Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Bateria cara e incômodos: por que o start-stop não vingou no Brasil?

Sistema que desliga e liga o motor ajuda a melhorar o consumo, mas sofre rejeição dos motoristas que tentam desativá-lo. Fabricantes já tiram o equipamento

Por Fernando Miragaya
Atualizado em 10 fev 2022, 17h25 - Publicado em 9 fev 2022, 08h35
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016, o Brasil testemunhou uma das locuções mais bizarras do mundo. O jornalista Galvão Bueno se limitou a narrar o final da prova dos 50 metros livres da natação apenas em relação à posição do supermedalhista Michael Phelps em uma alternância histriônica de “vai perder, vai ganhar, vai perder… perdeu… ganhou!”.

    Assine a Quatro Rodas a partir de R$ 9,90

    Uma repetição tão irritante – para muitos motoristas – como o sistema start-stop dos carros. Aquele “para e desliga” a cada semáforo deixa muita gente fora do sério, a ponto de muitos tentarem desativar o dispositivo por conta própria, quando o sistema não oferece essa possibilidade.

    Isso mesmo. A tecnologia que ajuda na redução de consumo de combustível em até 10% não caiu no gosto do brasileiro. Mas ao tentar desconectar o contato da bateria para desligar o start-stop, o motorista põe em risco toda a integridade elétrica do automóvel.

    Bom lembrar que veículos com start-stop são equipados com baterias especiais, desenvolvidas para aguentar o liga e desliga. Muitas são projetadas em parceria com os fabricantes para aquele determinado carro. Obviamente, são mais caras que as baterias comuns.

    “Não é simplesmente o motor ligar e desligar, pois muda muito o contexto elétrico do veículo para ter um sistema que faça isso com mais regularidade. Você precisa de uma bateria e rotores de partida mais velozes. É um trabalho grande de desenvolvimento”, explica Erwin Franieck, mentor de Engenharia Avançada da SAE Brasil.

    Equipamento rejeitado

    Fato é que o start-stop não agradou ao mercado brasileiro. A Fiat oferecia o sistema como item de série em algumas versões de compactos, depois passou a disponibilizar o equipamento como opcional e recentemente deixou de oferecer o sistema em modelos como Argo e Cronos.

    Continua após a publicidade

    A Chevrolet é outra que também deixou de equipar seu SUV compacto Tracker e o Cruze com o recurso. Na contramão, a Volkswagen passou a disponibilizar o item de série para toda a linha com motor TSI – para atender as novas normas de emissões do Proconve L7.

    Fiat ARGO

    Modelos da Renault mantêm versões com a tecnologia. Porém, a aplicação do start-stop no mercado brasileiro é baixa, apesar de ser um recurso que ajuda no consumo e nas emissões.

    “O motorista que não está nem aí para o consumo vê o start-stop mais como um problema. Aquele condutor que quer arrancar rápido, não vai aguentar. É um item que traz diversos benefícios, mas que envolve mudanças de comportamento”, acredita o engenheiro Erwin.

    A própria indústria encontrou outros caminhos para aprimorar a eficiência dos motores que vão além do sistema que liga e desliga o motor. Injeção direta de combustível, variação de fase nos comandos de válvulas, peças de menor atrito e turbo são só algumas das tecnologias usadas pelas montadoras para melhorar a eficiência dos motores.

    Continua após a publicidade

    Aliados a essas soluções modernas, os fabricantes conseguem avançar na questão de emissões, uma vez que precisam atingir metas médias para toda a gama vendida no país.

    “À medida que resolve o problema em uma ponta com os motores mais antigos, há menos demanda na ponta dos motores mais eficientes para compensar o pacote como um todo. Dessa forma, os fabricantes podem abrir mão dos dispositivos que não agradam ao público”, observa Erwin.

