motor mais limpo, contribuem para a lubricidade (menor atrito das peças) e minimizam a corrosão. Com isso, o conjunto motriz funciona melhor e, consequentemente, bebe menos combustível.
“O consumidor quer diversas coisas, mas a que mais se repete é que ele quer rendimento, ou seja, combustíveis mais eficientes. Por isso, procuramos junto aos fornecedores ter um pacote de aditivos que levasse a um cuidado maior com o carro para uma eficiência energética melhor dos combustíveis”, diz Julio Sattamini, diretor de pricing e produtos da Ipiranga.
BENEFÍCIOS VARIÁVEIS Conforme a empresa ou distribuidora, a promessa é de entre 3 a 6% de economia com o uso do produto aditivado. A porcentagem varia de acordo com o tipo de combustível e tem até companhia que prefere não entrar nesse mérito de porcentagem de eficiência.
“Os combustíveis aditivados trazem benefícios de limpeza dos motores, proporcionando funcionamento mais regular de marcha lenta, partidas mais rápidas, acelerações mais firmes e retomadas de velocidade mais seguras, podendo até trazer economia de combustível ao longo do tempo”, explica Gilberto Pose, especialista em combustíveis da Raízen, joint venture entre Shell e Cosan.
A questão de mensurar a eficiência com os aditivados é polêmica. As distribuidoras se valem de testes de bancada e de campo. Mesmo assim, para especialistas, é difícil chegar a uma porcentagem.
“É um tema polêmico e não é algo que possa se estabelecer uma regra, pois os efeitos para motores além dos 100.000 quilômetros, carbonizados de diversas maneiras, e combustíveis envelhecidos, é algo que está fora dos limites das áreas de estudo e precisa de um processo de amadurecimento”, defende Erwin, da SAE.
Até porque a própria melhora na eficiência, além de depender do modo como o motorista dirige, pode variar de acordo com o estado do motor. Um conjunto mais “contaminado” pelo tempo de uso tende a obter esse rendimento mais rápido do que um veículo que sempre usou combustível aditivado.
“O principal benefício é o ganho na limpeza do motor. Fica difícil vender esse número de economia de combustível no mercado. Para quem tem um motor que está muito sujo, por exemplo, essa eficiência pode ser percebida a curto prazo”, pondera Eduardo Alcazar, engenheiro da Vibra, ex-BR Distribuidora.
“Os aditivos de origem e marcas que atuam no mercado há décadas buscam, na sua maioria, reduzir os efeitos de depósitos e deterioração dos combustíveis, percebendo seu resultado ao longo da vida útil. Porém, em motores carbonizados, a resposta que o aditivo é capaz de trazer pode ser percebida ao longo de um abastecimento”, completa Erwin.
A reboque, vem o álcool. Em um momento em que a indústria automotiva brasileira (precisamente Stellantis e VW) sinaliza um caminho de transição energética pelo híbrido flex com apelo no etanol – fonte de energia renovável e que emite bem menos CO2 do poço à roda –, o combustível voltou a receber atenção.
100% ETANOL O álcool, cuja aditivação era subestimada no mercado, voltou a ficar em evidência na prateleira das distribuidoras. Apesar do baixo apelo energético – o combustível vegetal rende menos na comparação direta com a gasolina –, a tendência é de que o etanol aditivado tenha mais destaque nos postos no médio e longo prazo, a partir de agora.
“Quando surgiu a oportunidade de reformular a linha, o movimento foi justamente de reforçar a percepção de valor do etanol. É uma oportunidade de gerar imagem melhor para o produto e de quebrar a dinâmica de ele ser visto como um produto de baixo desembolso”, diz Bárbara Miranda, vice-presidente de marketing da Ipiranga.
A percepção é de que o etanol aditivado ganhe até mais importância neste modelo de descarbonização que o país pode adotar quase que exclusivamente no mundo (a Índia está interessada). Além do híbrido, há montadoras que não descartam a volta de um motor a combustão puramente a álcool.
Com isso, há a possibilidade de termos motores 100% a etanol mais eficientes que um flex que rode apenas com o combustível de origem vegetal. Com isso, a tendência é de que as fórmulas aditivadas sejam ainda mais comuns para o consumidor. E os dilemas na bomba, talvez, diminuam.
“O Brasil tem uma solução de transição energética não encontrada em outros países. Dentro desse conceito, o etanol aditivado deve desempenhar um papel de extrema importância, pois mantém o sistema de alimentação do motor em perfeitas condições para a melhor preparação da mistura ar-combustível, contribuindo positivamente para a qualidade de sua queima e controle das emissões”, defende Pose, da Raízen.
“A solução é essa e não vai vir da Europa para cá, a gente vai criar. Temos um parque industrial já montado, o que será muito mais rápido do que montar linhas para produção de bateria de lítio. É a transição mais amigável para a nossa realidade”, completa Eduardo Alcazar, da Vibra.