Ok, o título ao lado foi inspirado em uma obscura e bizarra religião que só ganhou o mínimo de fama no Brasil por ter sido seguida durante um tempo pelo cantor Tim Maia, e que nada tem a ver com o universo automobilístico.
Mas não havia forma mais precisa de descrever a recente movimentação da GM com a gama do Equinox.
Lançado em 2017, com um pujante motor 2.0 turbo de 262 cv herdado do Camaro a tiracolo, o substituto do Captiva jamais decolou nas vendas como o fabricante queria.
Talvez faltasse uma opção que o tornasse mais racional na comparação com rivais já existentes (leia-se Jeep Compass e VW Tiguan) ou que estão por vir (Ford Territory e VW Tarek, entre outros).
Foi por isso que, no fim do ano passado, a marca lançou no mercado a configuração 1.5 turbo. Sim, ela proporciona uma perda de 90 cv e torna o SUV médio apenas mais um frente à concorrência quando se trata de desempenho.
Por outro lado, permite que o modelo seja vendido com praticamente o mesmo pacote de equipamentos a preços mais acessíveis, sendo também mais afável ao bolso quando se trata de consumo de combustível.
QUATRO RODAS levou o novo Equinox 1.5 à pista de testes na versão de topo, Premier, para conferir se a abdicação de tamanha cavalaria compromete, ou não, a vida a bordo.
Se o comercial de lançamento do Equinox 2.0 trazia o piloto Felipe Massa esmerilhando o veículo num autódromo ao lado de um Porsche, talvez o que o comprador de um SUV desses queira de verdade seja conforto, desempenho decente (e não abundante) e o mínimo de economia de combustível.
Nesse aspecto, por cerca de R$ 10.000 a menos o padrão oferecido pela versão Premier 1.5 é quase o mesmo da configuração homônima com motor mais potente.
Em movimento, a impressão é de que os 172 cv e 27,8 kgfm gerados pelo propulsor de 1,5 litro com turbo e injeção direta são suficientes para empurrar a mais de 1,6 tonelada do Equinox Premier. Mas fica só nisso.
Seu rendimento é bem interessante, mas não incisivo como o do 2.0: foram 10 segundos cravados no 0 a 100 km/h (10,2 segundos quando acionado o botão da tração integral sob demanda, que distribui variavelmente o torque entre as rodas e os eixos, com limite de até 50%).
É bem menos do que os excelentes 7,5 segundos do Equinox 2.0 e abaixo até mesmo dos 9,3 segundos do VW Tiguan 1.4 TSI.
Parte da culpa pode ser atribuída à tração AWD, cujo conjunto com cardã, diferencial central e diferencial traseiro acrescentam mais de 120 kg ao seu peso.
Por outro lado, o modelo supera os 11,8 segundos do Jeep Compass flex e os 11,2 segundos do Caoa Chery Tiggo 7, o que demonstra que está longe de ser manco.
Em relação ao 2.0, o consumo também melhora um bocado: são 9,2 km/l na cidade e 12,5 km/l na estrada, contra 8,9 e 10,3 km/l, respectivamente.
E olha que a configuração com propulsor maior dispõe de grade ativa do radiador, item inexistente na mais barata e que aprimora a aerodinâmica.
Entretanto, mesmo nesta opção o SUV médio da GM continua mais beberrão que seus rivais, já que Tiguan, Compass e Tiggo 7 alcançaram, respectivamente, 13,7, 13,3 e 14,1 km/l em nossa prova de consumo rodoviário.
Talvez seja porque o câmbio automático de seis marchas permita que o motor trabalhe quase sempre a regimes altos, em claro esforço para torná-lo mais ágil do que econômico.
Mas, se o dono do Equinox Premier 1.5 turbo não se sentirá um piloto de Fórmula 1, a boa notícia é que terá à disposição uma lista de equipamentos quase tão generosa quanto a do Premier 2.0.
Sim, ele perderá o sistema start-stop, a dupla saída de escape cromada e a opção de supressor ativo de ruído via alto-falantes.
Mas ainda poderá contar com carregador de celular sem fio, sistema de som Bose, assistentes de estacionamento, declive e permanência em faixa, frenagem autônoma emergencial, alerta de ponto cego, faróis de xenônio, acabamento com opção de faixas bicolor, rodas de liga leve aro 19, central multimídia com projeção de celulares, porta-malas com abertura por sensor de movimento (o difícil é fazê-lo funcionar…) e até teto solar panorâmico.
Dinamicamente, o Equinox 1.5 agrada pelas respostas rápidas de direção e pedais, além de contar com uma calibração firme das suspensões.
As rodas aro 19 calçadas com pneus de perfil baixo contribuem para a rigidez, embora o SUV ainda se deixe levar um bocado pelas forças laterais e longitudinais em curvas, frenagens e retomadas.
Afinal, é um modelo projetado ao gosto do consumidor norte-americano. Já a tração AWD surge como trunfo ao incrementar a estabilidade da carroceria e a aderência dos pneus no contorno mais ávido de uma curva.
Veredicto
O Equinox 1.5 é bem equipado e agradável de dirigir. Não tem a pujança do 2.0, mas quem precisa de tanto? É opção para quem, de fato, escuta mais a voz da razão.
Teste – Equinox 1.5 Turbo
Aceleração
0 a 100 km/h: 10 s
0 a 1.000 m: 31,6 s – 165,3 km/h
Velocidade máxima: 196 km/h*
*Dado de fábrica
Retomada (em D)
40 a 80 km/h: 4,4 s
60 a 100 km/h: 5,5 s
80 a 120 km/h: 7,1 s
Frenagens
60/80/120 km/h – 0 m: 18/28,7/58,6 m
Consumo
Urbano: 9,2 km/l
Rodoviário: 12,5 km/l
Ficha técnica – Equinox 1.5 Turbo
- Preço: R$ 154.990
- Motor: gasolina, dianteira, transversal, 4 cilindros, 16V, turbo, injeção direta, 1.490 cm³, 74 x 86,6 mm, 10:1; 172 cv a 5.600 rpm, 27,8 kgfm a 2.500-4.500 rpm
- Câmbio: automático, 6 marchas, tração integral (AWD)
- Suspensão: McPherson (diant.) / Four-Link (tras.)
- Freios: disco ventilado (diant.) / disco sólido (tras.)
- Direção: elétrica, 12,2 m (diâmetro de giro)
- Rodas e pneus: liga leve, 235/50 R19
- Dimensões: comprimento, 465,2 cm; largura, 184,3 cm; altura, 169,5 cm; entre-eixos, 272,5 cm; peso, 1.673 kg; altura livre do solo, 160 mm; tanque, 59 litros; porta-malas, 468 litros
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