Nosso BYD Dolphin e os problemas da rede de carregadores do Brasil
Antigas redes de carregadores estão sendo removidas e é preciso estar atento aos relatos de usuários para não passar perrengue nas estradas
O primeiro carregador onde recarregamos nosso BYD Dolphin não existe mais. Era um carregador AC de 7 kW, gratuito, da rede da BMW (agora limitada às concessionárias e a alguns poucos estabelecimentos), mas nem o carregador pago da Tupi no mesmo local, um supermercado St. Marche, na zona sul de São Paulo, permaneceu. Em compensação, a 500 metros dali, o fast-food Jeronimo instalou um carregador rápido de 60 kW em seu estacionamento e se tornou a melhor opção nos arredores. A mudança foi para melhor.
Hoje, há inúmeras redes de carregadores e boa parte delas tem um app próprio. Nosso BYD já tem 12 logins de aplicativos de recarga e instalar cada um deles é um inconveniente extra para os usuários. A falta de integração entre os operadores de carregadores leva a esse problema, que começa a ser minimizado por carregadores capazes de identificar o carro e fazer a cobrança automaticamente – presente nos carregadores mais novos da BYD.
Um dos apps é o WeCharge, que administrava o carregador de 175 kW do Graal Topázio (Limeira, SP), o mais próximo da nossa pista de testes. O aplicativo nos notificou, três semanas antes, que aquele carregador seria removido.
É um caso mais grave: ele fazia parte da Plug&Go, uma parceria entre Porsche, VW, Audi e a EDP (fabricante do carregador), que formou aquela que era a maior rede de carregadores ultrarrápidos do Brasil quando lançada, em 2020: eram 11 carregadores de alta potência distribuídos por estradas do Rio de Janeiro, de Minas Gerais, de São Paulo e Paraná. Todos foram removidos em julho.
Com o fim deste projeto, Porsche, Audi e VW se uniram à Raízen, há dois anos, para instalar 20 carregadores. Já a rede Graal está instalando 74 em suas unidades espalhadas pelo Brasil, em iniciativa própria.
Pode ser efeito de um amadurecimento da rede de carregadores: saem os “laboratórios de teste” e chegam os negócios já estabelecidos. Esta movimentação exige atenção de quem dirige elétricos.
No dia a dia, também é necessário contar com a sorte. Não basta conferir nos aplicativos se o carregador está operante e disponível: ao conectar o carro, pode acontecer de a recarga não ser iniciada. Foi o que ocorreu no carregador da Shell Recharge do Posto Serra Azul, em Itupeva (SP), que tinha uma posição livre, mas não iniciava o carregamento do nosso Dolphin. Após algumas tentativas, um frentista veio até nós avisar que aquela instalação só carrega um carro por vez – já havia um BYD Yuan Plus recarregando. Depois encontrei esse aviso no PlugShare, um aplicativo onde os usuários de carregadores compartilham as experiências e a situação de cada carregador.
Neste caso, o Dolphin ainda tinha autonomia para percorrer mais 10 km até o Graal 56. Nosso carro até recarregou, mas o carregamento parou automaticamente ao somar R$ 60: o app Eletrograal exige uma cobrança adiantada estipulada pelo usuário e eu havia estipulado R$ 120, mas a plataforma ignorou isso. Deixei o relato no PlugShare e dias depois um dono de Dolphin Mini me enviou uma mensagem questionando se estavam estornando a diferença – e a resposta é: sim, estornam.
Os contratempos não acontecem apenas em rodovias. O editor de arte Fabio Paiva teve problemas para recarregar o Dolphin dentro de São Paulo.
“Eu precisava recarregar o carro antes de voltar para casa, em Indaiatuba. O carregador rápido mais conveniente perto da sede da Abril fica na Rua Alvorada, na Vila Olímpia, e é operado pela Easy Volt. O local tem vários carregadores rápidos, mas nenhum iniciava o carregamento do Dolphin. Então notei que há dois aplicativos da mesma empresa e o carro tem login nos dois, mas nenhum dos dois aplicativos foi capaz de iniciar o carregamento”, relatou. Fabio ainda disse que, por estar sozinho, um local ermo, e pela lembrança dos assaltos recorrentes ali, no início dos anos 2000, guardou sua aliança e seu relógio no porta-luvas antes de sair do carro para conectá-lo ao carregador.
O que ele fez foi buscar outro carregador próximo. No caso, um Shell Recharge na Avenida dos Bandeirantes. “Lá, um dos dois carregadores também estava fora do ar e eu tive de aguardar um BYD Dolphin sair para poder iniciar a carga do nosso. Não dá para contar com a sorte. E se chego no carregador da estrada e ele não funciona? Estaria sem autonomia para um próximo ponto de recarga”, pontuou Fabio.
Nosso BYD Dolphin continua invicto, nunca foi guinchado. Mas nossas experiências com carros elétricos continuam somando capítulos. Uma das lições é planejar uma viagem da mesma forma que um piloto de avião faz seu plano de voo. Se ele mapeia onde poderá pousar, com a autonomia restante, caso o aeroporto de destino feche, o motorista de carro elétrico também precisa saber alternativas viáveis ao carregador onde planeja parar.
BYD Dolphin – 29.076 km
| Versão | GS 180 EV |
| Motor | elétrico, diant., transversal, síncrono, 95 cv, 18,4 kgfm |
| Câmbio | automático, 1 marcha, tração dianteira |
| Revisões | até 100.000 km: grátis |
| Seguro | R$ 1.570 |
| Consumo | No mês: 7 km/kW, com 41,7% de rodagem na cidade
Desde jan/24: 6,4 km/kW, com 49,2% de rodagem na cidade |
| Carregamento | 241 kW, 35h15min, R$ 583 |
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