
As Moto Guzzi são parte do patrimônio “cultural” italiano. A marca pertence atualmente ao Grupo Piaggio, que, apesar de haver montado a Vespa PX 200 no Brasil nos anos 80, em sociedade com a Caloi, vem buscando um novo formato para voltar a se estabelecer em nosso país. Enquanto isso, seguimos privados de conhecer mais de perto alguns modelos fantásticos. Se as Ducati e Aprilia (esta também da Piaggio) buscam a efusão peninsular de desempenho e esportividade, a Guzzi adota uma conduta mais sóbria, tradicionalista: uma espécie de nobiltà italiana… A ideia é conter os avanços da BMW e da Triumph no segmento mais alto.
A Norge GT é, como a sigla indica, uma GranTurismo – expressão, diga-se, do mais puro italiano. Usa o mítico e exclusivo motor V2 transversal que, com a transmissão por eixo cardã, é a marca registrada das Guzzi. O V2 tem reputação de elevada confiabilidade e de ser uma usina de torque generoso em todas as faixas de rotação. Ele tem o mesmo efeito giroscópico sentido nas BMW boxer, uma ligeira torção da moto para a direita, acompanhando o sentido do virabrequim, mais facilmente percebido quando se acelera com a moto parada.
A Norge tem esse nome em homenagem à expedição que, em 1928, com motos da marca, alcançou o Círculo Polar Ártico, depois de uma jornada de mais de 6500 km. Com 102 cv, 10,6 “quilos” de torque e farto apoio eletrônico, é um excelente pacote de prestígio, tradição, segurança e conforto. Não é uma moto cara. Custa quase 17 000 dólares nos Estados Unidos. Concorre diretamente com a clássica alemã BMW R 1200 RT, que custa por lá 17 350 dólares com ABS (83 533 reais no Brasil), e com a Kawasaki Concours 14 ABS, de 16200 dólares por lá (76 800 reais aqui). Uma Gold Wing custa 24 000 dólares e a Harley-Davidson Ultra Classic Electra Glide fica entre 21800 e 22800 dólares na terra do Tio Sam, dependendo da pintura escolhida. No mercado brasileiro custam, respectivamente, 92 000 reais (a Honda) e 61 270 reais (a H-D Ultra).
A nova Guzzi Norge tem design marcadamente clássico, com linhas sensualmente arredondadas, em um jogo de volumes de traseira curta e elegante em contraponto às generosas dimensões da seção frontal, das carenagens e do tanque.
A marca de Mandello di Lario caprichou no charme latino para desafiar o rigor germânico da BMW R 1200 RT. O resultado oferece boa proteção aerodinâmica para condutor e passageiro, com amplas carenagens que desviam a pressão de ar para sob as pernas e escoam o calor do motor para baixo, sem incomodar os ocupantes.
A ergonomia melhorou, respondendo às críticas de vários utilizadores deste modelo, lançado pela primeira vez em 2006. A versão 2012 adota banco amplo e mais confortável, guidão um pouco mais alto e avançado, manetes reguláveis e painel de instrumentos também em posição mais alta e para a frente, melhorando a legibilidade.
A bolha oferece possibilidade de regulagem elétrica em até 10 cm, embora o acionamento, com um botão de cada lado do guidão e longe dos polegares, exija que se retire a mão para subir ou descer a proteção. Vá lá que é equipamento de série, tal como os punhos aquecidos, um atual sistema ABS, tomada de 12V, malas laterais e descanso central. Um alto nível de itens de série, que eleva a ótima relação qualidade/preço…
A Norge GT tem boas características também na cidade. O fácil acionamento do cavalete central ajuda a esquecer as dificuldades de colocar a moto no descanso lateral, escondido debaixo do quadro e sem um extensor que ajude, sobretudo, os mais curtos de pernas. As duas malas laterais têm desenho bem integrado e generosa capacidade de carga – dá até para levar dentro um capacete pequeno. Podem ser removidas para condução urbana.
A adoção de cabeçotes com quatro válvulas por cilindro melhorou o pulmão da italiana, tal como havia sucedido antes com a aplicação deste bloco Quattrovalvole nas versões Griso e Stelvio, com inegáveis ganhos nos regimes médios, respostas mais rápidas ao acelerador, maior regularidade de funcionamento, menores vibrações e menor nível de ruído.
Os cabeçotes multivalvulados, ao lado de novos ajustes no sistema de gerenciamento eletrônico do motor, de comandos de válvulas de novo perfil e do sistema de escape redesenhado, permitiram elevar a potência em 7 cv em relação à versão anterior, além de um acréscimo de torque de expressivos 20% em todas as faixas de rotações. Na prática, essas mudanças contribuem para viagens com serenidade e prazer, independentemente da distância, com respostas prontas e grande vivacidade nos regimes intermediários.
Viajando a 5 000 rpm – o que na última das seis relações da bem escalonada caixa permite velocidades de cruzeiro bem interessantes -, desaparece completamente a ligeira vibração que se nota nas velocidades mais baixas e que volta a surgir, sem incomodar, quando o ponteiro do conta-giros se aproxima da red zone. Essa suavidade reduz o cansaço nas tiradas mais longas, em todo tipo de estrada, das vias rápidas às mais intrincadas estradinhas de montanha. O câmbio tem acionamento suave e preciso, facilitado pela embreagem de funcionamento bem leve.
O garfo recebeu molas mais duras, que proporcionam à Norge grande firmeza e precisão, aumentando a possibilidade de explorar os pneus Pirelli Angel ST na busca de corajosos ângulos de inclinação. E, embora sem ambições esportivas, a Moto Guzzi Norge GT 8V oferece momentos de prazer quando o ritmo acelera, mesmo a dois, bastando regular o sistema de amortecimento, operação bastante fácil de executar manualmente.
Os freios, dois discos de grande diâmetro e pinças de quatro pistões Brembo na dianteira, em associação com o ABS de série, mostram progressividade e eficácia em todas as situações e grande resistência à fadiga.
Destaque para o painel de instrumentos, com três mostradores redondos de desenho clássico aliados ao completo painel LCD, com informações que vão do consumo instantâneo à média horária da viagem, da temperatura do ar ao cronômetro. Mas não há indicador da marcha engrenada ou da temperatura do motor.
Pensada para viajantes de longo curso, a Moto Guzzi Norge GT 8V oferece muito conforto, mas sem descartar a eficiência dinâmica, que permite uma tocada mais esportiva. Charmosa e mais ágil no bailado de curva em curva,
TOCADA
Equilibrada, tem excelente estabilidade, bons freios e suspensões reguláveis.
★★★★
DIA A DIA
Seu lugar é na estrada, porém ela não é das piores da categoria para ir trabalhar eventualmente – retirando-se os alforjes.
★★
ESTILO
Diferentemente das japonesas, tem curvas mais sinuosas e formas bem arredondadas. Possui uma elegância própria, à italiana.
★★★
MOTOR E TRANSMISSÃO
Melhorou muito com a adoção de mais duas válvulas por cilindro. Sua transmissão final por cardã é o que há de melhor.
★★★★★
SEGURANÇA
Com sistema de freio Brembo que traz duplo disco na dianteira, com pinças de quatro pistões opostos e ABS, a Norge não tem problemas para parar.
★★★★★
MERCADO
No Brasil ainda não há previsão de chegada, mas, pela exclusividade, poderia surgir como opção interessante para enfrentar a concorrência.
★★