Novo Ford Territory 2024 é chinês que parece nacional e custa R$ 209.990
Nova geração do Ford Territory é um SUV completamente diferente que não repete erros e mira nos Jeep Compass mais caros
Eles conseguiram. Tudo bem que foi com a ajuda do Centro de Desenvolvimento da Ford do Brasil, mas os chineses conseguiram fazer um SUV que nada deve a Jeep Compass e VW Taos. É o Ford Territory 2024, que estreia no Brasil por R$ 209.990 – R$ 10.000 mais barato que o antigo.
Ser melhor que o antigo Territory não seria difícil. Era, por assim dizer, muito chinês: cometia diversos exageros no acabamento, como excesso de plástico piano black e o couro claro, na usabilidade, com excesso de botões e telas pouco intuitivas, e no design, que não escondia a inspiração no Range Rover Evoque.
A redenção do Ford Territory se dá com um carro inteiramente novo, a ponto de ser chamado de Equator Sport na China. Ele faz parecer que o primeiro Territory foi lançado por aqui há muito mais do que três anos.
Esta nova geração também foi criada pela joint venture entre a Ford e a Jiangling Motor Company (JMC), resultado de uma parceria de quase 30 anos entre as duas empresas. Mas houve um grande amadurecimento no carro, que, para começar, realmente parece ser um Ford.
A dianteira, tem grade hexagonal interligando as luzes diurnas e setas por uma estreita barra cromada é inspirada no Ford Escape/Kuga. Mas no Territory os faróis ficam em um bloco pouco abaixo.
A traseira é uma adaptação do estilo do Escape em uma carroceria mais alta e larga. As lanternas têm praticamente o mesmo desenho, com a mesma assinatura de leds em forma de um “L” invertido. O nome do carro vai no meio da tampa, alinhado às lanternas e toda essa faixa acima da placa é, na verdade, de plástico – como vêm fazendo tantas outras fabricantes.
Mas o que importa, na verdade, está entre a frente e a traseira. A carroceria agora tem o típico formato de um SUV, com janelas maiores e ombros bem marcados. O entre-eixos cresceu apenas 1 cm, totalizando 2,72 m, mas a impressão é que o novo Territory é muito maior. O porta-malas aumentou de 420 para 448 litros e tem abertura elétrica.
Quem vai no banco traseiro tem espaço suficiente para cruzar as pernas sem raspar no banco dianteiro, mesmo sendo um adulto. O assoalho é plano e o console central com saídas de ar e uma porta USB não rouba espaço dos pés. Some a isso uma boa largura da cabine e dá para dizer que quem sentar-se no meio não terá uma viagem tão desconfortável.
O que há de diferente desta vez é o acabamento que mistura partes pretas com um tom escuro de azul, que está nos bancos, nos painéis de porta (que são macios na dianteira e na traseira) e até nas colunas. Os materiais são bons, inclusive o vinil que forra os bancos, e a cabine não tem cheiro de placa eletrônica como em outros carros chineses.
O painel é completamente diferente, mas seu estilo não é inédito. A Ford entrou para o rol das fabricantes que instalaram duas telas (de 12,3″) em uma mesma moldura e transformaram esse estilo iniciado pela Mercedes em uma moda. A tela do quadro de instrumentos fica levemente deslocada para a direita.
à tela da central multimídia ajudou a reduzir o número de botões no console a apenas alguns botões de acesso rápido, ou sob a tela ou atrás do novo seletor de marcha giratório. São para acessar as funções do ar-condicionado, telas específicas e ajuste do volume.
Mas não são botões suficientes para quem usar Android Auto e Apple Carplay (agora sem fio), pois é difícil voltar para a interface original do carro. Nessa situação, é mais fácil mudar a velocidade da ventilação só para mudar a temperatura ou ligar a ventilação dos bancos dianteiros – que ainda têm ajustes elétricos.
Pelo menos a interface, que não é uma Sync, tem bom gosto, menos menus e é mais prática do que a do modelo antigo. Só não tem sistemas de conectividade ou roteador 4G.
Voltando ao console, carregador por indução fica na parte de cima, enquanto a parte de baixo é vazada, com um porta-objetos onde cabe uma pequena bolsa e onde está as únicas portas USB C e comum para quem viaja na frente. Ao todo, o Territory tem 3 USB.