    Proprietários dão jeito de desativar o sistema

    O público rejeitou mesmo o start-stop. Conversamos com funcionários do setor de serviços de seis diferentes revendas da Chevrolet e da Fiat no Rio e em São Paulo. Embora não tivessem dados estatísticos, os consultores foram quase unânimes sobre o descontentamento da maioria dos clientes com o equipamento.

    São vários os casos de donos de modelos com start-stop que chegam aos estabelecimentos e pedem para desativar o sistema. “Até bem pouco tempo atrás era praticamente um cliente por semana pedindo para desligar o equipamento”, confidenciou um funcionário de uma concessionária paulistana da Fiat.

    Continua após a publicidade

    Há modelos, como os Renault e os Jeep, que permitem ao motorista desativar o start-stop por meio de um botão no painel ou no console, mas nos carros da GM e da Fiat não é possível fazer o mesmo. E é aí que mora o perigo: muitos proprietários resolvem desconectar um dos cabos que alimentam o sistema que faz o equipamento funcionar.

    Segundo o engenheiro Diones dos Santos, da Heliar, todo o sistema elétrico do veículo foi projetado para trabalhar em sintonia com as informações coletadas da bateria e de outros componentes elétricos e eletrônicos para a distribuição de energia.

    Assim, o desligamento de um dos cabos pode acarretar falhas no funcionamento de diversos componentes do sistema elétrico, comprometendo sua vida útil, inclusive a da própria bateria, pois, sem os dados coletados, a central eletrônica não poderá gerenciar e distribuir da forma correta a energia necessária para atender toda a demanda do veículo, como explica Diones.

    O vendedor Dener Halqueman, que trabalha em uma loja da rede NA, especializada no comércio de baterias automotivas em São Paulo, também alerta para a prática. “Isso traz riscos para o próprio funcionamento do carro, pode causar erros no módulo da direção elétrica e até afetar o funcionamento correto do ABS dos freios”, conta ele.

    Custo elevado

    Outra razão que pode explicar a baixa popularidade do start-stop é econômica. O sistema pede baterias de maior desempenho. Chamadas de EFB ou AGM (para sistemas start-stop e alternadores inteligentes), elas são projetadas para serem acionadas com uma frequência maior do que as baterias SLI (convencionais).

    Continua após a publicidade

    Em um levantamento que fizemos, a peça convencional para um Range Rover Evoque custaria R$ 810, mas a bateria para trabalhar com o start-stop do SUV custa quase R$ 2.000. Mesmo em um Sandero a diferença é de mais do que o dobro. No hatch sem o sistema, a bateria custa cerca de R$ 300. Com start-stop, a peça correta passa dos R$ 700.

    “Para se ter uma ideia, o desenvolvimento e validação da bateria junto à montadora dura cerca de dois anos. Nesse período, muitos testes são feitos para que a bateria atenda de forma ideal toda a demanda elétrica do veículo juntamente com outros componentes como o alternador, por exemplo”, explica Diones dos Santos.

    Compartilhe essa matéria via:

    Só que o consumidor final não é muito afeito a essas questões. E não são raros os casos de motoristas que apelam para baterias convencionais em carros com start-stop para reduzir custos. Essa bateria, contudo, terá uma vida útil bem menor – de quatro, pode cair para dois anos –, assim como o motorista pode passar a ter dificuldades até em dar a partida.

    “Se no lugar de uma bateria EFB ou AGM colocarmos uma bateria SLI, certamente essa bateria terá sua vida útil reduzida drasticamente, pois não suportará as descargas mais profundas e mais frequentes, além de não conseguir ser recarregada na velocidade que precisa”, adverte o engenheiro da Heliar.

    Continua após a publicidade

    Não pode ir à banca comprar, mas não quer perder os conteúdos exclusivos da Quatro Rodas? Clique aqui e tenha o acesso digital

    A edição 754 de QUATRO RODAS já está nas bancas!

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY
    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    Apenas 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Quatro Rodas impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 10,99/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.