Volkswagen Budd-e: a nova senhora
Andamos no Budd-e, a Kombi futurística que será produzida antes de 2020, inaugurando a nova plataforma de carros elétricos da VW
Enquanto esperava o novo carro-conceito da VW aparecer, eu me perguntava se este seria mesmo o ponto de encontro previsto: uma área comercial remota de Las Vegas, escura como a noite no deserto. Por vários minutos, nada de ele aparecer. Até que a escuridão é rasgada por faróis cintilantes com ares de nave espacial, assinalando a chegada do Budd-e, com suas linhas de leds rivalizando, ao fundo, com os néons típicos do cenário da capital mundial do jogo.
Sou saudado por Dzemal Sjenar, engenheiro de desenvolvimento de produto da VW, responsável pelos concept cars, que explica a relevância do Budd-e. “A plataforma é o que realmente conta aqui, não necessariamente o modelo em si”, diz ele sobre o protótipo que traz um simpático ar de Kombi moderna, criado para atrair atenções nos EUA, onde ela é muito querida. Logo depois, o chefe do desenvolvimento de elétricos e eletrônicos da marca, Volkmar Tanneberger, confirmou depois a produção do modelo comercial até 2020. E o melhor: adiantou que o visual terá linhas muito próximas às do conceito Budd-e.
Estou empolgado por ser um dos primeiros do mundo a dirigir o Budd-e um dia após a estreia do veículo que foi a sensação da feira tecnológica CES Las Vegas, em janeiro. Tecnicamente, o conceito que está na minha frente é bem mais do que uma jogada de marketing, pois ele é a primeira aplicação de uma nova base tecnológica da VW para a sua futura gama de carros elétricos. A Modular Electric Kit (MEB) é uma plataforma que traz um motor no eixo dianteiro e outro no traseiro e, entre eles, uma bateria longa, larga e achatada, que funciona quase como o assoalho do carro, similar à arquitetura da Tesla.
Nariz de colisão
Essa configuração apresenta duas grandes vantagens: um baixo centro de gravidade, que ajuda a melhorar o comportamento em estrada, e um posicionamento que libera muito espaço tanto no habitáculo como no porta-malas. Quem disser que essa estrutura lembra a Kombi original terá razão. É verdade que a frente pronunciada é diferente da Velha Senhora, nascida em 1949. Mas hoje não poderia ser de outro jeito, já que o “focinho” é uma necessidade em tempos de crash tests.
A primeira impressão é que a carroceria é bem lisa e limpa. Não há puxadores de porta nem retrovisores externos, que foram substituídos por soluções eletrônicas. A linha do teto termina numa futurística traseira emoldurada por uma faixa de leds, que se une às lanternas.
A primeira surpresa vem ao abrir a porta, corrediça. Uma luz é projetada no chão, que ao ser pisada abre a porta eletricamente.
Entro numa cabine muito ampla, submersa em azul, cinza e branco. O painel convencional desapareceu, juntamente com todos os seus comandos e interruptores. No lugar, há uma enorme tela que parece estar suspensa no ar.
Ao girar meu banco em 180 graus, posso olhar diretamente para os passageiros de trás, que ficam numa espécie de sala de estar, espaçosa e iluminada, cujo destaque é a tela sensível ao toque de 34 polegadas de alta resolução, que fica no lugar da janela lateral esquerda, atrás do motorista.
“Hello, Budd-e” é a senha vocal que desperta o carro. À frente do volante, todo o painel ganha vida. É um sistema que é composto por duas telas – Info Ativa (informação para o motorista) e Unidade Principal (entretenimento e informação para todos os ocupantes), que se integram, visual e funcionalmente, em apenas uma.
Daqui para a frente quase tudo é controlado por gestos, toques e voz. Não é preciso encontrar palavras muito específicas nem falar como um robô para conseguir o que deseja. “Aumentar a temperatura, por favor”…e o ar-condicionado aquece o ambiente. Se alguém sentado atrás protestar com a frase “está calor demais aqui”, o Budd-e reage, baixando a temperatura apenas nessa área.
Motorização dupla
Depois de espiar as imagens das câmeras externas que funcionam como retrovisores eletrônicos, a viagem começa de fato. Ao apertar o botão D e pisar no acelerador, os dois motores elétricos põem o carro em movimento, gerando 136 cv/20,4 mkgf no eixo dianteiro e 170 cv/29,6 mkgf no traseiro – o rendimento máximo do sistema é de 304 cv. Para alimentá-los, há a bateria plana sob a cabine, que impressiona pela enorme autonomia (para um veículo 100% elétrico) de 533 km.
A pronta disponibilidade de torque já não é surpresa num elétrico, mas o sistema de tração nas quatro rodas é agradável. Permite que o Budd-e provoque até sensações inesperadas de direção esportiva, contribuindo para isso o rolamento lateral da carroceria bem contido, mérito da posição e peso da bateria (não menos de 600 kg no futuro carro de série).
LEIA MAIS:
>> Teste: VW Kombi Last Edition
>> O brasileiro que exporta Kombis para o mundo
>> Colecionador acumula 27 caminhões – e vai para o trabalho com eles!
Por estar em ambiente urbano, não foi possível se aproximar dos prometidos sete segundos de 0 a 100 km/h ou dos 180 km/h de máxima. Ainda assim, o Budd-e deixou uma ótima impressão de rapidez e de estar sempre pronto para retomadas muito ágeis em qualquer velocidade. Mas a melhor sensação mesmo veio depois: o prazer de ter dirigido aquele que anuncia o renascimento da Kombi, ainda mais bonita e prática.
VEREDICTO
O Budd-e recupera as formas da velha Kombi para reinterpretá-la com uma racionalidade moderna, alinhada com a próxima geração de carros.
Motores: | dois elétricos; dianteiro de 136 cv e 20,4 mkgf e traseiro de 170 cv e 29,6 mkgf (potência combinada: 304 cv) |
---|---|
Câmbio: | uma marcha, tração integral |
Dimensões: | comprimento, 459 cm; altura, 183 cm; largura, 193 cm; entre-eixos, 315 cm |
Autonomia: | 533 km |
Desempenho: | 0 a 100 km/h em 7 s; vel. máx.: 180 km/h |