Até aqui, tudo é mérito dos chineses. O maior esforço da engenharia da Ford no Brasil foi feito em aspectos que só percebemos mesmo com o carro em movimento. Entre eles, o comportamento de motor e câmbio.
O Ford Territory continua com um motor 1.5 turbo com injeção direta a gasolina. Na verdade, é o mesmo bloco de antes mas que em vez de trabalhar em ciclo Miller (que prioriza a eficiência em vez do desempenho), tem novo comando de válvulas variável e funciona em ciclo Otto. Com isso, seus números passaram de 150 cv e 22,9 kgfm para 169 cv e 25,5 kgfm às mesmas 1.500 rpm.
O câmbio é completamente diferente. Sai o CVT com simulação de oito marchas que contribuía com a letargia do antigo Territory e entra um câmbio de dupla embreagem com sete marchas. É a Ford voltando a ter um câmbio DCT após ter, aparentemente, superado a fase Powershift. A diferença é que esta é uma caixa úmida (banhada a óleo) e não seca. Por sinal, também é da Getrag-Magna e é da mesma família da caixa de sete marchas usada pelos Tiggo 7 Pro e Tiggo 8, da Caoa Chery.
Motor e câmbio têm ajuste exclusivo para a forma como os brasileiros dirigem e ainda podem variar entre quatro modos: Eco, Normal, Serra e Sport. Conjuntos de suspensão e direção também foram devidamente calibrados para o Brasil. A troca dos modos é feita apenas pela central multimídia.
O antigo Territory também havia passado pro extensos ajustes mecânicos para o Brasil, mas neste novo carro isso se mostrou mais efetivo. O motor responde melhor, parece ter muito mais que 19 cv a mais, e faz o SUV da Ford ser ágil enquanto o câmbio faz trocas suaves e imperceptíveis na condução normal e reduz rápido quando é exigido. Só não é tão ágil assim em retomadas na estrada. Mas o que realmente ainda faz falta, porém, é a opção de trocas sequenciais – não tem borboletas ou botões.
O peso da direção até aumenta conforme a velocidade, mas ainda é um pouco leve. A suspensão, por sua vez, tem calibração que deixa o novo Territory bastante estável em alta velocidade, sem a sensação de carroceria solta percebida em outros chineses. É um acerto mais firme, mas que ainda permite uma leve inclinação da carroceria em curvas e tem curso suficiente para lidar com lombadas. Chega a ser um pouco mais confortável que o Jeep Compass.
Dentro da cabine, os passageiros escutam pouco do motor e do que se passa do lado de fora. O isolamento é bom, bem como se espera de um carro de R$ 209.990. Desta vez não há rangidos de acabamento e de atrito entre os bancos.
O Ford Territory 2024 também faz o possível para se garantir na segurança. Tem seis airbags (e não sete como os Jeep e Toyota dessa faixa de preço), piloto automático adaptativo com stop & go, monitor de ponto cego, alerta de tráfego cruzado, assistente de permanência em faixa (sem centralização), sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, câmeras 360° e frenagem autônoma de emergência, mas que ainda não é capaz de reconhecer pedestres.
Nos últimos três anos o Ford Territory foi um carro esquecido no segmento. Em seu melhor ano, 2021, teve cerca de 2.200 unidades vendidas (cerca de 180 carros por mês), mas em 2022 foram menos de 980 emplacamentos (80 por mês). Um aumento nas vendas é esperado, mas o mais relevante é que este novo Ford Territory é um carro maduro e que merece ser lembrado e considerado pelo consumidor de SUVs médios.
Ficha técnica – Ford Territory Titanium 2024
Preço: R$ 209.990
Motor: gasolina, dianteiro, transversal, 4 cilindros em linha, turbo injeção direta, 16V, 1.490 cm³, 169 cv a 5.500 rpm, 25,5 kgfm a 1.500 rpm
Câmbio: automático, dupla embreagem, 7 marchas simuladas, tração dianteira
Direção: elétrica
Suspensão: McPherson (diant.) / multilink (tras.)
Freios: disco ventilado (diant.) / disco sólido (tras.)
Pneus: 235/50 R19
Peso: 1.740 kg
Dimensões: comprimento, 463 cm; largura, 193,5 cm; altura, 170,6 cm; entre-eixos, 272,6 cm; porta-malas, 448 l; tanque de combustível, 60 l